15 Janeiro 2022
O Rio de Janeiro continua lindo... e perigoso. Os 19 municípios que integram a Região Metropolitana tiveram, no ano que passou, uma média de 13 tiroteios por dia, 61 chacinas, 2.098 pessoas foram baleadas, 1.084 mortas e 1.014 feridas, dentre elas quatro crianças e 15 adolescentes.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
A contabilidade consta no relatório anual do Instituto Fogo Cruzado, divulgado na quarta-feira, 12. “Não dá para achar normal” tal quadro de violência, escreveu a diretora executiva do organismo, Cecília Olliveira, na apresentação do relatório. “Somente em dezembro, em menos de 10 dias, quatro crianças foram vítimas de balas perdidas”, apontou.
A cidade do Rio de Janeiro concentrou 54% dos 2.510 tiroteios de toda a Região Metropolitana em 2021, onde foram 769 baleados e 392 mortos. Na Grande Rio, as disputas entre traficantes e milicianos por áreas em favelas e periferias aumentou 192% em relação ao ano anterior, enquanto o número de tiroteios/roubo cresceu 40% no período. As 61 chacinas ocorridas em 2021 mataram 255 civis.
Dos 4,6 mil tiroteios apontados pelo relatório do Fogo Cruzado, 1.351 ocorreram em ações/operações policiais. Em 2021 morreram 82 agentes de segurança, 52% a mais do que em 2020. Entre eles, 17 foram mortos em serviço, 48 fora do expediente, 17 aposentados ou exonerados. Outros 99 foram baleados, mas sobreviveram.
No dia 6 de maio, na semana do Dia das Mães, foi registrada a operação mais letal da história da polícia carioca. O palco foi o Jacarezinho, quando foram mortas 28 pessoas, incluindo um policial. As ações ou operações policiais foram responsáveis, no ano que passou, por três a cada quatro chacinas ocorridas na Grande Rio, vitimando 195 civis no total.
Fogo Cruzado defende, com urgência, um debate nacional sobre política de armas de fogo. “Há mais de uma década não se registrava tantas armas nas mãos de civis, e isso nem sempre significa mais segurança para seu portador”, arrolou Cecília Olliveira. O quadro piorou com as facilidades introduzidas pelo governo Bolsonaro, que banalizou as regras de porte de armas.
O Instituto revela que armas desviadas e comercializadas de forma irregular vão parar na clandestinidade, “sob vistas grossas do governo federal”. Empresas de segurança “perderam”, em média, sete armas por dias nos últimos cinco anos no Brasil, anota o relatório.
A diretora executiva do Fogo Cruzado também chamou o STF à responsabilidade para desengavetar o julgamento de novos embargos da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, que desde 5 de junho restringe operações militares não urgentes e não planejadas nas favelas do Rio em tempos de pandemia. A medida foi ignorada pela polícia carioca. Dados mostram que houve menor número de vítimas no curto período em que a medida foi respeitada.
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Violência na Grande Rio tem números recordes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU