25 Outubro 2023
"Neste horizonte situamos o propósito da obra: Encíclicas sociais: um guia de leitura (Paulinas, 2023, 376 páginas), escrita magistralmente pelo doutor em Teologia Francisco de Aquino Júnior. Como bem indica o subtítulo, o livro pretende ser um guia de leitura das encíclicas sociais. A leitura atenta do conjunto das encíclicas sociais em seus respectivos contextos socioeclesiais ajuda a compreender a especificidade de cada encíclica, mas também de perceber a lógica e o dinamismo do desenvolvimento do magistério social da Igreja, que tem nas encíclicas sociais sua expressão mais elaborada e emblemática", escreve Eliseu Wisniewski, presbítero da Congregação da Missão (padres vicentinos) Província do Sul, mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), em resenha crítica do livro Encíclicas sociais: um guia de leitura, de Francisco de Aquino Júnior (2023). O artigo foi enviado pelo autor ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU.
Se o conjunto das reflexões e dos ensinamentos do magistério em matéria social constitui o que chamamos "magistério social", um capítulo particularmente importante no magistério social da Igreja são as encíclicas sociais. As encíclicas sociais têm uma importância muito grande na reflexão sobre a presença e atuação da Igreja na sociedade: seja no sentido de explicitar e reafirmar a dimensão social da fé e da evangelização seja no sentido de historicizar essa dimensão social da fé em situações e contextos bem concretos. Ao mesmo tempo em que é a expressão da preocupação e do envolvimento da Igreja com os problemas da sociedade, essas encíclicas se tornaram ocasião e lugar privilegiados de sistematização e elaboração do magistério social da Igreja. Daí sua importância fundamental no magistério social da Igreja, bem como na pastoral e na teologia sociais como um todo.
As encíclicas sociais se constituem expressão privilegiada de desenvolvimento, sistematização e difusão do magistério social, a ponto de muitas vezes se identificar o magistério social com as encíclicas sociais. Ao mesmo tempo em que recolhem e sistematizam reflexões desenvolvidas ao longo do tempo pelo magistério e pelo conjunto da teologia, na medida em que confrontam essas reflexões com situações sociais concretas, procurando compreendê-las à luz da fé e orientar a ação dos cristãos nessa realidade, as encíclicas sociais reelaboram e enriquecem o ensino social da Igreja.
Neste horizonte situamos o propósito da obra: Encíclicas sociais: um guia de leitura (Paulinas, 2023), escrita magistralmente pelo doutor em Teologia Francisco de Aquino Júnior. Como bem indica o subtítulo, o livro pretende ser um guia de leitura das encíclicas sociais. A leitura atenta do conjunto das encíclicas sociais em seus respectivos contextos socioeclesiais ajuda a compreender a especificidade de cada encíclica, mas também de perceber a lógica e o dinamismo do desenvolvimento do magistério social da Igreja, que tem nas encíclicas sociais sua expressão mais elaborada e emblemática. Dada a importância fundamental das encíclicas sociais no conjunto do magistério social, bem como do magistério social na teologia social como um todo, segundo o autor, vale a pena dedicar-se ao estudo atento das encíclicas sociais, no que cada uma delas tem de próprio/específico e no que tem de novidade em relação a outras encíclicas sociais e ao conjunto do magistério social.
AQUINO JÚNIOR, Francisco de. Encíclicas sociais: um guia de leitura. São Paulo: Paulinas, 2023, 376 páginas (Foto: Divulgação)
Assim sendo, neste estudo de caráter histórico-analítico cada capítulo trata de uma encíclica social, seguindo a ordem cronológica de sua publicação:
1. Rerum Novarum do papa Leão XIII, sobre a "condição dos operários" – 15 de maio de 1891 (p. 19- 41)
2. Quadragesimo Anno do papa Pio XI, "sobre a restauração e aperfeiçoamento da ordem social em conformidade com a lei evangélica" – 15 de maio de 1931 (p. 43-69)
3. Mater et Magistra do papa João XXIII "sobre a evolução da questão social à luz da doutrina cristã" – 15 de maio de 1961 (p. 71-99)
4. Pacem in Terris do Papa João XXIII, "sobre a paz de todos os povos na base da verdade, justiça, caridade e liberdade" – 11 de abril de 1963 (p. 101-128)
5. Populorum Progressio do Papa Paulo VI, "sobre o desenvolvimento dos povos" – 26 de março de 1967 (p. 129-153)
6. Octogesima Adveniens do Papa Paulo VI – dirigida/endereçada ao Cardeal Maurice Roy, presidente da Comissão Pontifícia Justiça e Paz e do Conselho de Leigos – 14 de maio de 1971 (p. 155-179)
7. Laborem Exercens do Papa João Paulo II, "sobre o trabalho humano" – 15 de maio de 1981 (p. 181-209)
8. Sollicitudo Rei Socialis do Papa João Paulo II, "sobre a solicitude social da Igreja" – 30 de dezembro de 1987 (p. 211-239)
9. Centesimus Annus do Papa João Paulo II, "por ocasião do centenário da Encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII" – 1º de maio de 1991 (p. 241-269)
10. Caritas in Veritate do Papa Bento XVI "sobre o desenvolvimento humano integral na caridade e na verdade" – 29 de junho de 2009 (p. 271-302)
11. Laudato Si' do Papa Francisco, "sobre o cuidado com a casa comum" – 24 de maio de 2015 – (p. 303-333)
12. Fratelli Tutti do Papa Francisco, "sobre a fraternidade e a amizade social" (p. 335-368)
O estudo de cada uma destas encíclicas segue uma estrutura padrão. Começa tratando do contexto histórico em que ela se insere e com o qual interage: contexto social mais amplo e contexto eclesial mais específico. Em seguida, passa a tratar do texto tal como foi publicado, procurando identificar sua estrutura externa (ordem dos capítulos) e interna (lógica argumentativa) e oferecendo um resumo de seu conteúdo. Por fim, traz alguns destaques que ajudam a perceber e compreender melhor algumas características e especificidades do texto: assunto, estrutura, conteúdo, enfoque -, no contexto mais amplo do magistério social desenvolvido nas encíclicas sociais.
Enquanto "guia de leitura" das encíclicas sociais, este estudo está centrado na especificidade de cada encíclica em seu respectivo contexto. Mas, na medida em que essas encíclicas sociais estão inseridas no contexto mais amplo do magistério social da Igreja, precisam ser compreendidas no dinamismo e na lógica que presidem o desenvolvimento histórico do magistério social da Igreja.
Da Rerum Novarum à Fratelli Tutti... Certamente este livro que preenche uma lacuna sobre os ensinamentos sociais em nossos contextos eclesial e acadêmico oferece um roteiro reflexivo e didático sobre esse gênero de ensino e contribuirá para uma melhor compreensão do magistério social da Igreja, ajudará, ainda, os leitores no entendimento de que o magistério social da Igreja através das encíclicas sociais estão inseridas no contexto mais amplo da Tradição viva da Igreja, pois são parte constitutiva da Tradição (dimensão social da fé e da evangelização) que, enquanto, processo vivo e dinâmico, vai sendo enriquecida ao longo da história no discernimento das novas situações e no enfrentamento dos novos desafios.
O livro de Francisco Aquino Júnior é uma expressão coerente e didática do que o Compêndio da Doutrina Social da Igreja compreende e define como "natureza da doutrina social": "A Doutrina Social da Igreja não foi pensada desde o princípio como um sistema orgânico; mas foi se formando pouco a pouco, com progressivos pronunciamentos do magistério sobre temas sociais. Tal gênese torna compreensível o fato de que tenham podido intervir algumas oscilações acerca da natureza, do método e da estrutura epistemológica da Doutrina Social da Igreja" (n. 72).
Levando em consideração que o magistério social é apreendido e desenvolvido como parte e dimensão da missão evangelizadora da Igreja, diante do desinteresse pelo Ensino Social da Igreja, de desconfiança irônica diante da caridade dos outros e do desequilíbrio de energia despendida entre os pilares da Liturgia, da Palavra e da Caridade esse "guia de leitura" das encíclicas sociais é uma provocação para uma melhor compreensão da dimensão social da fé e da ação evangelizadora da Igreja e um insistente convite para fortalecer e dinamizar na lógica do Evangelho de Jesus Cristo, o compromisso dos cristãos e do conjunto da Igreja com os processos de transformação da sociedade, a partir dos pobres e marginalizados e de suas lutas por direitos e justiça social.
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