Breves do Facebook

Foto: Pixabay

21 Fevereiro 2022

 

Valeria Aguilar

 

Dia 22!

 

Victor Galdino 2

[AULA ABERTA]

Achille Mbembe: Necropolítica e a provação do fratricídio. Dia 22/fev às 19h no canal do Laboratório Filosofias do Tempo do Agora. 

 

Aula recomendada para quem tiver interesse em ver como o conceito mais popular de Mbembe se encaixa no todo de sua obra, indo muito além de uma caracterização do exercício do "poder de matar". Vamos passar por assuntos como a reencenação da necropolítica mesmo após o fim jurídico da colônia, a produção dos espaços e da espacialidade que servem à naturalização do necropoder e - o mais importante - o dilema ético que a circulação infinita da violência faz surgir na pós-colônia africana: a provação do fratricídio.

Agradeço quem puder ajudar na divulgação e doação de qualquer valor para a realização da aula - mesmo que seja cinco, dez reais. A chave para doação via Pix é: 41.759.122/0001-43.

 

Cesar Benjamin

 

A Europa é deficitária em energia e leva a sério a necessária transição para uma matriz energética mais limpa.

A Rússia é superavitária em energia, incluindo gás natural, uma fonte limpa.

A Europa precisa comprar e a Rússia quer vender. Em um empreendimento conjunto, os dois lados construíram um novo gasoduto, bem maior que o anterior e que está pronto para operar.

Quando isso ocorrer, a Alemanha importará da Rússia 60% de sua energia. Isso consolidará uma parceria de longo prazo entre as duas grandes nações, com múltiplas dimensões.

Os Estados Unidos não querem permitir que isso ocorra. Quem conhece a história da diplomacia sabe que manter Alemanha e Rússia separadas sempre foi um dos objetivos estratégicos mais relevantes da política externa americana.

Os Estados Unidos precisam incrementar a tensão no coração da Europa e, no limite, deflagrar uma guerra ali. Biden já declarou, mais de uma vez, que não deixará o novo gasoduto operar.

A Ucrânia é o pretexto da vez.

É patético o contorcionismo das agências de notícias e dos nossos jornais para esconder uma verdade tão simples.

 

Vinicius Torres Freire

 

Ucrânia tem 17% das exportações mundiais de milho. Rússia e Ucrânia, 30% do trigo. Rússia, 11% do petróleo. Do gás que importa, a União Europeia compra 47% da Rússia. Se tiver guerra, o rolo econômico iria bem além dessas continhas. Mas dá pra ter uma primeira ideia do tamanho do problema.

Guerra mesmo, porém, tem desenvolvimentos e efeitos imprevisíveis. Para começar, pode ter tumulto financeiro e no petróleo. Tumultos financeiros, a depender de tamanho e duração, podem dar em acidentes maiores. Petróleo caro, em inflação ainda maior.

"Guerra mesmo": um conflito de exércitos grandes, uma tentativa russa de anexar Donetsk e Lugansk (o leste da Ucrânia), de atacar Kiev.

Pode ser um fiasco russo; pode ter desdobramentos para outros lugares, refugiados em massa etc., a gente nunca sabe até onde pode ir a loucura.

Coloquei uns numerozinhos na mesa para dar uma ideia do impacto imediato em preços. Pode ser muito pior.

Na coluna da Folha, mais explicações etc. Cliquem lá, link no primeiro dos comentários.

 

Cesar Benjamin

 

Não tenho palavras para descrever a histeria promovida pelas agências de notícias internacionais e a subserviência da imprensa brasileira. Ontem havia dois fatos relevantes no front ucraniano: os contingentes russos terminavam suas manobras (em território russo) e começavam a retornar às suas bases, enquanto 700 mil cidadãos russos estavam sendo removidos de Donetsk para escapar do bombardeio ucraniano. Diante desses fatos, o Estado de S. Paulo escolheu a seguinte manchete: “Separatistas russos fazem uma série de ataques no leste da Ucrânia: conflito interno se agrava e Biden diz que Putin decidiu invadir.”

Esse humilhante alinhamento da imprensa me confirma a impressão de que os Estados Unidos decidiram firmemente escalar a guerra, mesmo sem participar dela. Ontem, escrevi a um amigo: "Os Estados Unidos estão buscando tornar inevitável uma intervenção russa na Ucrânia. Assim, conseguirão melar toda a relação da Rússia com a Europa e entregar um imenso abacaxi -- a própria Ucrânia, um Estado falido -- para a Rússia gerenciar. Com isso, a Rússia só perde. Resta saber como Putin vai manobrar para escapar desta armadilha."

A imprensa é parte dessa engrenagem de guerra. O que estamos vendo só tem paralelo com a máquina de propaganda nazista. Se você acha que estou exagerando, leia o meu post abaixo, publicado em abril de 2020.

 

Cesar Benjamin

 

Um dos aspectos mais impressionantes do livro “LTI: a linguagem do Terceiro Reich”, de Victor Klemperer, que a Contraponto publicou, é nos permitir conhecer o discurso nazista, tal como ele se desenvolveu do início do movimento até o fim da Segunda Guerra Mundial.

Klemperer foi um professor de filologia que permaneceu na Alemanha observando atentamente o uso das palavras pelo nazismo desde a década de 1920 até 1945. A tese central, que defende, é a de que o nazismo se consolidou quando passou a dominar a maneira como as pessoas falavam, incluindo os seus opositores.

É um livro que alterou minha percepção do mundo. Quantos sabem que, no discurso, o nazismo falava em democracia e liberdade? Quantos sabem que a agressão era sempre dos outros, e os nazistas somente protegiam os valores do seu povo? Quantos sabem que o perímetro defendido pelo Exército alemão durante a guerra era chamado “fortaleza Europa”, área em que a civilização ocidental estava sendo protegida do ataque das “hordas asiáticas” (russos) e dos “agentes judeus” (americanos e ingleses)? Quantos já viram imagens de um Hitler bondoso, vegetariano, amigo das crianças e dos animais?

Dificilmente um alemão que vivia dentro desse espaço poderia construir uma visão de mundo que contrastasse um discurso tão esmagadoramente dominante.

Penso nisso quando olho para nós, que vivemos na área americana do mundo, também uma espécie de “fortaleza” guardada pelas agências de notícias controladas pelo Departamento de Estado.

Quantos pararam para pensar que, em plena pandemia, os Estados Unidos apertaram ainda mais as dramáticas sanções contra o Irã, impedindo o país – um dos mais atingidos – de comprar remédios e equipamentos? Quando se deram conta de que os Estados Unidos bloquearam mais fortemente o fornecimento de gás de cozinha para Cuba? Que impediram que o FMI destinasse apenas US$ 5 bilhões para a Venezuela combater o vírus em seu território? Quantos se dão conta de que asfixiar financeiramente a Organização Mundial da Saúde, neste momento, é um crime contra a humanidade? Quanto reconhecem como pirataria captura de cargas compradas por terceiros países?

Pouquíssimos. Assim como os alemães sob o nazismo, nós também vivemos esmagados por um mesmo discurso dominante, em que agressão é defesa, mal é bem, e todo ataque – mesmo o mais sórdido – se justifica porque estamos sempre nos defendendo.

É hora de ler e reler “LTI: a linguagem do Terceiro Reich”. Para que possamos pensar de forma mais livre.

 

 

 

 

Valeria Aguilar

 

 

 

Está na hora de você saber em que país mora. Parece que a sua família não te contou a verdade sobre o país. Há mais de 100 mil desaparecidos, enterrados por aí, em valas e perto de cemitérios. Seus netos e bisnetos querem poder desenterrar seus restos mortais para dar a eles um enterro digno, porque prometeram isso às suas mães e avós. E, até fazermos isso, a guerra não terá acabado. Você é nova, mas está na hora de saber onde seus pais e sua família estavam nessa guerra. Vai te fazer bem saber para poder decidir onde quer estar". 

Leia aqui.

 

Psicanálise, Cinema e Literatura

 

Via Valeria Aguilar

 

Estreou na Netflix ontem e tem texto aqui hoje, novamente.

 

Mães Paralelas

Há anos acompanho as cores e as dores de Almodóvar, e elas permanecem em sua última produção, embora menos berrantes em suas tintas e mais pungentes em seus sofrimentos. Ele já não diz tudo sobre a mãe, mas continua falando com elas. Também estão lá as referências às outras artes, desta vez a fotografia e o teatro, que já na primeira cena aparecem juntas, quando Janis (Penélope Cruz) fotografa Arturo (Israel Elejalde), um antropólogo forense, e faz alusão à caveira que Hamlet segura, como uma possível inspiração para o ensaio fotográfico.

O personagem de Shakespeare, citado logo no início, traz consigo uma das questões da existência: “Ser ou não ser?”, variante das interrogações “Da onde vim?” e “Para onde vou?”, perguntas sobre a origem da vida e o enigma da morte, que norteiam as histórias paralelas da trama: as mães que se encontram na maternidade quando suas filhas nascem, e os pais desaparecidos pelo regime ditatorial franquista. O filme é o mais abertamente político da obra do cineasta espanhol, embora a política sempre tenha estado presente em sua filmografia, especialmente a partir de seus personagens, que carregam a insustentável estranheza do ser, para a qual Almodóvar habitualmente dá um lugar de destaque.

As referências do diretor a outras obras nunca são aleatórias, ou meramente ilustrativas, ele não dá ponto sem nó. Hamlet, no caso, precisa vingar a morte do pai, e impossibilitado de fazer seu luto, vive atormentado por seu espectro. Esse é um grande mote do filme: o necessário trabalho de luto que, quando não possível e realizado, assombra com seus fantasmas. Se esses não têm carne, é preciso, pelo menos, lhes devolver os ossos, e legitimar a vida através de uma morte digna dos ritos e prantos dos entes queridos. As cenas finais são lancinantemente belas, mostrando a face trágica mas poética de Almodóvar.

Ana Paula Gomes

 

 

 

 

África Profunda 

 

Ao chegar no Brasil e ver de perto a escravidão, Darwin escreveu esse relato:

 

“Perto do Rio de Janeiro, minha vizinha da frente era uma velha senhora que tinha umas tarraxas com que esmagava os dedos de suas escravas. Em uma casa onde estive antes, um jovem criado mulato era, todos os dias e a todo momento, insultado, golpeado e perseguido com um furor capaz de desencorajar até o mais inferior dos animais. Vi como um garotinho de seis ou sete anos de idade foi golpeado na cabeça com um chicote (antes que eu pudesse intervir) porque me havia servido um copo de água um pouco turva…

E essas são coisas feitas por homens que afirmam amar ao próximo como a si mesmos, que acreditam em Deus, e que rezam para que Sua vontade seja feita na terra! O sangue ferve em nossas veias e nosso coração bate mais forte, ao pensarmos que nós, ingleses, e nossos descendentes americanos, com seu jactancioso grito em favor da liberdade, fomos e somos culpados desse enorme crime.”

(Charles Darwin, A Viagem do Beagle)

 

Mario Manaos

 

 

 

 

Apolo Heringer Lisboa

 

 

 

Faustino Teixeira

 

"Eu não glorifico a dor. Eu diria: a vida humana sem dor é incompleta. Dor e felicidade são, como diz Nietzsche, irmãos gêmeos, que crescem juntos ou permanecem pequenos juntos. Se a dor for inibida, a felicidade se acomoda em uma abafada sensação agradável (...).

A dor também faz parte da nossa relação com os outros. Um capítulo do meu livro é dedicado à ética da dor. Hoje costumamos falar sobre o desaparecimento da empatia. Eu me perguntava: de onde vem essa crescente perda de empatia? Por que somos cada vez menos receptivos aos outros? Acredito que hoje em nosso Ego tornamos o outro um objeto disponível, pronto para o consumo. O outro, como objeto, não sente dor."

Byung-Chul Han

 

 

 

 

Fernando Altemeyer Junior

 

Apoio total ao padre Julio contra seus detratores criminosos.

 

 

 

 

Fernando Altemeyer Junior

 

 

Onze anos da páscoa definitiva em 27/03/2011 – Morre em Simões Filho, BA, o padre José Comblin, teólogo latino-americano, profeta radical, comprometido com os pobres, escritor prolífico, Brasil.

Nascido em Bruxelas, Bélgica em 1923. Obra imensa com destaque para a pneumatologia ou Teologia do Espírito. Nascido em Bruxelas, Bélgica em 22 de março de 1923. Sacerdote e missionário belga, teólogo da Teologia da Libertação. Suas principais contribuições foram na teologia do desenvolvimento, na teologia da cidade, na teologia da prática revolucionária, na teologia dos direitos humanos e na teologia da libertação. Também merecem destaque suas análises sobre a ideologia da Segurança Nacional dos regimes militares latinoamericanos na década de 1970 e sobre o neoliberalismo. Era o filho mais velho de uma família com três irmãos e duas irmãs. Fez os primeiros estudos (ensino primário) estudos na escola paroquial e prosseguiu seus estudos (ensino secundário) no Colégio São Pedro.

Em 1940, entrou no Seminário Leão XIII, em Lovaina (Bélgica). Entre 1940 e 1942, fez estudos de ciências biológicas e filosofia. Em 1943, ingressou no Seminário São José em Malines (Bélgica), onde fez o 1º ano de teologia. Em 1944, ingressou no Seminário Maior de Malines, onde cursou o 2º e o 3º ano de teologia. Entre 1946 a 1950, cursou na Faculdade de Teologia em Lovaina, onde se tornou doutor em teologia. Em 9 de fevereiro de 1947, foi ordenado padre em Malines. Após a ordenação, exerceu a função de vigário cooperador na paróquia Sagrado Coração de Jesus, em Bruxelas, entre 1950 e 1958. Durante o ano de 1951, foi professor de teologia no CIBI (centro de formação para seminaristas em serviço militar). Em 1953, obteve doutorado em teologia pela Universidade Católica de Lovaina, orientado por Lucien Cerfeaux, com uma tese sobre o livro do Apocalipse.

Motivado pelo apelo Papa Pio XII, que no documento Fidei Donum (O Dom da Fé), pedia missionários voluntários para regiões com falta de sacerdotes, como os países da África e da América Latina, onde seria importante conter o avanço do comunismo, solicitou seu envio para a América Latina. Foi encaminhado para Campinas, SP, onde o bispo desejava sacerdotes doutores para contribuir na formação de seu clero. Chegou ao Brasil em 30 de junho de 1958. Entre 1958 e 1962, foi professor no seminário diocesano e na Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Além disso, foi convidado para ser assistente diocesano da Juventude Operária Católica (JOC).

Entre 1959 e 1962, também ensinou no Studium Theologicum dos Dominicanos em São Paulo, onde teve como alunos: Ivone Gebara, Frei Betto e Frei Tito.

Entre 1962 e 1965, foi professor na Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Chile (Chile). Entre 1965 e 1968, convidado por Dom Hélder Câmara, foi professor no Seminário regional do Nordeste em Camaragibe e professor no Instituto de Teologia do Recife.

Entre 1968 e 1972 foi professor de teologia no IPLA (Quito, Equador) e assessor de cujo bispo, Dom Leônidas Proaño da Diocese de Riobamba. Até 1985 passava duas quinzenas por ano em Riobamba e continuou frequentando a diocese até a morte de Dom Leônidas Proaño, em 1988. Entre 1971 a 1988, foi professor de teologia pastoral na Faculdade de Teologia da Universidade Católica de Lovaina.

A partir de 1969 esteve à frente da criação de seminários rurais em Pernambuco e na Paraíba. A metodologia utilizada para os seminários era adaptada ao ambiente social dos seminaristas. Esta experiência lançou as bases para a Teologia da Enxada. Suas ideias o colocaram sob suspeita do regime militar. Foi detido, ao desembarcar no aeroporto de volta de uma viagem à Europa e deportado em 24 de março de 1972. Exilou-se no Chile durante oito anos, onde, em 1979, esteve à frente da criação de um Seminário Rural, em Alto de Las Cruces (Talca), que fomentava a formação ao sacerdócio de jovens do meio rural respeitando a sua cultura camponesa.

Em 1973, ocorreu o Golpe Militar no Chile, circunstância que forçou Comblin a se afastar do ensino para evitar chamar a atenção. Em seu livro A Ideologia da Segurança Nacional, publicado em 1977, destrinchou a doutrina que servia de base para os regimes militares na América Latina. Em 1980, foi expulso por Pinochet e conseguiu retornar ao Brasil, com visto de turista, circunstância que exigia renovação a cada três meses, o que o obrigou a sair do país a cada 3 meses durante seis anos, para renovar o visto, até que em 1986 foi anistiado e recebeu novamente o visto permanente.

Após retornar ao Brasil, reuniu-se com adeptos da Teologia da Enxada e recebeu o apoio do Arcebispo de João Pessoa, dom José Maria Pires, para, em 1981, fundar, em Avarzeado (Paraíba), um Seminário Rural, que, posteriormente, seria denominado como "Centro de Formação Missionária", que passou a funcionar em Serra Redonda, PB, que tinha como objetivo formar sacerdotes e missionários populares para a evangelização da população rural, com uma metodologia adequada e levando em consideração a cultura camponesa.

Nesse contexto, passou a dedicar-se prioritariamente à formação de lideranças populares. Em 1981, foi professor no Seminário Rural do Avarzeado (Pilões, PB), depois em Serra Redonda (PB), depois Centro de Formação Missionária. Sua atuação era inspirada no Padre Cícero e no Padre Ibiapina, dois grandes padres no cenário do nordeste brasileiro.

Em 1987, participou da fundação das Missionárias do Meio Popular, com o mesmo objetivo. Neste ano surgiu também o Programa da Árvore, que era uma formação de Animadores de CEBs na Arquidiocese da Paraíba que contava com a sua orientação.

Em 1989, fundou o Instituto de Formação Pastoral em Juazeiro (Bahia) em 1989, que posteriormente abriu núcleos em Mogeiro (Paraíba) em 1994, e em Miracema do Tocantins em 1987.

A partir de 1995 passou a residir na Casa de Retiros São José, em Bayeux (PB), onde continuou a dar assessoria a diversas entidades de formação de lideranças populares no Nordeste, além da assessoria teológica para os mais diversos grupos eclesiais ou sociais no Brasil e na América Latina. Também foi professor no curso de pós-graduação em missiologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Chamado de Padre José pelas pessoas com quem convivia, criou movimentos missionários leigos como os Missionários do Campo (1981).

No Equador foi assessor de Dom Leonidas Proaño, bispo de Riobamba, um dos principais articuladores da opção preferencial pelos pobres, assumida pela igreja católica latino-americana nas conferências de Medellín e Puebla. Comblin estava convencido de que a fé deveria ser refletida criticamente a partir da realidade dos pobres. Foi considerado um dos maiores expoentes da Teologia da Libertação vivendo no Brasil.

Os dois últimos anos de vida foram vividos na Diocese de Barra, na Bahia. Faleceu no dia 27 de março de 2011, no Recanto da Transfiguração, em Simões Filho, próximo a Salvador, para onde foi em tratamento de saúde, quando sofreu um ataque cardíaco.

Foi sepultado no Santuário de Santa Fé do Padre Ibiapina, em Solânea, pertencente à diocese de Guarabira, no estado da Paraíba.

Comblin foi um dos primeiros teóricos da "teologia do desenvolvimento", que parte da ideia que o desenvolvimento faz parte da vocação humana e é o motor da história. Em seus escritos, distingue duas concepções de desenvolvimento: "a técnica", que subordina o aspecto moral ao tecnológico, e a intelectual, que subordina o aspecto tecnológico a ao moral.

Posteriormente se dedicou ao estudo da "teologia da revolução" e da "prática revolucionária", coincidindo com o fervor utópico-revolucionário vivido na época, tanto no Terceiro Mundo quanto no Primeiro. Era uma época na qual a libertação se chamava revolução e a busca da liberdade gerava a práxis revolucionária. Comblin acreditava que o cristianismo, que não havia criado nenhuma revolução, podia recriá-las. O papel dos cristãos seria o de devolver a palavra e restituir a presença àqueles que nunca eram reconhecidos: os pobres, os sem nome, os marginalizados. O anúncio do Evangelho permitiria discernir nas revoluções do século XX as que contribuiriam para construir o Reino de Deus e as que colocavam obstáculos a essa construção.

Comblin participou das primeiras reuniões de um grupo de teólogos latino-americanos que seriam os fundadores da teologia da libertação, como: Gustavo Gutiérrez, o jesuíta Juan Luís Segundo, Leonardo Boff e Segundo Galilea.

Acreditava que a Conferência de Medelín (1968) dera início a um modelo de Igreja libertadora na América Latina e madura buscando superar o colonialismo eurocêntrico de séculos. Publicou 65 livros e mais de 300 artigos, principalmente em português, espanhol e francês. Uma das obras mais belas é o livro O provisório e o definitivo, Ed. Herder. Mereceria nova edição.

 

Fernando Altemeyer Junior

 

 

Memória de três anos da páscoa definitiva em 22/03/2019 falecimento do padre Thomaz de Aquino Lisboa, sj, aos 82 anos. Foi jesuíta, missionário, defensor dos indígenas. Nascido em 1936. Deixou o ministério presbiteral, pois destemido inovador, se casa com uma índia e vai viver na tribo. Conhecido por seu trabalho na Operação Amazônia Nativa - Opan, na fundação do Conselho Indigenista Missionário - Cimi, juntamente com Burnier, Antonio Iasi, Vicente Cañas, Adalberto Holanda Pereira e Egydio Schwade. Ele pensava a Missão e os efeitos das Missões junto aos indígenas, por isso percebe com clareza que as ações do Estado e mesmo da Igreja junto aos povos indígenas traziam mais prejuízos do que auxílio. Ele é um dos signatários do documento de denúncia Y-Juca-Pirama. O índio: aquele que deve morrer, em 1973, no momento chave na história dos povos indígenas durante o regime militar.

 

Fernando Altemeyer Junior

 

 

Quinze anos de saudades do profeta gaúcho. 47. 05/03/2007 – Falecimento de José Ivo Lorscheiter, bispo auxiliar de Porto Alegre e sexto bispo diocesano de Santa Maria, RS. Nasceu em 07/12/1927 em São José do Hortêncio, Rio Grande do Sul. Faleceu em Santa Maria, Rio Grande do Sul. Dom Ivo foi o último bispo brasileiro nomeado pelo papa Paulo VI no decorrer do Concílio Vaticano II, em 1965.

Foi Secretário-Geral e depois Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil durante o período mais obscuro do Regime Militar Brasileiro, entre 1971 e meados da década de 1980. Nesse período abrigou na Igreja brasileira vários defensores da Teologia da Libertação, além de bispos e sacerdotes de tendências pouco conservadoras, entre eles o seu próprio primo, o cardeal Aloísio Lorscheider, que faleceu no dia 23 de dezembro de 2007, pouco depois.

Fez seus estudos primários em São José do Hortêncio. Realizou seus estudos iniciais no Seminário Menor São José de Gravataí, no período de 1939 a 1945. Estudou Filosofia no Seminário Central de São Leopoldo (1946-1948). Fez seus estudos teológicos na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, (1949-1953), onde se doutorou em 1955. Sua tese versou sobre a tradição e o magistério na Igreja. Foi ordenado sacerdote no dia 20 de dezembro de 1952 em Roma. Foi professor e reitor do Seminário Menor de Gravataí.

Foi professor e diretor na Faculdade de Filosofia do Seminário Maior de Viamão, do qual foi vice-reitor, em 1957. Foi professor de Cultura Religiosa em diversas faculdades da PUCRS durante os anos 60. Em 1958 foi reitor do Seminário Maior de Viamão, hoje Campus Viamão da PUCRS. Em 1960 foi nomeado cônego honorário do Cabido Metropolitano. Em 1962 recebeu o título de Monsenhor, pela Santa Sé.

Estando em Roma, em 1965 foi convidado por Dom Vicente Scherer para participar do encerramento do Concílio Vaticano II. No dia 12 de novembro de 1965, o Papa Paulo VI nomeou-o bispo auxiliar de Porto Alegre, com a sé titular de Tamada. Recebeu a ordenação episcopal no dia 6 de março de 1966, em Porto Alegre, das mãos de Dom Vicente Scherer, Dom Aloísio Lorscheider e Dom Edmundo Luís Kunz. Foi nomeado pelo arcebispo de Porto Alegre como Vigário-Geral. Assumiu a coordenação do Regional Sul 3 da CNBB e da pastoral arquidiocesana. Aos 26 de fevereiro de 1971 foi eleito Secretário-Geral da CNBB, passando a residir no Rio de Janeiro, mas continuando a ser bispo auxiliar de Porto Alegre. No dia 5 de fevereiro de 1974, o Papa Paulo VI nomeou Dom Ivo como sexto bispo diocesano de Santa Maria. Dom Ivo destacou-se por suas críticas ao regime militar no Brasil e pela sua defesa dos direitos humanos.[1]

Em 24 de março de 2004 o Papa João Paulo aceita sua renúncia ao cargo de bispo diocesano, por limite de idade, e nomeia seu sucessor Dom Hélio Adelar Rubert.

Enfrentou o arbítrio dos generais ditadores com audácia evangélica. O exemplo mais notório da coragem de Dom Ivo, relatado em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, em 2002, quando ele e dom Vicente Scherer, cardeal arcebispo de Porto Alegre, fizeram uma visita ao famigerado presidente ditador Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), e este se dirigindo ao cardeal Scherer disse o seguinte: “Escuta, me dá licença, já que o senhor trouxe dom Ivo, secretário da CNBB, eu vou fazer agora uma reclamação: eu vou pedir a vocês da CNBB que moderem as críticas ao governo. Porque se vocês não moderarem, nós vamos ter de mudar de posição. Eu, presidente, vou começar a dar catequese até que vocês mudem de posição e nos deixem fazer a nossa parte”.

O profeta e gigante dom Ivo respondeu: “Senhor presidente, nós não vamos mudar a nossa posição. Nós não criticamos vocês por aspectos técnicos, mas por aspectos éticos. Vocês fazem coisas moralmente injustas. Agora, se por isso o senhor começar a dar catequese, nós vamos ficar muito contentes, porque este não é um trabalho só dos bispos, é dos leigos. O senhor tem uma família, tem netos, será uma coisa boa começar a dar catequese. Nós não vamos ficar bravos, vamos até lhe aplaudir”.

 

Faustino Teixeira

 

Não perder o ritmo da alegria

Fiz ontem, 19/02/22, a leitura de uma entrevista com o pensador Byung-Chul Han de 22 de fevereiro de 2021 (O valor dos arrepios. A dor nos torna humanos - IHU, 22 de fevereiro de 2021). Pensei que era uma entrevista mais recente, mas não, era do ano passado. Fiquei, porém, impressionado com a sua atualidade. Tenho gostado muito dos livros desse autor, cujas obras vêm sendo traduzidas pelas Vozes, disponíveis em preços módicos.

O que gostei dessa entrevista foi ter recebido pistas importantes para entender o que está se passando com muitos de nós nessa pandemia que não tem fim. Verifico que as pessoas estão desgastadas com o isolamento. Algumas estão mesmo “chutando o balde”, não aguentando mais usar máscaras, ficar isoladas no mundo familiar restrito, sem poder se comunicar mais proximamente com os amigos, sem poder viajar, e tantas outras coisas mais.

Sinto também o aumento expressivo da depressão. Os consultórios de terapia estão todos lotados, com muita gente pedindo ajuda para enfrentar esse tempo tão difícil.

Aí veio essa entrevista e me ajudou a refletir sobre algumas coisas essenciais, que pontuo:

1. A importância de fortalecermos as relações de amizade, da forma que estiver ao nosso alcance. Byung-Chul Han, num de seus livros preciosos – A expulsão do outro, 2017 – dedica um capítulo inteiro à escuta, que se faz necessária nesse momento onde as pessoas estão solitárias e isoladas. O trabalho de ser “ouvinte” ganha um lugar decisivo em nosso tempo. Como diz Chul Han, “a pandemia reforça o desaparecimento da empatia. O outro é agora um possível portador do vírus, do qual convém distanciar-se”. Escutar o outro é deixar-se expor, expressar confiança e manifestar sensibilidade para com ele. O que vemos, com tristeza, é as pessoas ficarem irritadas com a aproximação dos outros, temendo o contágio do vírus, e isso é muito sério.

2. O desafio de saber lidar com a dor. Estamos envolvidos numa sociedade repleta de dores, uma “epidemia de dores crônicas”, como indica Chul Han. Mas a dor, como diz ele, vem “reduzida aos aspectos médicos e farmacológicos. E quando é colocada exclusivamente nas mãos da medicina, a gente não entende mais”. Ao mesmo tempo em que estamos rodeados de dor, não sabemos – nessa sociedade paliativa – lidar com ela. Chul Han constata, a meu ver com razão, que mais importante que oferecer analgésicos, é facultar a proximidade, a dedicação e amizade ao outro. Tudo isso é mais essencial do que simplesmente medicalizar a dor.

3. Encontrar caminhos alternativos de lidar com a pandemia. Chul Han, de forma extraordinária, chama a atenção para um trabalho de equipe, que vá além do contato com médicos para lidar com a pandemia. Isso significa envolver outros profissionais, como psicólogos, filósofos, teólogos etc. Chul Han nos adverte que com a pandemia estamos nos encerrando numa quarentena onde a vida “enrijece-se como uma sobrevivência”. Caímos, assim, numa “histeria da saúde”, excluindo inclusive a fundamental importância de entender o lugar da dor na vida de cada um. A neblina da pandemia não pode ser para nós o fechamento da possibilidade de celebrar a vida. É o que a poeta portuguesa, Matilde Campilho, nomeia como saber “dançar sobre os escombros”. Não se pode perder essa dimensão da alegria, mesmo na dor. Trata-se de saber encontrar caminhos e possibilidade para “celebrar a vida”. Como diz Alberto Caeiro é “triste não saber florir”.

Em vez de simplesmente absolutizar a saúde e a sobrevivência, devemos estar atentos, e muito atentos, aos “bens que estão em jogo nos vários aspectos da vida”. Não podemos simplesmente nos acabar para encontrar o caminho da sobrevivência. Muito importante isso.

Conforme assinala Chul Han, há que esperar mais do que sobrevivência. Diz ele: “A sociedade dominada pela histeria de sobrevivência é uma sociedade de ´não mortos`”. Ele costuma dizer que “estamos muito vivos para morrer, muito mortos para viver”. A seu ver, o estar preocupados apenas com a saúde e a sobrevivência, nos faz assemelharmos ao vírus, “um ser não-morto que se multiplica, ou seja, sobrevive, sem viver”.

Concluindo, com a ajuda da tradição budista, que foi também objeto de outro livro de Chul Han, precisamos entender que “a vida sem dor é incompleta”. Ou seja, faz parte de nossa trajetória saber lidar com a vulnerabilidade e a impermanência. O autor cita Nietzsche para dizer que a dor e a felicidade andam sempre juntas, como irmãs gêmeas, “que crescem juntas ou permanecem pequenas juntas. Se a dor for inibida, a felicidade se acomoda em uma abafada sensação agradável”. Como diz o poeta Fernando Pessoa (Alberto Caeiro), “é preciso ser de vez em quando infeliz para se poder ser natural”. O que é preciso, diz o poeta, é “ser-se natural e calmo na felicidade ou na infelicidade, sentir como quem olha, pensar como quem anda, e quando se vai morrer, lembrar-se que o dia morre, e que o poente é belo e é bela a noite que fica...”.

 

Faustino Teixeira

 

"Entre a Praça São Pedro e o Campo de Fiori há menos de três quilômetros. Quando um Papa tiver realizado esses três mil passos indo homenagear a memória de um ex frade dominicano que foi queimado vivo por um de seus predecessores, então talvez surjam as condições para a espiritualidade de que o nosso tempo e especialmente os nossos jovens têm urgente necessidade."

Vito Mancuso

IHU-Notícias

 

 

 

Rudá Guedes Ricci

 

Bolsonaro visitou Viktor Orbán líder da extrema-direita e primeiro-ministro da Hungria. Mais uma tentativa para promover uma rede internacional. Não esteve lá por interesses comerciais. Objeto de desejo de Jair desde 2004.

  

Gustavo Gindre

 

Lembram quando o Carl Sagan comparou a história do universo ao calendário de um ano?

Pois bem, nessa comparação, com a história do universo até aqui ocupando um ano de 365 dias, a vida de uma pessoa de 80 anos ocupa cerca de 18 centésimos de um segundo.