21 Dezembro 2022
Cinco mil lenços vermelhos invadiram o Vaticano, mesmo que apenas por algumas horas. Pela primeira vez na história, na manhã de ontem, cerca de 5.000 delegados, ativistas e dirigentes da associação sindical CGIL – usando seus lenços vermelhos - cruzaram a Praça de São Pedro para serem recebidos em audiência pelo Papa Francisco no salão Paulo VI. E ouviram a exortação de Bergoglio “para fazer barulho” sobre “demasiadas mortes no trabalho” que são “uma derrota para a sociedade”, mas também sobre o papel do sindicato: “Não há trabalhadores livres sem sindicato”.
A reportagem é de Nina Valoti, publicada por Il Manifesto, 20-12-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Um encontro que se segue à presença de uma delegação da CGIL na audiência privada de 16 de junho de 2019 e, sobretudo, à grande manifestação pela paz de 5 de novembro na Piazza San Giovanni em Roma, onde dezenas de associações católicas marcharam ao lado do sindicato para dizer não à todas as guerras e pedir mais diplomacia e menos armas para resolver o conflito na Ucrânia.
Naquele dia foram criadas as condições para a audiência geral reservada a toda a CGIL.
Em sua saudação inicial, um emocionado Maurizio Landini agradeceu ao pontífice e afirmou a vontade da CGIL de “ser um sindicato de rua para afirmar os direitos da pessoa nos lugares de trabalho. Seguindo seus ensinamentos encontramos uma grande consonância. A sua busca constante pelo diálogo entre os diferentes, o convite à fraternidade e ao cuidado do próximo são a condição para realizar, aqui e agora, aquela revolução cultural e aquela transformação social que também nós sentimos como necessária para dar um futuro ao nosso planeta”.
O secretário da CGIL ressaltou “a vontade comum de sermos construtores da paz e de pôr fim a uma guerra provocada pela grave invasão russa”. No centro da discussão, porém, está o trabalho, “entendido como realização e dignidade da pessoa”, numa época em que “os direitos e a dignidade de gerações inteiras são espezinhados e a precariedade se torna um eterno presente”. Uma época, aliás, em que as pessoas continuam a morrer no trabalho: "um verdadeiro massacre que deve ser travado".
Por fim, o secretário da CGIL destacou “o caminho que podemos percorrer juntos, leigos e católicos, para mudar uma sociedade fundada na competição, no egoísmo, na exploração, nas múltiplas formas de solidão, para, ao contrário, afirmar o valor da igualdade. Hoje precisamos nos transformarmos em um ‘nós’ que habita a casa comum”.
“É bom esse cara!”, diz-lhe Bergoglio assim que termina o seu discurso, entre um sorriso e aplausos, um dos muitos, da audiência da CGIL que depois entregará ao Papa uma faixa com as palavras “trabalho, paz, fraternidade” nas cores da paz e abaixo uma representação do mundo do trabalho com as bandeiras vermelhas.
O Papa Francisco os exorta a “fazer barulho para dar voz a quem não tem voz”. Aos jovens, aos trabalhadores precários, aos que não têm emprego e também aos que o tem, mas estão insatisfeitos. Para o Santo Padre, a tarefa do sindicato é, portanto, "educar no sentido do trabalho, promovendo a fraternidade entre os trabalhadores", que é o "sal de uma economia sã", ou seja, capaz de "tornar o mundo melhor", porque "desistir de investir nas pessoas é um péssimo negócio para a sociedade”.
Entre as distorções do mundo do trabalho atual, para Bergoglio está “a cultura do descarte”, que invadiu o mundo do trabalho, “onde a dignidade humana é pisoteada pela discriminação de gênero”, pelo sistema de trabalho precário da juventude, pela cultura do excesso, porque os trabalhos mais extenuantes são mal tutelados.
O Papa disse então estar preocupado com a segurança no trabalho e a exploração das pessoas, "como se fossem máquinas de desempenho": "Existem formas de violência, como a contratação ilegal e a escravidão, a obrigação a turnos exaustivos, a pressão nos contratos, o desprezo pela maternidade, o conflito entre trabalho e família. Quantas contradições e quantas guerras entre os pobres se consomem em torno do trabalho”.
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A CGIL com Bergoglio: “Unidos por um trabalho seguro” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU