A rebeldia passou a ser de direita? - Frases do dia

Mural de campanha de Javier Milei, na Argentina | Foto: Reprodução / Twitter

08 Novembro 2021

 

A rebeldia passou a ser de direita?

 

"As direitas usam hoje formas mais transgressoras do que as que usavam as direitas tradicionais. As feministas do Vox, por exemplo, dizem que são as verdadeiras feministas. Essas direitas captaram a frustração de uma época e se tornaram canais de protesto contra governos e formas de fazer política. Fica claro que, quando se tornam governo, enfrentam muitas dificuldades para governar. Elas chutaram o balde e disputam com a esquerda a canalização da crise que provoca a incerteza sobre o futuro. No passado, a esquerda era quem oferecia um futuro, uma promessa de emancipação. Isso se quebrou, e nessa ruptura essas direitas passaram a prometer utopias relacionadas a um passado de grandeza. Prometem fechar fronteiras, pregam a ideia de que houve um momento de glória e que depois dele veio a decadência" - Pablo Stefanoni, historiador, jornalista e escritor argentino - O Globo, 07-11-2021.

 

Esquerda perdeu sua mística


"A esquerda revolucionária perdeu força e o progressismo não conseguiu mudar as coisas. Perdeu sua mística. Nem o PT, o Movimento ao Socialismo boliviano ou o chavismo têm muito a dizer hoje sobre um projeto de transformação de suas sociedades. Nesse contexto, a rebeldia passou a ser de direita. Porque essas direitas oferecem um canal para pessoas inconformadas, que hoje não se sentem representadas pela esquerda. Essas direitas se conectam com os setores mais humildes, mais populares. Chegam onde antes chegava a esquerda, enquanto a esquerda se concentra em batalhas culturais que são corretas, mas nesse caminho perdeu a conexão com o mundo material duro, onde a direita circula com mais facilidade" - Pablo Stefanoni, historiador, jornalista e escritor argentino - O Globo, 07-11-2021. 

 

Herança...

 

“Quem assumir a presidência do Brasil em 2023, seja o atual presidente reeleito ou não, terá de lidar com uma herança que inclui piora do ambiente interno de negócios, da imagem internacional do país e dos principais indicadores da economia. Considerando as projeções atuais para o final de 2022, praticamente todos os grandes indicadores macroeconômicos estarão em níveis piores do que estavam no final do governo Michel Temer (2016-2018)” – Eduardo Cucolo, jornalista – Folha de S. Paulo, 07-11-2021.

 

Será a pior possível

 

"Naquele período (Dilma Rousseff), havia uma diretriz clara de que seria uma política expansionista. Agora, era um governo que se dizia fiscalmente responsável, que prezava pelo teto, mas está fazendo o oposto. A herança será a pior possível" – Felipe Salto, diretor-executivo da IFI (Instituição Fiscal Independente) – Folha de S. Paulo, 07-11-2021.

 

Aumento de pobreza encomendado hoje

 

“O fim do auxílio emergencial criado na pandemia e o retorno ao Bolsa Família nos valores atuais colocaria, automaticamente, cerca de 7 milhões de brasileiros na pobreza, considerando uma faixa de renda mensal de R$ 260 per capita. Serão 34 milhões de pessoas, patamar bem superior aos 23 milhões do final de 2019, antes da pandemia (aumento de 11% para 16% da população). "Para 2023, você tem um aumento de pobreza encomendado hoje" – Marcelo Neri, diretor do FGV Social – Folha de S. Paulo, 07-11-2021.

 

Principal herança: não fazer o que Bolsonaro fez

 

"A principal herança que o governo Bolsonaro deixará para o próximo governo é o desafio de recuperar o crescimento econômico, pautado por políticas fiscais e monetárias sólidas, e não por populismos ocasionais. É, fundamentalmente, não fazer o que ele [Bolsonaro] fez" - Fernando Ribeiro Leite, professor do Insper – Folha de S. Paulo, 07-11-2021.

 

Abrindo mão do que tínhamos

 

"Conseguimos desenvolver um sistema de monitoramento e combate ao desmatamento super eficaz. Só que a gente descobriu que esse sistema está exposto ao ciclo político. (...) O que estamos vendo no Brasil, que deveria se beneficiar desse processo, é que a gente está abrindo mão disso. O custo Brasil sempre esteve associado à dificuldade de se fazer negócios no país, e agora a gente tem um elemento novo que tem a ver com essa questão ambiental, na qual a Amazônia talvez seja o ponto mais evidente" - Juliano Assunção, diretor-executivo do CPI (Climate Policy Initiative) Brasil e professor da PUC-Rio – Folha de S. Paulo, 07-11-2021.

 

70% dos trabalhadores recebem menos do que antes da pandemia

 

“70% dos trabalhadores recebem, hoje, menos do que recebiam antes da pandemia, em 2019. E esses dados nem estão com atualização precisa. O economista Daniel Duque fez o estudo, na Fundação Getulio Vargas, com dados até junho. Mas nos quatro meses desde então, os componentes da pesquisa só a fariam mais ácida. A favor de Bolsonaro e Paulo Guedes, a pesquisa teve a correção de registrar ganhos, também: nos 30% que tiveram ganho ou, ao menos, nada perderam, os 10% mais abonados ganharam 8% limpinhos. Os preços dos alimentos consumidos pelas camadas mais pobres aumentaram 20% nos últimos 12 meses e agressivos 40% durante a pandemia” – Janio de Freitas, jornalista – Folha de S. Paulo, 07-11-2021.

 

Milícias do Sudeste na Amazônia

 

“Até o Banco Central reduz as estimulantes previsões que emite. Não é preciso dizer mais. Exceto sobre a miséria que se alastra, a fome, a nova onda assassina contra os indígenas. E sobre o sugestivo prestígio das milícias do Sudeste que se implantam na exploração clandestina da Amazônia. Como Bolsonaro e a cúpula da Polícia Federal sabem” – Janio de Freitas, jornalista – Folha de S. Paulo, 07-11-2021.

 

Bela proposta e mais pobres cada vez mais vulneráveis

 

“O governo brasileiro pode levar (para a COP26) uma bela proposta, que não está sendo amplamente discutida com a sociedade ou com a academia. As ações são tão contundentes no sentido contrário que uma meta que não tenha a clareza de etapas, como vai ser atingida, tem pouco efeito. O Brasil está perdendo um tempo precioso. A gente discute muito a questão da redução das emissões dos gases de efeito estufa, sobretudo porque essa emissão vem do desmatamento, mas não vem discutindo adequadamente ações de adaptação, num país em que as camadas sociais mais pobres estão cada vez mais vulneráveis” - Mercedes Bustamante, professora de ecologia da Universidade de Brasília desde 1993. Integra a Academia Brasileira de Ciências e a Academia Nacional de Ciência dos EUA, participou do quinto relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) – Folha de S. Paulo, 07-11-2021.

 

Mourão e o golpe da Samaúma

 

“Bem que a delegação brasileira tentou fantasiar-se de boa moça na cúpula do clima em Glasgow. Elevou de 43% a 50% a meta de corte de gases do efeito estufa em 2030 e assinou um compromisso de 96 países para reduzir em 30% o metano nesta década e uma declaração de boas intenções sobre florestas, com 124 nações. Só que não: neste caso, também, foi golpe. "Golpe" no sentido de conto do vigário, logro, estelionato, engodo. Jair Bolsonaro não tem intenção de cumprir nada do que promete. O cheiro de queimado vem das ações, omissões e enganações do governo. Elas não se limitam ao ocupante do palácio do Planalto, envolvem também seu vice, Hamilton Mourão. Mesmo rebaixado a zelador da Amazônia, o general se fez cúmplice do presidente ao ensaiar comédia para inglês ver na COP26. Cúmplice ludibriado, pois Bolsonaro deixou Mourão falando sozinho ao não renovar sua terceira excursão à floresta, a operação GLO (garantia da lei e da ordem) Samaúma” – Marcelo Leite, jornalista de ciência e ambiente – Folha de S. Paulo, 07-11-2021.

 

Planalto e Congresso – sócios da destruição da Amazônia e do cerrado

 

“Se o resultado oficial, que já deve estar pronto, fosse bom, é de esperar que o Planalto o anunciasse antes de Glasgow. O único dado recente não veio do governo e é ruim para o Brasil: suas emissões de carbono em 2020 subiram 9,5%, segundo o consórcio de ONGs Seeg. É isso o que o Brasil tem para mostrar em Glasgow: descontrole sobre sua maior fonte de emissões de carbono. Com o prontuário de agressões ao ambiente no governo Bolsonaro e sua propaganda enganosa, de nada adianta reciclar meta de seis anos atrás, assinar declaração de florestas e prometer redução de metano. Planalto e o Congresso apinhado de pecuaristas são sócios na destruição da Amazônia e do cerrado. Mourão é o boi dessas piranhas” – Marcelo Leite, jornalista de ciência e ambiente – Folha de S. Paulo, 07-11-2021.

 

E se a economia voltar a crescer?

 

“O Brasil se comprometeu na Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP-26) a reduzir até 2030 as emissões dos gases de efeito estufa em 50% e do metano em 30%, e a eliminar o desmatamento ilegal até 2028. Essas metas são alcançáveis? A resposta está nas margens de três fontes de emissões: queimadas, agropecuária e uso de energia. (...) Mas, e se a economia crescer e, com ela, as emissões por consumo de energia, que representam 18% do total? Aí o Brasil tem pouca margem, com seus 83% de eletricidade por fonte renovável, ante 29% do mundo. Será preciso investir mais em eólica e solar” – Lourival Sant’Ana, jornalista – O Estado de S. Paulo, 07-11-2021.

 

Tudo é possível

 

“Bem... se é possível o presidente negar a ciência na pandemia, no ambiente, na vida e na morte e ganhar uma medalha do mérito científico, se confunde John Kerry com o humorista Jim Carrey, se chama a Torre de Pisa de Torre da Pizza e seus apoiadores dentro e fora do Congresso acham natural, até bacana, tudo é possível no Brasil” - Eliane Cantanhêde, jornalista – O Estado de S. Paulo, 05-11-2021.

 

Igreja evangélica – estado de bem-estar social informal

 

“Conforme o antropólogo Mauricio de Almeida Prado sintetizou: nesses lugares onde a presença fraca do Estado causa tantas dificuldades, a igreja evangélica funciona como uma espécie de estado de bem-estar social informal. (...) Por isso, a literatura antropológica e sociológica sobre o assunto aponta que a conversão ao cristianismo evangélico melhora a condição de vida dos brasileiros pobres. E são melhoras reais, conforme os exemplos a seguir indicam” - Juliano Spyer, antropólogo, doutor pela University College London e autor de “Povo de Deus - Quem são os evangélicos e por que eles importam” (ed. Geração 2020) – Folha de S. Paulo, 08-11-2021.

 

Empoderamento das mulheres

 

“Evangélicos são recorrentemente descritos como machistas porque a Bíblia defende que a mulher seja submissa à vontade do marido. Esse argumento desconsidera o empoderamento que resulta da limitação imposta aos homens, que deixam de frequentar bares, gastar com bebidas e manter relacionamentos paralelos. A economia vai para a reforma da casa e para pagar planos de saúde e transporte para filhos e filhas estudarem em escolas melhores, mas distantes” - Juliano Spyer, antropólogo, doutor pela University College London e autor de “Povo de Deus - Quem são os evangélicos e por que eles importam” (ed. Geração 2020) – Folha de S. Paulo, 08-11-2021.

 

Evangélico progressista

 

“Enquanto intelectuais e formadores de opinião definirem o evangélico progressista como aquele que defende a legalização da maconha e do aborto, não haverá diálogo com a maior parte dos mais dos 60 milhões de evangélicos no país. Se a definição de evangélico progressista incluir aqueles favoráveis a melhorar a qualidade do ensino público, combater a corrupção e promover a justiça social, o número de evangélicos progressistas será muito maior. Está em jogo o resultado da eleição do ano que vem” - Juliano Spyer, antropólogo, doutor pela University College London e autor de “Povo de Deus - Quem são os evangélicos e por que eles importam” (ed. Geração 2020) – Folha de S. Paulo, 08-11-2021.

 

Novo rei…

 

“O deputado Danilo Forte (PSDB-CE) foi buscar em Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, a ilustração perfeita para a maneira como Arthur Lira e o Centrão comandam a farta distribuição de benesses” – Coluna do EstadãoO Estado de S. Paulo, 07-11-2021.

 

…Do Baião

 

“Diz a letra de um dos clássicos do “Seu Lua”: “Uma pra mim, uma pra mim / uma pra tu, outra pra mim / uma pra mim, outra pra tu / uma pra mim, outra pra mim”. Faz muito sentido” – Coluna do EstadãoO Estado de S. Paulo, 07-11-2021.

 

‘Toma lá, dá cá’

 

“A decisão da ministra Rosa Weber foi histórica! O orçamento secreto, além de secreto, é uma garantia do ‘toma lá, dá cá’. Favorece os amigos do governo” - Randolfe Rodrigues, senador (Rede-AP) – O Estado de S. Paulo, 07-11-2021.

 

Indicativo

 

“O fato de um partido como o PSDB provavelmente terminar esse processo interno bastante rachado é indicativo da própria dificuldade em se formar um nome de terceira via. Sem esse nome e diante de um número amplo de possibilidades, o espaço do ‘nem-nem’ (nem Lula, nem Bolsonaro) não é ocupado” - Creomar de Souza, cientista político – O Estado de S. Paulo, 08-11-2021.

 

Luto e uma onda de conforto

 

“Quando a Marilyn morreu, eu senti muitas coisas, mas não senti terror da morte dessa maneira. Às vezes acho que, quando eu morrer, vou estar me juntando à Marilyn e sinto uma onda de conforto. Mas quando olho para essa afirmação, me parece um tanto absurda. Sou ateu desde que consigo me lembrar e, ainda assim, pensar dessa maneira me traz conforto. Isso me diz bastante sobre o que as religiões oferecem à humanidade desde o começo dos tempos. A ideia de que a vida não é o fim, de que haverá alguma forma de continuidade, e isso oferece algum tipo de conforto” - Irvin D. Yalom, 90 anos, escritor e psiquiatra americano, autor de Uma Questão de Vida e Morte – Amor, Perda e o que Realmente Importa no Final (Ed. Planeta) e responsável por best-sellers como Quando Nietzsche Chorou e A Cura de Schopenhauer, falando do luto pela morte de sua esposa, Marilyn – O Estado de S. Paulo, 08-11-2021.

 

‘Depois de Hitler e o holocausto é possível crer em Deus?’

 

“É difícil ser um humano e ter considerações profundas sem parar, em algum momento, para perguntar sobre a questão da morte. Todos lidamos com isso da maneira que nos ensinaram desde pequenos. Por exemplo, os meus pais vinham de uma vila pequena na Rússia, não tinham dinheiro e nem educação, abriram uma mercearia pequena e escaparam da Europa logo antes de Hitler tomar tudo e vieram aos Estados Unidos. Me lembro que, quando eu estava me preparando para o meu bar mitzvah, que ocorre quando você tem 13 anos – tem preces e discurso e eu estava preparando isso –, perguntei ao meu pai: “Você acreditava em Deus?”. Ele disse: “Depois de Hitler e do holocausto, como é possível crer em Deus?”. Essa foi a resposta dele a isso e eu acho que provavelmente tem sido a minha também”- Irvin D. Yalom, 90 anos, escritor e psiquiatra americano, autor de Uma Questão de Vida e Morte – Amor, Perda e o que Realmente Importa no Final (Ed. Planeta) e responsável por best-sellers como Quando Nietzsche Chorou e A Cura de Schopenhauer, falando do luto pela morte de sua esposa, Marilyn – O Estado de S. Paulo, 08-11-2021.