23 Fevereiro 2024
"Nego categoricamente as acusações tornadas públicas. Até onde sei, nunca cometi gestos inapropriados contra ninguém, menores ou adultos. Minha alma e minha consciência estão em paz diante das acusações que rejeito. Comprometo-me a respeitar o processo da ação coletiva em curso". São as palavras de Dom Gerarld Cyprien Lacroix, cardeal arcebispo de Quebec e primaz do Canadá.
A reportagem é de Lorenzo Prezzi, publicada por Settimana News, 22-02-2024.
Em 30 de janeiro, uma onda de choque atravessou a Igreja local devido às acusações de uma mulher, na época com 17 anos, que denunciou "toques" por parte do cardeal em 1987 e 1988, quando ele ainda não era padre.
É uma das últimas denúncias de uma ação coletiva que envolve 147 vítimas de cerca de cem homens da Igreja da diocese de Quebec entre 1940 e 2018. Por mais de um ano, o grupo de advogados das vítimas tem estado envolvido em uma solução extrajudicial com a diocese. No entanto, com o envolvimento do cardeal, eles consideram difícil evitar o confronto nos tribunais e interromperam as negociações.
Por sua parte, Lacroix decidiu "se retirar temporariamente das atividades na diocese. Não é uma renúncia, mas uma suspensão temporária para permitir uma melhor avaliação dos passos a serem dados e das decisões a serem tomadas".
Como um forte defensor da necessidade de denunciar os abusos e de responder às expectativas financeiras das vítimas, o cardeal acrescenta: "Sinto a sua raiva. Ela 'habita' em mim e me impulsiona a fazer o possível para facilitar o seu caminho em direção à paz interior. Estamos determinados a cuidar uns dos outros, a vigiar e a impedir que situações de abuso se reproduzam".
O presidente da conferência episcopal do país, Dom William McGrattan, e a diocese envolvida iniciaram os procedimentos canônicos previstos: "Embora a natureza do que está sendo imputado (ao cardeal) permaneça um pouco nebulosa e a identidade da pessoa acusadora permaneça secreta, os responsáveis pela diocese iniciaram os processos internos previstos pelo motu proprio Vos estis lux mundi. O assunto já foi comunicado ao Santo Padre e aguardamos o desenrolar do processo canônico".
Mesmo diante da interrupção das negociações extrajudiciais, os responsáveis diocesanos pretendem cooperar e reafirmam a vontade de contribuir para a cura das vítimas, mantendo-se abertos também à retomada das negociações com os advogados.
Gérald Cyprien Lacroix nasceu em 1957 e participou por muito tempo do Instituto Secular São Pio X. Foi missionário na Bolívia por quase uma década, antes de retornar para dirigir o Instituto. Nomeado bispo em 2009, é arcebispo metropolitano de Quebec desde 2011 e cardeal desde 2014. Ele faz parte do conselho dos nove cardeais encarregados de aconselhar o Papa sobre as questões mais relevantes.
A questão dos abusos pesa sobre as dioceses canadenses, ainda mais agravada pelas denúncias relacionadas aos internatos que acolhiam, até a década de 1960, crianças dos povos indígenas, das quais foram descobertas milhares de sepulturas ao redor das instituições, propriedade do estado e em grande parte administradas pela Igreja Católica.
Além disso, há o processo por abusos envolvendo o Cardeal Marc Ouellet, ex-prefeito do dicastério dos bispos. Uma senhora, Pamela Groleau, o acusou de abuso sofrido entre 2008 e 2010. À denúncia se juntaram outras duas mulheres. O cardeal respondeu processando-as por calúnia.
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Canadá: os abusos e o cardeal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU