O artigo é de José Maria Castilho, teólogo espanhol, ex-professor de teologia e Doutor Honoris Causa pela Universidade de Granada, em artigo publicado por Religión Digital, 12-04-2022.
Quem lê o Evangelho logo percebe que o problema da saúde – do ser humano – é o que mais preocupava Jesus . Basta pensar que a palavra "doença" ("astheneia") é repetida no Novo Testamento quase 40 vezes.
Além disso, quando Deus se fez presente neste mundo, na pessoa e na vida de Jesus (Jo 1, 18), a sua dedicação à cura dos enfermos foi tal e tal que desconcertou até João Batista, que enviou dois dos seus seus discípulos a perguntar a Jesus: "És tu que tinhas de vir ou esperamos outro?" (Mt 11, 2). E a resposta de Jesus foi tão desconcertante quanto surpreendente. Jesus não disse “sim” ou “não”. A explicação que deu foi esta: "Dizei a João o que estais a ver e a ouvir: os cegos vêem e os coxos andam, os leprosos são curados e os surdos ouvem, e até os mortos ressuscitam" (Mt 11,5).
A resposta de Cristo não admite dúvidas. Onde o problema de saúde está bem enunciado e efetivamente resolvido, as coisas correm como devem. Onde este problema não for resolvido, na medida do possível, não recorramos a crenças ou observâncias. É por isso que no Evangelho há tantos relatos de curas, que eram os "sinais" ("semeia") (Jo 6, 2), que vinham indicar a solução para os males e desgraças que aquela sociedade tinha de suportar.
E para constar que Jesus deu mais importância à questão da saúde do que à fiel observância do que dizem e mandam os santos do templo sobre a Religião. Um exemplo, entre tantos outros: a cura de um maneta, no sábado, fez com que os homens mais religiosos (fariseus) decidissem matar Jesus (Mc 3, 1-7 par.). E a pura verdade é que Jesus foi morto porque deu vida a um falecido (Lázaro). Foi então que o Sinédrio se reuniu com urgência e emitiu uma sentença de morte contra Jesus (Jo 11, 47-53).
Não há dúvida: o principal problema da sociedade (seja ela qual for) não é o poder nem a economia. É o cuidado com a saúde e com a vida.
É verdade que a nossa Religião e a nossa Igreja fizeram muito pelo cuidado dos doentes, idosos e sofredores. Mas tão certo quanto isso é que os bispos e o clero dão a impressão de estar mais preocupados com a homossexualidade do que com o enorme problema de saúde que a Espanha e o mundo inteiro sofrem. Em todo caso, é um escândalo que a Conferência Episcopal, como estão as coisas, não tenha publicado um documento sério e firme sobre um assunto tão grave e urgente como o que estamos enfrentando com o problema da saúde para todos. E que se saiba que há muitos homens e mulheres da Igreja que deram a vida pelo bem dos outros.