06 Janeiro 2022
“A Igreja levou 350 anos para admitir que entendeu tudo errado com o Galileu. Quanto tempo vai demorar para eles se desculparem por travar uma guerra contra as pessoas trans?”. Esta é a pergunta provocativa feita recentemente por um comentarista da LGBTQ Nation, uma revista online de notícias LGBTQIA+.
A reportagem é de Grace Doerfler, publicada por New Ways Ministry, 05-01-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
No comentário, intitulado “A Igreja Católica ainda está tentando matar Joana D'Arc”, Warren Blumenfeld lamenta o lento progresso da Igreja Católica em reconhecer a dignidade das pessoas trans e não-conformes de gênero. Blumenfeld traça um paralelo entre a hostilidade da Igreja em relação às descobertas científicas de Galileo Galilei com sua relutância contemporânea em afirmar identidades trans.
Ele ainda afirma que o comportamento opressor tem efeitos desumanizadores não apenas sobre suas vítimas, mas também sobre seus perpetradores. Ele argumenta que, embora a igreja “[fale com veemência] contra a não conformidade de gênero e a sexualidade homossexual” agora, eventualmente esses esforços sairão pela culatra.
Ele cita o exemplo muito recente das diretrizes restritivas emitidas pela Diocese de Marquette, nas quais os padres são instruídos a recusar sacramentos a pessoas transgênero e não binárias, a menos que se “arrependam”. Blumenfeld diz que esse requisito significa pedir às pessoas que neguem quem são:
“‘Arrepender’ para a diocese representa uma negação completa das identidades essenciais dos indivíduos e de sua integridade pessoal. Para serem aceitos no rebanho, eles devem negar sua humanidade. Mas esse ‘amor’ equivale a nada menos do que o assédio conspiratório e a intimidação de longa data da Igreja Católica para com as pessoas trans”.
Blumenfeld compara a vestimenta litúrgica que o clero usa com o caso de uma menina de nove anos que foi negada a primeira comunhão em sua paróquia porque queria usar um terno, não um vestido.
Blumenfeld aponta que mesmo uma das grandes santas da Igreja, Joana D'Arc, não se conformava com as normas de gênero:
“[A] Igreja Católica Romana julgou e condenou Joana sob a acusação de heresia ao rejeitar a autoridade da Igreja em preferência à inspiração direta de Deus, mas o mais importante, vestindo roupas masculinas. Joana morreu queimando em uma fogueira nas mãos da Igreja”.
Blumenfeld está um tanto desapontado com a forma como o Papa Francisco tem lidado com as questões LGBTQIA+ durante seu papado até agora:
“Muitos observadores da Igreja esperavam que Francisco tivesse tirado a Igreja do século XVII, onde ela permaneceu presa por algum tempo, e a carregasse nas asas de uma pomba pelo menos até o século XIX, se não o século XX ou XXI, em relação aos seus preceitos opressores e 'instruções' sobre pessoas LGBTQIA+. Mas, infelizmente, a pomba morreu assim como a esperança”.
Ele conclui pedindo que os líderes da Igreja sejam mais responsáveis por suas palavras que prejudicam a dignidade das pessoas trans, apontando os resultados do mundo real de tal linguagem negativa:
“Quase a cada dois ou três dias, uma pessoa é morta em algum lugar do mundo por expressar inconformidade de gênero. Levará mais 350 anos para a Igreja Católica finalmente admitir que errou?”.
O ensaio de Blumenfeld chama os católicos a serem uma Igreja que realmente ouve as experiências de pessoas trans e não conformadas com o gênero. Sem ouvir, não pode haver mudança verdadeira.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Quanto tempo até a Igreja se desculpar pela guerra contra os transgêneros? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU