01 Dezembro 2022
No final das discussões realizadas de 28 a 30 de novembro em Luque (Paraguai), uma reunião na qual foi oficializado o lançamento da Rede Eclesial do Gran Chaco e do Aquífero Guarani (REGCHAG), os responsáveis pela nova rede e representantes de cada um dos países presentes, Paraguai, Argentina, Bolívia e Uruguai, deram a conhecer o que viveram durante estes dias.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
Uma rede inspirada em "Laudato Si", no pensamento do Papa Francisco, na Doutrina Social da Igreja, como recordou Dom José Ángel Macín, Bispo de Reconquista e coordenador de REGCHAG, que apelou a "um intercâmbio entre as diferentes organizações da Rede e também através das fronteiras entre as Igrejas dos países que compõem a Rede". Uma Rede que se refere a duas regiões, o Gran Chaco e o Aquífero Guarní, que "têm muitas semelhanças, mas que também têm as suas diferenças".
O bispo argentino salientou que a Rede quer servir o território, aprofundar o conhecimento deste território, e fazer alianças estratégicas. Em relação ao encontro, salientou que tinham sido "dias muito intensos onde foi possível fazer um primeiro diagnóstico da realidade e levantar muitos desafios", procurando juntos o caminho a seguir e o estilo a seguir. Para este fim, foram estabelecidas ligações a diferentes níveis a fim de se poder tomar medidas para proteger o ambiente, a água e os povos indígenas.
Foto: enviada por Luis Miguel Modino.
Uma rede incipiente nas palavras de Dom Pedro Juvenbille, que como vice-presidente da Conferência Episcopal do Paraguai expressou a sua alegria com o lançamento da rede no país. Uma rede que ele vê como se "a própria terra nos convidasse a uma comunhão que transcende fronteiras", recordando situações presentes na região que merecem uma resposta e, ao mesmo tempo, tornando visíveis as experiências que conseguem levá-lo a cabo, promovendo realidades sustentáveis que cuidam da casa comum.
Miguel Cruz recordou que, dada a urgência de acompanhar toda a diversidade dos povos, REGCHAG quer escutar os gritos e poder acompanhá-los em seu caminho face aos diferentes problemas que hoje surgem. O secretário executivo da nova rede afirmou que "queremos aderir ao projeto do Papa Francisco a nível universal como Igreja, o que nos chama a sensibilizar para a questão da ecologia integral". Para tal, apelou a um caminho sinodal e à construção de um espaço onde as vozes sejam ouvidas.
Representando a delegação argentina, a Irmã Rosita Sidasmed, que manifestou o apoio da CLAR e da Vida Religiosa no seu país, vê a rede como "um espaço para responder aos apelos que sentimos nos nossos territórios", que sofrem devastação como consequência da expansão da fronteira agrícola, da exploração mineira a céu aberto, da deflorestação, entre outras situações. A partir daí, apelou à superação das fronteiras para a tomada de ações concretas em relação à ecologia integral, ouvindo o clamor dos territórios e dos povos, sem que os interesses económicos capitalistas e neoliberais atropelassem os direitos. Juntamente com isto, para assumir a economia de Francisco, procurando alternativas.
A líder do povo Guarani, Paulina Cuevas, expressou a sua gratidão pela possibilidade de estar neste espaço eclesial representando os povos indígenas. A indígena boliviana denunciou as feridas que já foram infligidas, e em vista disso sublinhou que "vamos trabalhar em coordenação, de mãos dadas, diante do nascimento da rede", mostrando a vontade dos povos indígenas de acompanhar desde o território, de poder contar a sua cultura, história e identidade, e de deixar uma vida digna para os nossos jovens e crianças. A partir daí, mostrou a necessidade de continuar a trabalhar para que as crianças e os jovens do povo Guarani estejam cientes das situações que estamos a viver em relação à mãe terra.
Estes são territórios onde a população está a atravessar problemas e realidades muito difíceis, segundo José Ibarra, porta-voz da delegação paraguaia, que denunciou que "não são tidos em consideração como sujeitos destes territórios e os seus direitos fundamentais não são considerados". Face a esta realidade, insistiu que "nós, enquanto rede, queremos ter uma atitude de escuta que nos conduza a um compromisso, a ações que temos vindo a identificar aqui", algo que tornará possível melhores condições de vida nos territórios.
Nelson Villareal definiu este processo como algo que leva a repensar na prática, a comprometer-se a reconhecer-se como "parte da corporeidade do território e dos povos", denunciando o facto de existirem coletivos que não são aceites nas nossas sociedades. A partir do conceito de ecologia social a que o Papa Francisco chama "a harmonia da natureza e da sociedade exige que reconheçamos as formas como a natureza está a ser explorada e a sociedade está a ser explorada e excluída". Perante isto, afirmou que "na medida em que nós nos abrimos a uma maneira diferente de ver as coisas, começamos a esperar construir outra prática, outra maneira de nos construirmos como sociedade, de nos construirmos como cultura, e também de nos construirmos como fé cristã".
Tudo o que foi vivido e discutido foi colocado aos pés de Nossa Senhora de Caacupé, padroeira do Paraguai, numa missa celebrada no seu santuário, presidida pelo Cardeal Adalberto Martínez Flores, presidente do episcopado paraguaio, pedindo a intercessão de Maria, para que esta rede possa ajudar a sensibilizar para o cuidado da casa comum no território do Aquífero Guarani e do Gran Chaco.
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Lançamento da Rede Eclesial do Gran Chaco e do Aquífero Guarani - REGCHAG: “Um espaço para responder aos apelos que sentimos nos nossos territórios” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU