24 Março 2023
O artigo é de José Antonio Pagola, teólogo e padre espanhol, publicado por Religión Digital, 20-03-2023.
O relato da ressurreição de Lázaro é incrível. Por um lado, Jesus nunca nos é apresentado como humano, frágil e cativante como neste momento em que morre um dos seus melhores amigos. Por outro lado, nunca somos tão diretamente convidados a acreditar em seu poder salvador: "Eu sou a ressurreição e a vida: quem crê em mim, ainda que morra, viverá... Você acredita nisso?"
Jesus não esconde o seu amor por estes três irmãos de Betânia que certamente o acolhem em sua casa sempre que vem a Jerusalém. Um dia Lázaro adoece, e suas irmãs mandam um recado a Jesus: nosso irmão "a quem tanto amas" está doente. Quando Jesus chega à aldeia, Lázaro está enterrado há quatro dias. Ninguém pode trazê-lo de volta à vida.
Foto: Reprodução | Religión Digital.
A família está quebrada. Quando Jesus aparece, Maria começa a chorar. Ninguém pode confortá-la. Vendo os soluços do amigo, Jesus não se contém e também começa a chorar. Sua alma se parte ao sentir a impotência de todos diante da morte. Quem pode nos confortar?
Há em nós um desejo insaciável pela vida. Passamos dias e anos lutando para viver. Apegamo-nos à ciência e, sobretudo, à medicina para prolongar esta vida biológica, mas há sempre uma última doença da qual ninguém nos pode curar.
Nem nos serviria viver esta vida para sempre. Seria horrível um mundo envelhecido, cheio de velhos, com cada vez menos espaço para os jovens, um mundo em que a vida não se renovasse. O que desejamos é uma vida diferente, sem dor nem velhice, sem fome nem guerra, uma vida plenamente feliz para todos.
Hoje vivemos em uma sociedade que foi descrita pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman como “uma sociedade de incertezas”. Nunca o ser humano teve tanto poder para caminhar rumo a uma vida mais feliz. E, no entanto, talvez você nunca tenha se sentido tão impotente diante de um futuro incerto e ameaçador. O que podemos esperar?
Lázaro de Betânia. | Foto: Reprodução | Religión Digital.
Como os seres humanos de todos os tempos, também vivemos cercados pela escuridão. O que é a vida? O que é a morte? Como temos que viver? Como temos que morrer? Antes de ressuscitar Lázaro, Jesus dirige a Marta estas palavras, que são um desafio decisivo para todos os seus seguidores: "Eu sou a ressurreição e a vida: quem crê em mim, ainda que morra, viverá... Crês isto?"
Apesar das dúvidas e obscuridades, os cristãos acreditam em Jesus, Senhor da vida e da morte. Somente nele buscamos luz e força para lutar pela vida e enfrentar a morte. Somente nele encontramos uma esperança de vida além da vida.
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Pagola: “Ansiamos por uma vida diferente, sem dor nem velhice, sem fome nem guerra” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU