O que é ser um artista? Para muitos basta fazer arte para ser artista. Essa definição não está errada. Mas, para Caetano Veloso, só ela não basta. Tido por muitos como um dos pilares da Música Popular Brasileira (MPB), Caetano figura não só como um músico, mas um pensador essencial para entender o Brasil e um intelectual contemporâneo.
A reportagem é de André Cardoso, estagiário e aluno do curso de Jornalismo da Unisinos.
Essa afirmação de que Caetano é muito mais do que um artista vai ao encontro do que afirma o doutor em Literatura Brasileira pela PUC-Rio, Júlio Cesar Valladão Diniz. “Creio que ele não só ocupa o seu lugar único como artista, como também se faz presente no debate das ideias, em particular no espaço da política, da ética e dos costumes. Arrisco a dizer que Caetano está muito próximo do que se imagina e deseja de um intelectual contemporâneo, o homem público que encarna com espírito crítico, pensamento propositivo e paixão, o debate, as polêmicas e a guerra de relatos que marcam o nosso tempo”, disse, em entrevista concedida à Revista IHU On-Line número 549, intitulada Caetano Veloso. Arte, política e poética da diversidade.
Surgindo na cena da música brasileira durante a ditadura militar, o baiano nascido na cidade de Santo Amaro logo ocupou seu espaço à frente do movimento de vanguarda chamado de Tropicalismo. Mas o que é o Tropicalismo? Para o mestre e doutor em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Eduardo Guerreiro Brito Losso, o movimento é um mito de origem. “A entrada de uma nova fase da indústria cultural, a fase pós-moderna”, resumiu na entrevista concedida à Revista IHU On-Line dedicada ao tema: Tropicalismo. O desejo de uma modernidade amorosa para o Brasil.
Losso reforça as raízes antropofágicas do movimento, providas, principalmente, de Mario de Andrade e do movimento Modernista. “Levou a antropofagia às últimas consequências, conseguindo com isso, retrospectivamente, tornar mesmo a bossa nova ofuscada pelo seu alcance que, deveras, foi muito maior”.
Mas não foi de cara que o movimento foi aceito como vanguarda e reconhecido com a devida importância que merecia. Quando surgiu, em 1966, foi atacado até mesmo por setores da esquerda, que acusavam Caetano, Gil e Os Mutantes de se venderem para o capital norte-americano, serem burgueses e alienados políticos. Ainda assim, foram os tropicalistas que incluíram, segundo Pedro Bustamante Teixeira, “os Beatles, a arte pop, a alegria oswaldiana e a contracultura nas rodas das esquerdas. E sempre com um senso de responsabilidade muito grande diante do público, algo inédito no Brasil”. Na edição da Revista IHU On-Line 476, intitulada Ousadia e sensibilidade. Caetano e Gil, duas vidas em uma só, o pesquisador reiterou: “A dupla não só agia, como também não se furtava a explicar as suas razões e os seus propósitos”.
Para Caetano essas críticas foram ainda mais acentuadas, justamente, por seu modus operandi em relação ao engajamento com movimentos sociais. “...seguiu um pouco a vertente do Bob Dylan, participando de modo eventual em alguns movimentos. Nunca foi adepto de uma arte engajada e participante, mas, antes, de uma arte que se engaja nela mesma e procura produzir engajamento dentro dela mesma”, pontua o escritor e professor do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da Universidade Federal Fluminense – UFF, Adalberto Müller.
Por exemplo, cita o pesquisador, Caetano se aproximou desde cedo do pensamento liberal no campo político e a pensadores livres como Friederich Nietzsche. “Eu acredito que Caetano Veloso sempre teve uma postura contestatória, tanto que há pouco tempo ele passou a fazer uma releitura do estalinismo e de certas ideias do comunismo, embora nada disso impeça que ele mude de opinião de uma hora para outra”, reforça. Essa postura experimentalista e contestatória, obviamente, também é vista na obra do baiano e no movimento Tropicalista.
Para discutir de maneira mais profunda a carreira de Caetano e suas diversas fases, o Instituto Humanitas Unisinos - IHU está promovendo o curso “Transcaetanos - tempo, tempo, tempo, tempo”. As aulas propõem uma mirada retrospectiva na longa carreira de Caetano Veloso que culmina no fim de um caminho e em uma nova perspectiva para a canção brasileira no século XXI. Os encontros são ministrados pelo doutor em Letras: Estudos Literários, Pedro Bustamante Teixeira, e ocorrem toda quinta-feira, das 14h às 16h, no Youtube do IHU. Para conferir as duas primeiras aulas deste curso, acesse o canal do Youtube do IHU, onde todas as aulas são transmitidas e ficam gravadas.
A próxima live será transmitida nesta quinta-feira, 26-08-2021.
Além das edições citadas anteriormente, o Instituto Humanitas Unisinos - IHU já publicou outros materiais dedicados ao artista baiano e aos movimentos em que ele se inseriu, como, por exemplo, uma edição da IHU On-Line dedicada especialmente à relação entre Caetano Veloso e Gilberto Gil, além de artigos do próprio músico e entrevistas sobre sua obra e vida, como os listados abaixo.