Mapa da Água – Nova ferramenta da ‘Repórter Brasil’ revela dados inéditos sobre a qualidade da água e permite consulta por cidade: 763 tiveram água imprópria entre 2018 e 2020. Os dados são do Ministério da Saúde.
A reportagem é publicada por EcoDebate, 10-03-2022.
O Mapa da Água, ferramenta criada pela Repórter Brasil, disponibiliza a partir de hoje os dados sobre quantidade de agrotóxicos e outras substâncias perigosas para saúde que estão na nossa água. O mapa revela em quais cidades a água que sai da torneira carregava esses produtos acima do limite fixado pelo Ministério da Saúde.
Para saber em detalhes da água que sai das torneiras, basta acessar o site e buscar pelo nome do município. A ferramenta detalha todas as substâncias que foram encontradas acima do limite na água entre 2018 e 2020 e destaca quais riscos elas oferecem.
No total, 763 municípios tiveram testes consistentes que apontaram substâncias acima do limite. Isso inclui agrotóxicos, substâncias orgânicas, inorgânicas, parâmetros radioativos e, o grupo que se revelou mais problemático: os subprodutos da desinfecção. Essas substâncias são geradas a partir do processo de tratamento da água e aparecem acima do limite em 493 municípios em todo o país.
O mapa também traz um “alerta máximo” para os locais onde a mesma substância esteve acima da concentração máxima permitida por três anos seguidos – um indicativo de contaminação contínua que aumenta os riscos à saúde. No total, 96 municípios receberam o alerta máximo, entre eles São Paulo e Florianópolis.
As informações no mapa são resultados de testes feitos pelas empresas e instituições de abastecimento ao Sisagua (Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano), gerido pelo Ministério da Saúde.
De todas as substâncias que as empresas devem monitorar na água, o Mapa traz os resultados para 65 substâncias químicas e radioativas. Entre as cinco que mais excederam o limite, as duas primeiras são subprodutos da desinfecção.
Abaixo, as informações sobre as cinco substâncias que mais excederam o limite em testes em todo o país de 2018 a 2020.:
Fonte: Mapa da Água | Repórter Brasil; Sisagua | Ministério da Saúde (Foto: Reprodução | EcoDebate)
A descrição de cada substância pode ser encontrada no site do Mapa da Água. Ali, é possível entender as classificações de risco de cada um delas, assim como as atividades econômicas em que essas substâncias são utilizadas. O nitrato, por exemplo, terceira que mais excedeu o limite na água do país, é usado na fabricação de fertilizantes, conservantes de alimentos, explosivos e medicamentos. Ele é classificado como “provavelmente cancerígeno” pela Organização Mundial da Saúde.
Para facilitar o entendimento, no mapa, as substâncias foram divididas em dois grandes grupos:
- Substâncias com os maiores risco de gerar doenças crônicas, como câncer: nesse grupo estão as substâncias que foram classificadas como “reconhecidamente” ou “provavelmente” cancerígenas, disruptoras endócrinas (que desencadeiam problemas hormonais) ou causadoras de mutação genética. Segundo o Ministério da Saúde, esse risco existe quando estão acima da concentração máxima permitida. Cada país define o seu limite de segurança.
- Substâncias que geram riscos à saúde: esse grupo reúne todas as outras substâncias que, segundo o Ministério da Saúde, oferecem risco à saúde se consumidas em doses superiores às permitidas. Aqui estão substâncias que aumentam o risco de alterações no sistema nervoso central e periférico, que podem causar doenças renais, cardíacas e respiratórias, entre uma série de outros comprometimentos à saúde. Segundo o Ministério da Saúde, o risco existe quando estão acima do limite de segurança.
O mapa traz também um “alerta máximo” para os locais onde a mesma substância esteve acima da concentração máxima permitida por três anos seguidos – um indicativo de contaminação contínua que aumenta os riscos à saúde. Esse é o cenário mais arriscado para o desencadeamento das doenças. No total, 96 municípios estão nesta categoria.
Para saber onde isso ocorreu, basta buscar por este selo no topo da página de cada cidade:
Foto: Reprodução | EcoDebate
O estado de São Paulo foi aquele com mais substâncias químicas e radioativas acima do permitido. No total, foram 1.298 detecções acima da concentração permitida. São Paulo também foi o estado que mais testou a sua água: 763.595 testes consistentes, equivalente a 45% de todos os testes no país neste período. Em seguida, aparecem Paraná e Espírito Santo.
Fonte: Mapa da Água | Repórter Brasil; Sisagua | Ministério da Saúde; 2018-2020 (Foto: Reprodução | EcoDebate)
O principal problema de São Paulo, assim como do resto do país, são os produtos que derivam do processo de desinfecção da água, usados justamente para limpeza e descontaminação. No total, foram 965 acima do permitido.
Fonte: Mapa da Água | Repórter Brasil; Sisagua | Ministério da Saúde; 2018-2020 (Foto: Reprodução | EcoDebate)
O Ceará é o pior estado do país proporcionalmente, quando se leva em conta o percentual de testes com substâncias acima do limite. O estado detectou problemas na água em 5,11% dos 2.956 testes. Em seguida, aparecem o Espírito Santo (com 2,75% dos testes acima do limite) e Paraíba (1,34% acima do recomendado).
Fonte: Mapa da Água | Repórter Brasil; Sisagua | Ministério da Saúde; 2018-2020 (Foto: Reprodução | EcoDebate)
Considerando apenas agrotóxicos, o Paraná é o estado onde apareceram mais resultados acima do limite. Foram 47 testes acima do limite permitido, o equivalente a 0,04% do total dos testes consistentes feitos. Em seguida, em números absolutos, aparecem São Paulo (com 15 testes com substâncias acima do limite) e Goiás (com 11). Sete estados onde a água foi testada para agrotóxicos não tiveram resultados impróprios.
Entre 2018 e 2020, o mapa revela um total de 50 cidades com pesticidas acima do limite. Esses casos exigem cuidado dobrado devido à periculosidade: 21 dos pesticidas presentes na água do Brasil são proibidos na União Europeia e 5 são considerados “substâncias eternas” – tão resistentes que nunca se degradam.
Fonte: Mapa da Água | Repórter Brasil; Sisagua | Ministério da Saúde; 2018-2020 (Foto: Reprodução | EcoDebate)
As empresas de abastecimento são obrigadas, por lei, a fazer testes para monitorar a presença na água de agrotóxicos, parâmetros radioativos, substâncias orgânicas, inorgânicas, subprodutos de desinfecção e as chamadas “substâncias organolépticas” – que geram alterações que podem ser facilmente percebidas pelo sabor, cheiro e cor da água.
Apesar do envio ser obrigatório, nem sempre acontece: mais da metade dos municípios brasileiros têm problemas no envio dos dados à autoridade de saúde responsável. Alguns enviaram menos do que o mínimo obrigatório. Outros sequer enviaram.
A maioria deles se encontram concentrados na Região Norte. Em quatro dos seis estados da região nenhum dado foi enviado ao ministério. Não há informações sobre a qualidade da água no Acre, no Amapá, em Rondônia e em Roraima. Já no Nordeste, o Rio Grande do Norte e Alagoas carecem de qualquer informação a respeito da qualidade da água.
O Mapa da Água é uma ferramenta desenvolvida pela Repórter Brasil que revela resultados de testes feitos na água tratada que detectaram substâncias químicas e radioativas que podem oferecer risco à saúde. Ele destaca casos em que o volume dessas substâncias estava acima da concentração máxima permitida, que é quando elas passam a oferecer risco, segundo parâmetros do Ministério da Saúde.
O Mapa é resultado de um esforço interdisciplinar de pesquisadores, jornalistas de dados, programadores e designers. Contou ainda com a colaboração de especialistas com experiência no banco de dados do Sisagua e na vigilância da qualidade da água.
A Repórter Brasil é uma organização fundada em 2001 por jornalistas, cientistas sociais e educadores com o objetivo de fomentar a reflexão e ação sobre a violação aos direitos fundamentais dos povos e trabalhadores no Brasil.