23 Junho 2022
"A necessidade de fiscalização amostral e de análise química das águas envasadas decorre, entre outras causas, das possibilidades de contaminações dessas águas", escreve Carlos Augusto de Medeiros Filho, geoquímico, graduado na faculdade de geologia da UFRN e com mestrado na UFPA, em artigo publicado por EcoDebate, 22-06-2022.
Indícios e, portanto, dúvidas quanto a qualidade das águas minerais consumidas em Natal são apresentados por Medeiros Filho (2020). Os dados relatados justificaram a elaboração de propostas de amostragens e análises representativas de águas engarrafadas, expostas para venda em mercados e distribuidores. Esse programa constituiria em uma iniciativa útil e popular e uma maneira segura de garantir para a população, o consumo de águas minerais isentas de concentrações de parâmetros prejudiciais à saúde.
A necessidade de fiscalização amostral e de análise química das águas envasadas decorre, entre outras causas, das possibilidades de contaminações dessas águas. Diduch et al (2012) comentam que a qualidade das águas engarrafadas é resultante de inúmeros fatores, desde a sua composição inicial, passando por um processo de engarrafamento, até às condições em que o produto final é armazenado e transportado.
Em outro artigo, Diduch et al (2011) discutem que as vendas cada vez maiores de águas minerais trazem consigo uma exploração cada vez maior de suas fontes. As consequências disso incluem a deterioração da qualidade das águas subterrâneas, por exemplo, como resultado da entrada de águas subterrâneas adjacentes, muitas vezes expostas à contaminação antrópica. Os autores alertam que não apenas o conteúdo mineral, mas também os níveis de possíveis contaminantes orgânicos devem ser submetidos a constantes medidas de controle de qualidade. Se a água engarrafada não for armazenada nas condições adequadas, ou seja, se for exposta a altas temperaturas e/ou luz solar, pode ser contaminada pelos produtos de degradação do material de que foi feita a garrafa.
Outra defesa de fiscalização analítica em águas engarrafadas pode ser visualizada em Krachler & Shotyk (2009) que relatam que as águas engarrafadas de diversas fontes naturais e industriais estão se tornando cada vez mais populares em todo o mundo. Vários traços de metais potencialmente nocivos (Ag, Be, Li, Ge, Sb, Sc, Te, Th, U) não são monitorados regularmente nessas águas. Como consequência, há dados extremamente limitados sobre a abundância e os potenciais impactos na saúde de muitos elementos potencialmente tóxicos. Os recipientes usados para o armazenamento de águas engarrafadas também podem aumentar os níveis de metais acima dos limites estabelecidos para consumo humano.
Em síntese, sem uma fiscalização química robusta, representativa e transparente, o consumidor não pode tomar uma decisão sobre o uso de água engarrafada ou água da torneira e não pode estar seguro da qualidade da água consumida.
Medeiros Filho, C.A. 2020.
Diduch, M.; Polkowska, Z.; Namies´nik, J. 2012. Factors affecting the quality of bottled water. Journal of Exposure Science and Environmental Epidemiology advance online publication.
Diduch, M.; Polkowska, Z.; Namies´nik, J. 2011. Chemical Quality of Bottled Waters: A Review. Journal of Food Science Vol. 76, Nr. 9.
Krachler, M.; Shotyk, W. 2009. Trace and ultratrace metals in bottled waters: Survey of sources worldwide and comparison with refillable metal bottles. Science of the Total Environment, 1 0 8 9 – 1 0 9 6.
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Fatores de Contaminação de Águas Engarrafadas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU