18 Dezembro 2021
O prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral já apresentou a sua renúncia.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada em Il Messaggero, 17-12-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Outra ilustre cabeça está prestes rolar no Vaticano. Nada de Fratelli tutti. O clima está ficando pesado. Desta vez, quem está pagando a conta pelos confrontos subterrâneos, pelas rasteiras, pelas cotoveladas é um dos cardeais ao qual o Papa Francisco mais havia apontado no início do seu pontificado, mas cuja estrela, ao longo do caminho, evidentemente se tornava cada vez mais opaca, até ao epílogo dos últimos dias.
O cardeal Peter Appiah Turkson, prefeito do Departamento para o Desenvolvimento Humano Integral, já apresentou a sua renúncia e, na manhã desta sexta-feira, 17, convocou todo o pessoal da estrutura curial para dar explicações.
Não se sabe exatamente o que está na base, porém se descartam os problemas financeiros, até porque o dicastério foi recentemente submetido a uma auditoria pelo auditor interno, passando no exame com um orçamento em ordem e com os custos efetivamente reduzidos conforme o Papa Francisco havia pedido a toda a administração vaticana, passando dos cerca de 5 milhões de euros [32 milhões de reais] de despesa para os 3,5 milhões [22 milhões de reais].
A notícia da tempestade que atingiu o Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral é um raio em céu azul que certamente não beneficiará a imagem geral da Santa Sé, cada vez mais fragilizada por uma gestão interna em grandes dificuldades.
Antes da inexplicável saída de Turkson (que há poucos dias deu uma entrevista coletiva no Vaticano), o dicastério foi abalado por outras saídas de peso, com dois subsecretários que foram embora em poucos meses, primeiro Duffè e depois o leigo Zampini, que deixou para trás um rastro de boatos maliciosos sobre o real motivo da sua atitude.
O fato é que o megaministério que encorpou quatro conselhos pontifícios (Migrantes, Cor Unum, Justiça e Paz e Operadores da Saúde) parece ainda não ter conseguido uniformizar a atividade, apesar dos esforços e dos importantes campos em que passou a atuar: os migrantes, a crise provocada pela Covid, a globalização, o ambiente e as mudanças climáticas.
No ano passado, o Papa Francisco, cansado de receber contínuas reclamações em sua mesa sobre o clima pesado dentro do dicastério, enviou um cardeal de confiança, o estadunidense Blaise Cupich, para fazer uma “visitação”, uma espécie de inspeção camuflada, a partir da qual foi feito um relatório chocante, fruto de conversas individuais internas com todo o pessoal.
A partir dessa análise, parece que ficou evidente a dificuldade da governança interna, causada talvez por um dualismo que foi sendo criado ao longo do tempo: por um lado, o setor sobre os migrantes, chefiado pelo cardeal jesuíta canadense Michel Czerny, muito ouvido pelo Papa Francisco, e, por outro lado, a área de pertinência do cardeal africano Turkson, titular (no papel) da responsabilidade de todo o dicastério, portanto também da atividade de Czerny.
Pode ter sido o confronto entre os dois cardeais e a diferença de pontos de vista e de sensibilidades que aumentaram o mal-estar dentro da estrutura, onde se lamenta, há muito tempo, um clima que se tornou pesado.
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Vaticano, outra cabeça prestes a rolar: a do cardeal Turkson. Por quê? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU