12 Mai 2023
O diretor de conservação do WWF UK está visitando a Colômbia para buscar uma solução global para proteger um dos principais ecossistemas do mundo. Ele vê nos governos Lula e Petro uma janela de oportunidade.
Mike Barrett (54 anos, Londres) é diretor de ciência e conservação do WWF Reino Unido e coautor do relatório Living Planet 2022, documento publicado no ano passado que indica que, desde 1970, em todo o mundo, houve uma queda de 69% redução das populações de vertebrados.
Mas a queda foi maior na América Latina e Caribe, onde o número chegou a 94%, superando o resto do mundo. Um golpe para uma região que costuma se destacar pela biodiversidade. Durante sua passagem pela Colômbia, que o levará a Bogotá e Guaviare, o especialista conversou com a América Futura sobre a importância da Amazônia para que este planeta continue habitável para os humanos.
A entrevista com Mike Barrett, diretor de ciência e conservação do WWF Reino Unido, é de María Mónica Monsalve S, publicada por El País, 11-05-2023.
No ano passado, o relatório Planeta Vivo do WWF revelou que a redução das populações monitoradas na América Latina e no Caribe foi a mais drástica, chegando a 94%. O que aconteceu na região para liderarmos essa posição vergonhosa?
Eu diria que não é algo vergonhoso para a região, mas para o mundo inteiro, porque os dados que apresentamos no relatório são de 1970. As quedas mais pronunciadas nas populações médias da fauna de vertebrados desde 1970 estão na América Latina , mas se tivéssemos dados de décadas anteriores, mesmo séculos anteriores, veríamos declínios catastróficos na América do Norte e na Europa.
A diferença é que destruímos nossa natureza séculos atrás, enquanto agora a rápida destruição está ocorrendo na América Latina. Outra coisa a ter em mente é que a maior perda de biodiversidade que vemos no hemisfério sul – porque não é só na América Latina – continua sendo impulsionada pelo comportamento dos países da América do Norte e da Europa.
O que aconteceu é que, porque destruímos nossa própria natureza, agora estamos localizando ou exportando essa perda de biodiversidade para outras partes do mundo. Portanto, é um problema coletivo global.
Com a crise climática, é evidente que há uma responsabilidade maior dos países do norte do que dos países do sul. Algo semelhante acontece com a perda da biodiversidade?
Acho que há uma responsabilidade em todos os níveis: local, regional e global. Mas sim. Sabemos que a razão pela qual grande parte da nossa natureza está se perdendo, por exemplo, na Amazônia, se deve ao consumo mundial de matérias-primas, principalmente alimentos, produtos como a soja. Esses produtos estão sendo exportados da Amazônia para a Europa e América do Norte ou China.
Por isso não é lógico que o resto do mundo espere que os países amazônicos resolvam essa crise sozinhos, porque isso exigirá que mudemos nosso comportamento, bem como a forma como consumimos e produzimos. Eu diria que o primeiro passo para lidar com a crise global da biodiversidade é remover as matérias-primas relacionadas ao desmatamento ou insustentáveis das cadeias de suprimentos globais.
O presidente Gustavo Petro falou repetidamente sobre a troca da dívida pela ação climática. Como você vê essa proposta para resolver questões como a crise do clima e da biodiversidade?
Acho que, por um lado, é importante garantir a disponibilidade de financiamento para ajudar os países a superar a crise. Mas, por outro lado, acho que isso é apenas parte da solução. O dinheiro da conservação é apenas isso, dinheiro.
O problema é que não é o dinheiro que necessariamente tem sido usado para atacar o problema na fonte. Se confiarmos apenas na troca de dívidas pela natureza ou na mobilização de fundos internacionais para a conservação, isso não será suficiente por si só, porque os países que realmente possuem a pegada de destruição da natureza não estão sendo envolvidos. Eles não estão sendo obrigados a mudar seu comportamento.
Por que você está visitando a Colômbia?
Dessa vez foi só a Colômbia, mas já tinha passado pelo Brasil e Peru. E, bem, estou aqui porque sei que dentro da Amazônia as motivações que levam ao desmatamento são diferentes, mas também sei que a região, como tal, não reconhece fronteiras.
Precisamos de soluções em toda a Amazônia, e com o WWF, como uma rede global, estamos apoiando o que chamamos de “Amazon push”, que é, essencialmente, devemos reconhecer que o que está acontecendo na Amazônia deve nos manter acordados o tempo todo. à noite. Sabemos pela ciência que existe o risco de se aproximar de um ponto de inflexão no final desta década.
Isso é assustadoramente perto. A Amazônia, além de ser importante do ponto de vista biológico e das pessoas, é importante para todos os cidadãos do mundo porque, como diz o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, sem a Amazônia não haverá solução possível para cumprir o Acordo de Paris. Também sabemos que existe uma lacuna política entre compromissos e planos de ação. Ou seja, limitar o aumento da temperatura do planeta abaixo de 1,5° até o final do século.
Há algo que o surpreendeu no bom senso da Colômbia?
Não é tanto uma surpresa, mas notei uma sensação de oportunidade. Há uma janela política incrível no momento: a aliança dos presidentes Lula e Petro que se comprometeram a combater o desmatamento. O fato de termos uma Cúpula da Amazônia ainda este ano e de haver a possibilidade de a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) ser na Amazônia, no Brasil, é positivo.
E alguma surpresa negativa?
Bem, novamente, não é uma surpresa, mas estou preocupado com a Amazônia. Apesar dessa janela de oportunidade que descrevi, ainda existem muitas pessoas no mundo que acreditam que salvá-lo só pode ser feito dentro da Amazônia, e que é responsabilidade exclusiva dos países que o abrigam. Aliás, essa é uma das razões pelas quais estamos lançando um estudo, ainda este ano, sobre a pegada amazônica.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
“O que está acontecendo na Amazônia deve nos manter acordados a noite toda”, afirma Mike Barret, diretor do WWF - Instituto Humanitas Unisinos - IHU