17 Setembro 2021
A sociedade civil, incluindo igrejas, devem descobrir o que significa, na era digital, o que significa ter privacidade, autodeterminação e segurança para garantir igualdade e justiça no espaço digital, defendeu a presidenta da Fundação Heinrich Böll, Dra. Ellen Ueberschär, no Simpósio Internacional sobre Justiça Social na Era Digital, sob o tema “Instrumentos Digitais – Bênção ou Maldição?”, reunido dias 13 a 15 de setembro em Berlim. “Os direitos fundamentais não prevalecerão por conta própria ou por meio de compromissos voluntários das empresas”, alertou.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
O alerta de Ueberschär teve o reforço das palavras do diretor do Escritório de Berlim da Open Society Foundation, Goran Buldioski. As empresas de tecnologia, apontou, tiveram grande liberdade para decidir sobre aspectos do funcionamento do espaço público digital e da governança da tecnologia nas últimas duas décadas. Elas fizeram isso sem responsabilidade específica para com os líderes eleitos democraticamente.
“Plataformas como o Facebook e o Google têm tanto – ou mais – poder do que muitos estados-nações sobre nossa vida pública. Mas eles não enfrentam nenhuma responsabilidade genuína. Elas são o novo sistema operacional da sociedade, lucram com a amplificação de conteúdo sensacionalista, minam as eleições por meio da microssegmentação opaca de mensagens odiosas e evisceram fontes legítimas de notícias essenciais para cidadãos bem informados”, afirmou Buildioski.
Na abertura do encontro, o presidente do Conselho da Igreja Evangélica da Alemanha (EKD), bispo Dr. Heinrich Bedford-Strohm, disse que “as plataformas não avaliam o conteúdo político, não concebem os seus algoritmos de acordo com critérios de verdade ou certos valores fundamentais, mas simplesmente de acordo com quanto dinheiro pode ser feito através da publicidade. Se o conteúdo extremo gera os maiores lucros financeiros, os algoritmos empurram-no para a frente, não importa o quanto prejudique a cultura democrática ou a promoção da dignidade humana”.
Numa mesa que reuniu teólogos, jornalistas, políticos, comunicadores eclesiais e ativistas, a jornalista Holger Starck, integrante da equipe de reportagem que descobriu a história do spyware Pegasus, relacionou o controle das redes digitais como uma espécie de corrida armamentista.
“Os movimentos sociais se capacitam com esses tipos de ferramentas, mas é mais ou menos público que todos os governos têm seu próprio interesse em acessar conversas de outras pessoas”, assinalou. A cientistas política Geraldine de Bastion, que coordenou a mesa, argumentou, na abertura dos trabalhos, que “a justiça social realmente começa com a conectividade”. Mas, concluiu a mesa, se a justiça social começa com conectividade, talvez termine quando essa conectividade for usurpada por regimes opressores, extremistas, notícias falsas e discurso de ódio.
O ex-presidente da Associação Mundial para a Comunicação Cristã (WACC, a sigla em inglês), o pastor presbiteriano Dennis Smith, pontuou que numa era em que os conglomerados digitais consolidam seu controle sobre a coleta e manipulação de dados em grande escala, é difícil até mesmo definir o espaço público.
As igrejas estão no meio dessas discussões, frisou Bedford-Strohm. “É muito importante que as igrejas ajudem a educar as pessoas e lhes diga que, tudo o que você vê, nem sempre é verdade”, indicou o assessor de comunicação da Igreja Luterana de Cristo na Nigéria, Felix Joseph Samari. A teóloga estadunidense Dra. Angelique Walker-Smith, defendeu a promoção de melhores leis para proteger os espaços digitais. O grupo de debatedores concordou num ponto: As igrejas – e todas as pessoas de boa vontade – precisam reagir contra a difusão de notícias falsas e discursos de ódio.
O Simpósio foi organizado pelo Conselho Mundial de Igrejas, WACC, EKD, Evangelisch Mission Weltweit, Brot für die Welt (Pão para o Mundo), Associação de Igrejas Protestantes e Missão na Alemanha, Federação Mundial Cristã de Estudantes.
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Igrejas precisam reagir contra a difusão de notícias falsas e discursos de ódio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU