21 Julho 2021
“Se essa casa queimar, não importa, eles levam seus recursos para seu outro planeta, no céu, no paraíso”, disse à Folha o filósofo e sociólogo francês Bruno Latour, em referência ao negacionismo (da ciência, do clima e dos fatos) como recurso narrativo. Os mais ricos do mundo, no entanto, querem levar ao pé da letra a aposta maníaca de que seus poderes dispensam este planeta cheio de problemas” – Ana Carolina Amaral, jornalista – Folha de S. Paulo, 21-07-2021.
“A disputa dos bilionários sinaliza que suas fortunas não estão a serviço deste mundo (embora o contrário seja bastante evidente). De turismo espacial a assentamentos humanos na Lua, as possibilidades das decolagens vingarem como negócio seguirão expandindo a lógica de que o topo da pirâmide econômica pode mesmo escapar deste mundo exaurido em busca de um lugar seguro —conceito absorvido pela lógica da elite econômica como um espaço restrito, privado, particular, pouco acessível. Ostentação no foguete, claro, afinal os aeroportos há muito tempo viraram rodoviárias” – Ana Carolina Amaral, jornalista – Folha de S. Paulo, 21-07-2021.
“Um mundo profundamente desigual, à beira do colapso climático e ambiental e ainda atravessando uma pandemia exige um mínimo de ponderação ética diante da liberdade de se usufruir de fortunas pessoais” – Ana Carolina Amaral, jornalista – Folha de S. Paulo, 21-07-2021.
“Em 2007, Jeff Bezos, então multibilionário e agora o homem mais rico do mundo, não pagou um centavo em impostos federais sobre a renda. Ele alcançou a façanha novamente em 2011. Em 2018, o fundador da Tesla, Elon Musk, a segunda pessoa mais rica do mundo, também não pagou imposto de renda federal”, diz a reportagem da agência jornalística americana ProPublica, no início de junho, tratando da pauta de que os revezadores do pódio dos mais ricos do mundo têm feito manobras legais para pagar menos impostos do que o restante dos mortais” – Ana Carolina Amaral, jornalista – Folha de S. Paulo, 21-07-2021.
“A crise ecológica e também a pandemia nos lembram que a humanidade pertence à Terra —e não o contrário. É justamente dessa verdade básica que tentam escapar quando disputam a altura a partir da qual podem se ver livres da atmosfera terrestre. Os bilionários tentam provar o poder sobre-humano de não precisar deste planeta” – Ana Carolina Amaral, jornalista – Folha de S. Paulo, 21-07-2021.
“Desde os anos 1980 há algo estranho que excede o neoliberalismo. Minha interpretação é bem simples e infelizmente está sendo confirmada pelos acontecimentos no Brasil, na Rússia, nos EUA, na Inglaterra. Trata-se basicamente do escapismo. Uma parte da sociedade decidiu escapar da Terra e isso explica termos essa incrível divisão no mundo. E não tem nada a ver com a clássica divisão entre vermelho e azul, esquerda e direita. A única forma de explicá-la é trazendo para o quadro o que eu chamo de novo regime climático –que não trata só do clima, mas da Terra” – Bruno Latour, filósofo, antropólogo e sociólogo, autor de, entre outros, dos livros “Diante de Gaia: Oito Conferências Sobre a Natureza no Antropoceno” (ed. Ubu, 480 págs.) e “Onde Aterrar? - Como se Orientar Politicamente no Antropoceno” (ed. Bazar do Tempo, 160 págs.) – Folha de S. Paulo, 12-09-2021.
“É por isso que chamo o que vivemos de novo regime climático: não trata apenas de retirar carbono da atmosfera mas de todas as outras condições da existência. Agora a crise é tamanha que já se entende que o mundo todo vai ser impactado, mas que os mais impactados são aqueles que sofrem com as desigualdades. Fiquei espantado quando soube que seu presidente respondeu que não se importava ou que não podia fazer nada sobre as mortes por coronavírus. Sempre foi básico, até para neandertais, que, se você é um líder, terá que cuidar do seu povo, não pode apenas dizer “que pena, pessoal”. O escapismo é a principal ameaça no mundo. E, comparada a essa ameaça, todas as outras lutas convergem. Há menos de cinco anos o inimigo para os ecologistas era ainda o modelo de desenvolvimento que ignora os limites planetários. Agora nós percebemos que o modernismo implicava na existência de outro planeta para além deste em que vivemos. Mas o modernismo tratava de desenvolvimento, e ainda tentava liderar o mundo. Suas atitudes hipócritas nunca disseram explicitamente “eu não me importo, dê o fora” – Bruno Latour, filósofo, antropólogo e sociólogo, autor de, entre outros, dos livros “Diante de Gaia: Oito Conferências Sobre a Natureza no Antropoceno” (ed. Ubu, 480 págs.) e “Onde Aterrar? - Como se Orientar Politicamente no Antropoceno” (ed. Bazar do Tempo, 160 págs.) – Folha de S. Paulo, 12-09-2021.
“A ideia de que o semipresidencialismo limitaria os poderes de Jair Bolsonaro num eventual segundo mandato é golpista e pobre. É golpista porque cheira ao truque de 1961, quando foi instituído o parlamentarismo para permitir a posse do vice-presidente João Goulart. É pobre porque um Bolsonaro, uma vez reeleito, mastigaria o regime, como Goulart mastigou-o” – Elio Gaspari, jornalista – Folha de S. Paulo, 21-07-2021.
“A máquina da política brasileira não rateia por causa do presidencialismo, mas pela possibilidade da reeleição. Ela transforma presidentes, governadores e prefeitos em mandatários que assumem as funções obcecados pela recondução. Fernando Henrique Cardoso já reconheceu que, historicamente, cometeu um erro. Ele dizia não querê-la e, querendo-a, criou-a. Tanto Lula como Bolsonaro combateram a ideia da reeleição. Sentindo o quentinho da faixa, mudaram de ideia” – Elio Gaspari, jornalista – Folha de S. Paulo, 21-07-2021.
“A LDO de 2022 foi conspurcada por um comportamento pouco republicano para um país que enfrenta uma crise inesperada de gravíssimas proporções sanitária, social e econômica. Os mais de 14 milhões de desempregados, os que dependem do Estado para sobreviver às consequências da pandemia, os jovens de baixa renda que demandam requalificação, os investimentos em infraestrutura e todos os demais programas e projetos de maior retorno social cederam seu possível espaço sob o teto de gastos ao autointeresse de deputados e senadores. Trata-se, na melhor das hipóteses, de uma corrupção moral” – Antonio Delfim Netto, economista – Folha de S. Paulo, 21-07-2021.
“Há algo de muito errado nas regras de um sistema político-partidário-eleitoral cujo equilíbrio sufoca as prioridades orçamentárias da sociedade. O fim do financiamento empresarial de campanha transferiu para o cidadão um ônus indesejado, travestido de "custo da democracia". Produziu uma lei com incentivos tortos, que dá aos próprios beneficiários a prerrogativa de definir o tamanho da conta a ser paga pelos outros. O resultado, portanto, não espanta, mas aprofunda a percepção cada vez mais arraigada na sociedade de que a política lhe virou as costas e existe hoje para servir-se do Brasil, oferecendo-lhe um retorno paulatinamente decrescente” – Antonio Delfim Netto, economista – Folha de S. Paulo, 21-07-2021.
O Executivo é peça fundamental do desarranjo político. Negou a política desde o princípio, apenas para descobrir tardiamente que dela dependia a sua sobrevivência. Politicamente acéfalo, é inepto e incapaz de utilizar os instrumentos à sua disposição, tanto para implementar sua agenda como para estabelecer balizas ao que é aceitável. Gestou um Legislativo sem limites e tornou-se um passageiro solenemente ignorado, como mais uma vez mostrou a "discussão" da LDO. Se ainda sobra ao presidente algum comprometimento com as bandeiras que o elegeram, só lhe resta o veto ao fundão” – Antonio Delfim Netto, economista – Folha de S. Paulo, 21-07-2021.
“O presidente é absolutamente inepto e não tem a menor condição de governar o País. Se você perguntar ao presidente Bolsonaro qual a solução que ele pensa para enfrentar o problema de 18 milhões de desempregados, ele não vai saber responder. Se você perguntar o que ele está pensando para enfrentar o fato de que existem 19 milhões de brasileiros com fome, ele não vai saber o que vai fazer. Se você perguntar o que ele está pensando para melhorar a imagem do Brasil no mundo por conta dos retrocessos ambientais, ele não vai dizer. Se perguntar o que tem que ser feito para o Brasil ter uma política industrial para que o País volte a crescer, ele não vai saber o que dizer. Mas no Brasil não existe impeachment por incompetência, não existe recall. Se existisse, ele já estaria fora do cargo há muito tempo” – Marcelo Ramos, vice-presidente da Câmara – PL-AM – O Estado de S. Paulo, 21-07-2021.
“Bolsonaro precisa sempre ter um inimigo. Ele não sabe governar e não pode permitir que as pessoas conversem com ele sobre os problemas do País. A melhor forma de impedir isso é criar uma crise a toda hora. Hoje sou eu, ontem foi Joice Hasselmann (PSL-SP), anteontem foi Alexandre Frota (PSDB-SP) e, recentemente, foi a Luisa Canziani (PTB-PR). Se não reagirmos, amanhã será Arthur Lira e a Câmara dos Deputados inteira. Bolsonaro não respeita ninguém nem respeita a instituição da Câmara. A hora de reagir é agora. A Câmara precisa demarcar uma linha no chão de até onde ele pode ir. Precisa colocar um cercadinho para mostrar até onde ele pode ir e dali ele não pode passar” – Marcelo Ramos, vice-presidente da Câmara – PL-AM – O Estado de S. Paulo, 21-07-2021.
“Diante das ameaças do vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), de instaurar o impeachment se assumir a presidência da Casa interinamente, o titular Arthur Lira (PP-AL) tem brincado com interlocutores que, a partir de agora, não fará nenhuma viagem oficial” – Coluna do Estadão – O Estado de S. Paulo, 21-07-2021.
“Lira faz analogia com algo que ouve em casa, de sua mulher: ela costuma lembrar que pode até dar corda a ele, mas quem puxa de volta é ela. A reação de Ramos desagradou a governistas: acharam que ele, assim como Bolsonaro, gosta de ser pedra, mas não de ser a vidraça” – Coluna do Estadão – O Estado de S. Paulo, 21-07-2021.
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Bolsonaro, inepto e incapaz, é um passageiro solenemente ignorado – Frases do dia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU