Biopolítica, um tema crucial

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03 Setembro 2021

 

"Seria apropriado iniciar não apenas um debate sério e informado, não sobre barreiras ideológicas pré-estabelecidas que não se sustentam mais. Um debate que envolva todos os componentes da sociedade: a política (que depois terá que legislar), mas também a sociedade civil, as religiões, as associações profissionais (seu silêncio na Itália é perturbador, vamos pensar nos médicos, psicólogos, advogados... só para citar alguns)", escreve Fabrizio Mastrofini, jornalista, em artigo publicado por Settimana News, 01-09-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Eis o artigo.

 

O cristianismo deve acertar as contas com a biopolítica, ressalta Andrea Ponso e Andrea Grillo subscreve, porque - acrescenta - uma definição de vida está no centro da fé e não pode suportar reduções, formalizações, essencializações, coberturas, atenções desproporcionais ou amputações indiretas.

É verdade. Eu assino em baixo. Mas gostaria de ressaltar dois pontos.

O primeiro. Os termos mudaram. O que significa "vida" hoje? Normalmente nós, católicos, a definimos "desde a concepção" até a "morte natural". Mas a introdução de tecnologias e a mudança de desejo por parte dos casais mudaram drasticamente o sentido de "desde a concepção". Um filho é desejado, quisto, mas a maternidade pode ser desvinculada do ato conjugal em si. As técnicas de fertilização reprodutiva incidem não apenas a "concepção" biológica, mas também - e acima de tudo - na concepção psicológica e dizem algo sobre o que acontecerá "depois", uma vez que um menino ou uma menina vier ao mundo, para atender as expectativas dos pais ou de um dos progenitores.

A "morte natural". O que é "natural"? Temos tecnologias que estendem o tempo de vida, talvez artificialmente, apresentando novos problemas éticos quando o tempo de vida é estendido de todas as maneiras. Não queremos morrer, é claro, mas às vezes o desejam os familiares, enquanto a pessoa em questão está, talvez, inconsciente e incapaz de se expressar. É a vida nos estado de coma, de consciência mínima e muitas outras situações de limitação? Nós prolongamos "tecnicamente" o tempo de vida, mas não sabemos o que acontece com esses pacientes, incapazes de falar ou com pouca capacidade de interação devido às suas condições clínicas.

A ciência e a técnica intervieram e muito nos temas da vida. E, além disso, a perspectiva bioética mudou de sentido com a Bioética Global: a consideração da vida, mas também da qualidade de vida de cada um, as possibilidades de melhoria, o impacto das condições econômicas e sociais na "qualidade" da vida. E o tema das condições do planeta e dos recursos disponíveis que não são infinitos: temos apenas uma vida e um único planeta em que viver.

A biopolítica torna-se um saber transversal, a ser cruzado com a ética e com a Bioética Global: as escolhas em cada etapa preveem junções, consequências e as legislações jamais poderão abranger todos os casos possíveis, não poderão prever o que fazer nas diversas infinitas situações. Portanto, informações detalhadas e aprofundadas são necessárias; um consenso informado, não ideológico, que é antes de tudo um dever para cada um, para cruzar os dados e as possibilidades que a ciência oferece com a própria crença, convicção, sentimento profundo. Não é pouco.

Mas não é pouco também o segundo ponto, este mais "católico". No aprofundamento do significado de “vida”, diferentes concepções se chocam, com os setores tradicionalistas em primeiro plano, a ponto de recusar a constatação da morte cerebral, permanecendo ancorados à morte por parada cardiocirculatória. Para eles, "qualidade" é um conceito que simplesmente não existe.

Ou temos aqueles que rejeitam qualquer "evolução" da sensibilidade social e cultural, julgando-a simplesmente errada. Vejam o caso do possível referendo sobre a eutanásia, visto como "submissão" ou um sinal "diabólico", como em sua época foi o aborto ou mesmo o caso do divórcio.

Ou silêncio total e absoluto sobre as questões das Diretivas Antecipadas de Tratamento (Dat). Estamos lidando com uma parte do mundo (inclusive católico) que, acima de tudo, rejeita a própria ideia de se confrontar com a "complexidade". Vejam os "no vax" católicos e não católicos: melhor pensar em uma conspiração universal do que perceber que estamos vivendo uma mudança planetária provocada pelo vírus.

E os documentos do Magistério também deveriam ser relidos, precisamente pela complexidade inédita das questões que temos diante de nós. Seria apropriado iniciar não apenas um debate sério e informado, não sobre barreiras ideológicas pré-estabelecidas que não se sustentam mais.

Um debate que envolva todos os componentes da sociedade: a política (que depois terá que legislar), mas também a sociedade civil, as religiões, as associações profissionais (seu silêncio na Itália é perturbador, vamos pensar nos médicos, psicólogos, advogados... só para citar alguns).

A biopolítica é o tema dos temas. Quem sabe como será articulada!?

 

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