“Há dias, o garoto Luiz Felipe Salinas Almeida, 20 anos, tocava seu violoncelo numa rua de Santos quando ouviu algo se chocando contra a madeira do instrumento. Sem parar de tocar, examinou-o e viu a baba escorrendo. Alguém o alvejara com um ovo. Diante da gratuita brutalidade, Luiz Felipe teve vontade de chorar. Mas se segurou e continuou tocando. Os transeuntes que o ouviam olharam em torno tentando identificar quem fizera aquilo. Não conseguiram - o ovo poderia ter vindo de alguma janela. Outros perceberam a agressão e aproximaram-se, solidários. Isso só ampliou a humilhação de Luiz Felipe. Como ele disse depois, não queria ser objeto de piedade” – Ruy Castro, jornalista e escritor – Folha de S. Paulo, 25-10-2021.
“Resta ver até quando nossa sensibilidade resistirá à selvageria oficial, emanada dos atuais ocupantes do poder. Nunca o Brasil foi reduzido a tal rudeza e sordidez. A pessoa que atirou o ovo personifica esse Brasil” – Ruy Castro, jornalista e escritor – Folha de S. Paulo, 25-10-2021.
“Podem dizer o que quiserem. O teto de gastos morreu. Só não foi enterrado porque no momento não há outra âncora fiscal para ficar no lugar, e o governo (Centrão) precisa sustentar a narrativa enganosa de que o teto está vivo para não piorar a crise econômica. É falsa a versão do presidente Jair Bolsonaro de que não houve furo no teto e que o aumento de gastos será feito dentro das regras orçamentárias” – Adriana Fernandes, jornalista – O Estado de S. Paulo, 23-10-2021.
“O ponto central de toda essa crise em torno do Auxílio Brasil, da ruptura do teto e da debandada da equipe de Paulo Guedes é que o presidente e as lideranças do Centrão tiraram a máscara e estão ignorando a reação nervosa do mercado. A avaliação no Palácio do Planalto é de que é preciso ganhar a eleição de 2022 e, para isso, será necessário colocar “dinheiro na veia do povo” Adriana Fernandes, jornalista – O Estado de S. Paulo, 23-10-2021.
“O teto de gastos morreu semana passada. Não morreu na mão de um ministro heterodoxo do PT, morreu na mão de um Chicago boy. Não morreu porque era preciso gastar mais com pobre, morreu porque continua sendo necessário gastar mais para gastar com pobre. Ninguém conseguiu aumentar imposto de rico, ninguém conseguiu cortar gasto com setores não-pobres, quem decide eleição é pobre, o gasto aumenta” – Celso Rocha de Barros, doutor em sociologia – Folha de S. Paulo, 25-10-2021.
“O presidente entrou em desespero, ao ver a eleição chegando e sua popularidade caindo. Antes, havia um pudor de ser tachado de 'coveiro do teto de gastos', isso acabou” - Marcos Mendes, economista do Insper – Folha de S. Paulo, 25-10-2021.
“O que tem ditado a política econômica é o desejo do centrão de acumular votos e Bolsonaro é refém disso, por ter perdido o controle do governo” - Marcos Mendes, economista do Insper – Folha de S. Paulo, 25-10-2021.
“De uma víbora: "O Posto Ipiranga de Jair Bolsonaro virou uma daquelas casas pelas quais, segundo o escritor Guimarães Rosa, homens sérios entravam, mas por elas não passavam" – Elio Gaspari, jornalista – Folha de S. Paulo, 24-10-2021.
“O ex-ministro Mailson da Nóbrega disse tudo: "Parece um grande manicômio" – Elio Gaspari, jornalista – Folha de S. Paulo, 24-10-2021.
“Tanto a nova pesquisa do Insper, que aponta uma queda na desigualdade de renda no Brasil entre 2002 e 2015, quanto estudos anteriores, que observaram um aumento ou estabilidade do indicador, concordam em um ponto: não importa a metodologia usada, o patamar de iniquidade brasileiro está entre os mais altos do mundo. Por isso, muitos estudos investigam as causas da desigualdade no país e das mudanças em sua trajetória. Eles são consideradas cruciais para embasar políticas públicas efetivas de combate ao problema. "Olhar para mudanças na desigualdade nos permite avaliar as políticas sociais que foram feitas, como a expansão de programas de assistência e do salário mínimo, a regulação do mercado de trabalho e o aumento da escolaridade", diz a economista Cecília Machado, professora da FGV/EPGE, economista-chefe do Bocom BBM e colunista da Folha” - Érica Fraga, Douglas Gavras e Gustavo Queirolo, jornalistas – Folha de S. Paulo, 24-10-2021.
“A gambiarra para aumentar as despesas do governo federal em 2022 não deve ser suficiente para pagar a conta do pacote eleitoral previsto por Jair Bolsonaro, pelo centrão e por outros planos do Congresso. Pelo que está na emenda constitucional até agora, o aumento de gastos possível será de R$ 94,1 bilhões, somados o teto mais alto e o calote provisório, digamos, dos precatórios. A emenda ainda precisa ser votada na Câmara e no Senado. Há um acordão geral, entre quase todos os partidos e os comandos das duas casas, para aprovar o pacote. Mas não vai dar para todo mundo. (...) Na manhã de sexta-feira (22), ouvia-se de gente do Congresso que era preciso arrumar algum auxílio para parte dos cerca de 18 milhões de pessoas que devem ficar sem nada. A conta ainda vai aumentar. Há quem diga, de resto, que o novo espaço fiscal não chega a R$ 94,1 bilhões. Pior ainda” – Vinicius Torres Freire, jornalista – Folha de S. Paulo, 24-10-2021.
“A questão aqui é saber qual vai ser a mumunha que vão inventar para pagar aumento ainda maior da despesa, além daquilo que seria permitido pela gambiarra. Inventar maneira nova de reajustar o valor do "teto" vai ser difícil. Inventar uma despesa extra-teto aumentado causará escândalo adicional. Convém lembrar que, se o Congresso inventar um novo jeitinho, por meio de emenda constitucional, Bolsonaro não poderá vetar a nova despesa (mesmo que quisesse). As próximas semanas ainda serão animadas”– Vinicius Torres Freire, jornalista – Folha de S. Paulo, 24-10-2021.
“A política econômica do governo Jair Bolsonaro é cruel. Vivemos a maior perda de poder aquisitivo desde a hiperinflação e a resposta é vale gás e vale fome” - José Luiz Penna, presidente nacional do PV – O Estado de S. Paulo, 24-10-2021.
“Jair Bolsonaro já está imortalizado como o presidente mais mentiroso do Brasil, mas deve-se admitir que pelo menos uma vez ele falou a verdade —que seu governo viria não “para construir, mas para desconstruir”. Disse isso em março de 2019, num jantar para empresários, políticos e jornalistas em Washington, tendo à sua direita o astrólogo Olavo de Carvalho, que lhe soprava frases. Uma delas, a de que a desconstrução era indispensável porque ele recebera um país rumando para o comunismo. Os gringos não sabiam que Michel Temer, seu antecessor, era comunista. Bolsonaro tem mais do que cumprido a promessa. Está desconstruindo não só o que herdou dos governos, segundo ele, de esquerda, mas até o que seu dileto regime militar deixou” – Ruy Castro, jornalista e escritor – Folha de S. Paulo, 20-10-2021.
“Qual a “solução” encontrada pelo Centrão e pelo Planalto para incrementar a “capacidade eleitoral” de Bolsonaro? Distribuir dinheiro, ideia nada criativa e de fortes efeitos colaterais nas contas públicas, mas que, no imaginário político, está para os moribundos eleitorais como a poção mágica do druida Panoramix para Asterix. Porém, diferentemente do mundo das HQs, nada garante que Bolsonaro conseguirá esmagar seus inimigos. Com o preço da gasolina beirando R$ 7,50 em várias regiões do País e com 600 mil mortes por covid-19 no seu lombo, o presidente precisará de muito mais do que distribuir dinheiro. Certo, por enquanto, é que o Centrão fará bom uso do auxílio (pois já o fez nos governos petistas) em suas “bases” para, no futuro, quem sabe, barganhar apoio a outro presidente” – Alberto Bombig, jornalista – O Estado de S. Paulo, 23-10-2021.
“Eles (bolsonaristas desiludidos) não encontram um nome alternativo. São, inclusive, pessoas que nunca votaram no PT e dizem que se for agora Bolsonaro e Lula, votam no Lula. Porque é aquela ideia de comparação. Eles não gostam de nenhum dos dois. Se tivesse outro nome seria o que eles gostariam. Especialmente nesse público dos arrependidos. É um público muito ligado à agenda da corrupção, que gosta da Operação Lava Jato, fica triste por ela ter acabado. A ideia é tirar o Bolsonaro” – Carolina de Paula, cientista política, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ) – O Estado de S. Paulo, 23-10-2021.
“O que a gente percebe é que esses arrependidos têm um perfil mais assim de uma escolaridade um pouco mais alta, e era aquele público que estava motivado, gostava muito, do Sérgio Moro. Digamos assim, era aquele eleitor mais lavajatista. Mas se a gente tivesse de dizer, seria este perfil de escolaridade maior, que é interessado por política e tem a agenda de corrupção muito forte”– Carolina de Paula, cientista política, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ) – O Estado de S. Paulo, 23-10-2021.
“Acho que o conservadorismo é muito menor do que a gente imaginava. No sentido de que o conservadorismo conseguiu penetrar, faz parte da cultura brasileira, a gente sabe, mas é muito menor. O Bolsonaro não trouxe essa coisa, não inventou um novo conservadorismo. E ele aproveitou muito da questão contextual. Digamos, ele conseguiu capturar o espírito de 2018, da melhor forma, quando a gente trata da motivação do voto. Ele soube trazer para ele o antipetismo. E ele era uma pessoa muito desconhecida, né? Então agora, quando os eleitores começam a passar por esse momento de crise, começam a avaliá-lo, dizendo que ele não era a pessoa ideal. E outra: a questão da corrupção volta a aparecer como um problema do Brasil mesmo. Então a gente vê esse público, por exemplo, que desistiu de apoiar o Bolsonaro, ele acredita que realmente a agenda da corrupção vai ficar para sempre aí no Brasil. É muito difícil de resolver. Então, ele dá um choque de realidade nessas pessoas que tinham uma esperança. Ele traz essa realidade que o jogo político, a corrupção, faz parte também da política. As pessoas passam a valorizar temas que estavam fora da agenda em 2018. Por exemplo, a questão da saúde, que é o tema do momento e que vai guiar a eleição, junto com a economia”– Carolina de Paula, cientista política, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ) – O Estado de S. Paulo, 23-10-2021.
"O desgoverno Collor foi uma expressão dos segmentos mais arcaicos da sociedade brasileira. Era um governo sem projeto que caiu de podre", afirma Walter Salles, que tem em "Terra Estrangeira" seu segundo longa de ficção — o primeiro foi "A Grande Arte", de 1991". – Carolina de Paula, cientista política, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ) – O Estado de S. Paulo, 23-10-2021.
"O que estamos vendo [hoje] é pior. Há um projeto de milicialização da política brasileira em curso, que se traduz no ódio à ciência, à educação pública, à equidade racial, às reservas indígenas, às nossas florestas, à diversidade de cor e gênero, à cultura. É novamente o que há de mais arcaico no poder, se mesclando agora à violência mais primitiva. Como Collor, Bolsonaro deixa um país devastado, em profunda crise identitária, sem presente e sem futuro”– Carolina de Paula, cientista política, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ) – O Estado de S. Paulo, 23-10-2021.
“A igualdade se tornou um valor fundamental — não só a igualdade em ato, aferível no índice de Gini, mas também a imaginada, que esculpe nossas utopias. Nem sempre foi assim. Ideias de igualdade pareceriam exóticas a um europeu do século 16. É a partir dos séculos 17 e 18 que o conceito vai sendo forjado e ganha corpo, especialmente na França. "A Paixão da Igualdade", de Vinicius de Figueiredo, um velho amigo dos tempos da graduação, conta essa história” – Helio Schwartsman, jornalista – Folha de S. Paulo, 24-10-2021.
“Vinicius inicia e encerra o livro explorando a tensão entre liberdade e igualdade. As duas não são tão compatíveis. Um sujeito que não tenha nem o que comer não é muito livre. E a liberdade não serve para muita coisa se não permitir que cada um de nós se singularize e, assim, se diferencie dos demais. Cada sociedade, por definição, vem com seu "blend" de liberdades e igualdades. Os ingleses sempre deram mais atenção às liberdades. Inventaram o liberalismo. Os franceses nutrem paixão pela igualdade. Deu na revolução” – Helio Schwartsman, jornalista – Folha de S. Paulo, 24-10-2021.
“Steve Bannon, ex-extrategista de Trump, se tornou uma espécie de conselheiro de Eduardo Bolsonaro. O americano já disse que a disputa brasileira é "a segunda mais importante do mundo" e considera a reeleição do presidente uma plataforma para reerguer um bloco internacional de extrema direita. Sua especialidade é a desinformação política. (...) Ainda que Jair Bolsonaro tenha interrompido a campanha de ataque às urnas para evitar uma punição dos tribunais, ninguém duvida que o presidente e sua base vão tentar tumultuar a campanha e contestar o resultado da corrida de 2022 com o apoio dessa rede internacional” – Bruno Boghossian, jornalista – Folha de S. Paulo, 24-10-2021.
“Um leitor de folhas de chá acredita que, se Jair Bolsonaro perceber que não terá chances de vitória na eleição presidencial, procurará abrigo numa disputa para o Senado ou mesmo para a Câmara. Se isso acontecer, o recuo do capitão nada terá a ver com apreço pelo Legislativo. Será uma busca de imunidade” – Elio Gaspari, jornalista – Folha de S. Paulo, 24-10-2021.