29 Abril 2022
"Ao contrário da Universidade de Georgetown, Harvard, por enquanto, evitou cautelosamente qualquer abertura para indenizações financeiras a serem direcionadas aos descendentes dos escravos que trabalharam no campus da universidade ou para os seus representantes oficiais", escreve o teólogo e padre italiano Marcello Neri, professor da Universidade de Flensburg, na Alemanha, em artigo publicado por Settimana News, 28-04-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
Instituída em 2019 pelo presidente da Universidade de Harvard L Bacow, a Comissão para Investigar os laços da famosa instituição acadêmica de Boston com a escravidão estadunidense nos séculos XVII e XVIII, terminou seus trabalhos e publicou um Relatório de 134 páginas (mais apêndices).
"Por quase 150 anos, desde sua fundação em 1636 até a decisão da Suprema Corte de Massachusetts em 1783 em que a escravidão foi declarada ilegal, os presidentes de Harvard e outros administradores, como professores e funcionários da universidade, reduziram à escravidão mais de 70 pessoas - algumas das quais eram obrigadas a trabalhar no campus".
O Relatório representa um ponto de partida para investigar, elaborar e reparar o passado escravocrata de Harvard – a exemplo de outras universidades estadunidenses que, nos últimos dez anos, têm se empenhado em esclarecer esse aspecto de sua história acadêmica.
Como primeiro ato, foi disponibilizado um fundo de US$ 100 milhões para ser usado em uma série de atividades que vão desde rastrear descendentes dos escravos de Harvard até a construção de memoriais, da criação de programas de intercâmbio entre Harvard e as universidades afro-americanas do país, da colaboração com colleges dos nativos estadunidenses a parcerias para apoiar escolas em áreas da América do Sul e das Índias Ocidentais.
Estima-se que o valor do fundo seja o mais alto atualmente fornecido por realidades acadêmicas dos EUA para fins relacionados à escravidão - igualado apenas ao disponibilizado pela Conferência dos Provinciais Jesuítas dos EUA da Universidade de Georgetown em Washington para processos de reconciliação racial e em benefício de descendentes de pessoas escravizadas na universidade.
Ao contrário da Universidade de Georgetown, Harvard, por enquanto, evitou cautelosamente qualquer abertura para indenizações financeiras a serem direcionadas aos descendentes dos escravos que trabalharam no campus da universidade ou para os seus representantes oficiais.
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Harvard: o passado escravocrata de uma universidade. Artigo de Marcello Neri - Instituto Humanitas Unisinos - IHU