10 Junho 2021
“A melhor maneira de lutar contra o aquecimento global é concentrar a população global nas cidades, mas em cidades menores, com mais áreas verdes, com agricultura
urbana e com uma economia sustentável, aumento das áreas anecúmenas e com regeneração ecológica do mundo” - Alves (27/01/2021)
"O mundo está numa encruzilhada, pois o espalhamento da população traz mais destruição ambiental, mas a concentração em megalópoles de mais de 30 milhões de habitantes vai gerar ilhas de calor e provocar grande mortandade", escreve José Eustáquio Diniz Alves, demógrafo e pesquisador em meio ambiente, em artigo publicado por EcoDebate, 09-06-2021.
Além da emergência sanitária, o mundo vive uma emergência climática e ecológica. Mas o problema ambiental não está simplesmente nas cidades, e sim no crescimento demoeconômico global. Entre 1950 e 2020 a população mundial aumentou mais de 3 vezes (de 2,5 bilhões para 7,8 bilhões de habitantes), mas o PIB aumentou 13 vezes e a renda per capita aumentou 4,1 vezes em 70 anos, conforme mostra o gráfico abaixo.
Fonte: EcoDebate
Isto significa que há mais pessoas com maior poder de compra. Significa que aumentou a produção e o consumo da humanidade. Significa que aumentou a extração de recursos naturais, aumentou a poluição e aumentou a destruição dos ecossistemas. Este processo caracterizado no perverso modelo “Extrai-Produz-Descarta” (Cavalcanti, 2012) é que causa o aquecimento global e a perda de biodiversidade.
Junto com este processo de crescimento demoeconômico houve também o crescimento das cidades. A taxa de urbanização global estava em 30% em 1950, superou 50% em 2008 e deve atingir 70% em 2050, conforme o gráfico abaixo. Por isto, muitas pessoas colocam a culpa dos problemas ambientais nas cidades. Porém, toda a população urbana global ocupa, para moradia, uma área de somente 3% do território terrestre. O que torna destrutivo o impacto urbano é a produção e o consumo de alimentos, de carne animal, de madeira, de água, de energia, etc. A humanidade já ocupa a grande maioria do espaço da Terra com as atividades antrópicas e o impacto vem das cidades e de fora das cidades.
Fonte: EcoDebate
O gráfico abaixo do relatório, Global Environment Outlook, GEO-6, da UNEP, mostra que havia 10 megacidades com mais de 10 milhões de habitantes em 1990, passou para 28 cidades em 2014 e deve chegar a 41 cidades em 2030. As cidades com 500 mil habitantes ou mais eram 294 em 1990, passou para 525 em 2014 e deve alcançar 731 cidades em 2030.
Fonte: EcoDebate
Existe um grande debate acadêmico se é melhor espalhar a população pela área rural e pelas pequenas cidades ou concentrar a população em megacidades – megalópoles. Os dados científicos indicam que o impacto ambiental do espraiamento é maior do que da concentração urbana. Por exemplo, o impacto ambiental de Los Angeles é maior do que o de Nova York. Ou seja, o crescimento dos subúrbios de alta renda são mais prejudiciais ao meio ambiente do que cidades altamente concentradas como Nova York, Tóquio ou Xangai. Nestes sentido, a urbanização traria menos impactos do que a não urbanização.
Mas no artigo “Global multi-model projections of local urban climates” de Lei Zhao et. al., publicado na revista Nature Climate Change, em 04/01/2021, os autores mostram que as grandes cidades do mundo podem chegar a um aquecimento de 4,4º C – muito acima da média global – devido às ilhas de calor. Isto provocaria uma mortalidade grande, pois o ser humano, assim como os demais mamíferos, não suportam temperaturas muito altas.
Desta forma, o mundo está numa encruzilhada, pois o espalhamento da população traz mais destruição ambiental, mas a concentração em megalópoles de mais de 30 milhões de habitantes vai gerar ilhas de calor e provocar grande mortandade. Na minha opinião, a solução está em aumentar a taxa de urbanização e diminuir a população global. Ou seja, a maior parte da população mundial vai viver em cidades, mas as cidades deverão diminuir com o decrescimento demoeconômico.
Desta forma, cidades sustentáveis, com redução do padrão de produção e consumo poderia abrir espaço para a restauração dos ecossistemas. Existem estudos mostrando que o plantio de 3 trilhões de árvores poderia evitar o aquecimento global acima de 1,5º C. A recomendação da campanha “Uma Criança, um Planeta” é que cada casal gere apenas uma criança e plante muitas árvores.
O mundo já passa por uma transição demográfica e vários países e regiões do Planeta vão ter um grande decrescimento. A Europa já apresenta tendência de queda populacional há bastante tempo. A Rússia tem hoje uma população menor do que na época da URSS. O Japão deve ter a sua população reduzida pela metade até o ano 2100. A China deve perder mais de 400 milhões de habitantes até o fim do século e o Brasil deve perder cerca de 50 milhões de habitantes entre 2040 e 2100.
Assim, a tendência do século XXI é de redução da população (com exceção da África Subsaariana) e de aumento da urbanização.
A perspectiva futura é de menos pessoas e uma população mais concentrada nas cidades médias e grandes. Isto abre espaço para aumentar o número de árvores e espalhá-las pela superfície da Terra.
ALVES, JED. O mundo mais urbanizado e as cidades virando saunas, Ecodebate, 27/01/2021. Disponível aqui.
ALVES, JED. Mais árvores e menos gente, Ecodebate, 02/10/2019. Disponível aqui.
ALVES, JED. A urbanização e o crescimento das megacidades, Ecodebate, 22/04/2015. Disponível aqui.
CAVALCANTI, Clóvis. Sustentabilidade: mantra ou escolha moral? Uma abordagem ecológico-econômica. SP, Estudos avançados 26 (74), 2012. Disponível aqui.
Lei Zhao et. al. Global multi-model projections of local urban climates. Nature Climate Change, 04 January 2021. Disponível aqui.
UNEP, Global environment outlook, GEO-6, healthy planet, healthy people, 2019. Disponível aqui.
George Martine, Jose Eustáquio Alves, Suzana Cavenaghi. Urbanization and fertility decline: Cashing in on Structural Change, IIED Working Paper. IIED, London, December 2013. ISBN 978-1-84369-995-8 https://pubs.iied.org/10653IIED/. Disponível aqui.
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Um mundo mais urbanizado e com menor população global. Artigo de José Eustáquio Diniz Alves - Instituto Humanitas Unisinos - IHU