04 Junho 2021
Franco Bonisoli, ex-responsável pelas Brigadas Vermelhas, em 1978 participou no massacre de via Fani onde foi sequestrado Aldo Moro. Preso, julgado e condenado a quatro penas de prisão perpétua, em meados da década de 1980 se dissociou da luta armada e a prisão foi comutada para pena de prisão com término. Em 2008, já livre, ele participou de um grupo formado por vítimas, familiares das vítimas e responsáveis pela luta armada que começam a se reunir, a intervalos regulares e com cada vez mais assiduidade, para encontrar um meio de sanar a fratura que ainda causa dor; uma via alternativa que tem suas raízes no paradigma da justiça restaurativa. Fizemos algumas perguntas a Bonisoli.
A entrevista com Franco Bonisoli é de Marta D'Auria, publicada por Riforma, 01-06-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
O que o levou a concordar em seguir o caminho da justiça restaurativa?
Este caminho começa quando ainda estava na prisão. Em 1983, após o processo pelo assassinato de Aldo Moro, retornei ao presídio de Nuoro onde estava detido tomado por uma profunda crise interior. Já não me reconhecia mais na luta armada, tinha arruinado a minha vida, a da minha família e sobretudo a das vítimas. Achei que minha vida havia chegado ao fim. Outros companheiros meus também estavam passando pelas mesmas situações e então começamos uma greve de fome.
Foi então que aconteceu o que nunca esperávamos: o capelão, Dom Salvatore Bussu, estava preocupado com a gente, com terroristas. Ele nos reconhecia como pessoas e se preocupou com a nossa vida! Foi por volta do Natal e Dom Salvatore decidiu que não celebraria a missa porque seus "irmãos" estavam morrendo. Todos os jornais falaram sobre isso. A partir daí comecei a olhar criticamente para o meu passado, até admitir que eu era um perdedor e que a violência não tem nenhuma possibilidade de sucesso. Quando você está na espiral da violência, abdica de sua humanidade. Senti a necessidade de encontrar minha humanidade perdida. Foi na prisão que comecei a encontrar voluntários e vítimas que me reconheciam como pessoa.
Il libro dell’incontro. Vittime e responsabili della lotta armata a confronto
– O encontro com as vítimas continuou depois de sua libertação definitiva em 2001, usufruindo dos benefícios da lei sobre a dissociação e da nova lei de reforma penitenciária –.
Depois conheci o padre Guido Bertagna que, junto com o criminologista Adolfo Ceretti e a professora de direito penal Claudia Mazzucato, começaram a elaborar encontros entre vítimas, familiares de vítimas e ex-brigadistas (relatados no livro Il libro dell’incontro. Vittime e responsabili della lotta armata a confronto, Il Saggiatore, 2015, ndr). Eu sonhava em poder me desculpar pelo que havia feito e pela dor que havia causado a eles. O incrível é que, durante os encontros, em vez de frieza, desconfiança e talvez raiva - sentimentos legítimos - encontrei reconhecimento como pessoa.
Não somente. Ao longo dos anos, a partir desta série de encontros, cheguei a estabelecer relações de verdadeira e profunda amizade, em primeiro lugar com Agnese Moro. Ainda me lembro do nosso primeiro encontro: ela me convidou para ir à sua casa e eu levei uma plantinha. Conversamos muito. A certa altura, eu disse que ela poderia me perguntar qualquer coisa. Ela não me perguntou sobre o passado, mas queria que eu falasse sobre minha família, sobre o empenho social que eu estava realizando: ela se interessava por mim, pela vida que eu levava. Agnese gosta de repetir que toda pessoa tem direito a ser reconhecida em sua dignidade. O caminho da justiça restaurativa me deu exatamente isso: ser reconhecido como pessoa, com suas fraquezas, fragilidade e a sua dignidade.
O que você recebeu desse caminho que durou anos?
Recebi uma grande lição de vida. No caminho da justiça restaurativa, vi-me tendo que responder pessoalmente por minhas ações. Meus companheiros e eu estávamos acostumados com a responsabilidade coletiva: atrás do grupo nos justificávamos, nos escondíamos. Depois do fim da luta armada, quando você começa a pensar nas vítimas, na dor causada, nas famílias envolvidas, você acaba carregando um sentimento de culpa imenso. Aceitar o encontro com as vítimas permitiu-me enfrentar aquele imenso peso, assumir as minhas responsabilidades e olhar para a frente. À medida que prosseguia, tornei-me mais consciente de mim mesmo, dos meus limites; comecei a questionar-me e a confrontar-me com aquela busca de delicadeza que o tipo de encontro exigia e que por minha vez recebia, em termos de imenso respeito e reconhecimento, não político, mas humano. Este caminho foi uma transição decisiva na minha vida.
Há vários anos, junto com Agnese Moro, você apresenta seu testemunho principalmente para garotos e garotas nas escolas. O que anima esse seu empenho?
Pelo caminho percorrido, é como se me fosse doada uma segunda vida, e então eu me disse: tenho de aproveitá-la ao máximo! Quero colocar-me ao serviço dos outros, em primeiro lugar dos jovens. Depois de ouvir os nossos testemunhos, muitos jovens nos escrevem cartas lindíssimas e comoventes, que confirmam que as nossas vidas são a prova de que o mal não é invencível, não tem a última palavra. Graças ao diálogo e ao confronto autêntico, as nossas vidas se abriram para o futuro. Testemunhar é para mim um ato de responsabilidade.
Em quais projetos você está envolvido hoje, além dos testemunhos cada vez mais numerosos em seu caminho de justiça restaurativa?
Quando estava na prisão de San Vittore, fiz um curso de ioga com a professora Gabriella Cella, criadora do Yoga Ratna, um método que coloca particular atenção sobre a experiência pessoal do praticante. A meditação ioga é uma forma de se conhecer: dentro de cada um de nós existe uma pérola que deve ser recuperada; através de um trabalho sobre o próprio corpo, da respiração, você vai redescobrir e trazer à tona o que de melhor todos nós temos por dentro. Essa experiência me marcou a tal ponto que após vários anos, por incentivo da professora Cella e de alguns de seus alunos, frequentei a Escola para Professores Yoga Ratna (Siyr).
Na pesquisa para escrever meu trabalho de conclusão, descobri a história da reforma da prisão de Tihar em Nova Délhi, elaborada pela diretora Kiran Bedi, que colocava a meditação no centro do modelo de reeducação. Em apenas dois anos a reincidência daquela prisão de 10.000 presos caiu de 70% para 10%, graças aos efeitos da meditação, que permitia aos presos se conhecerem internamente e entenderem os erros cometidos. Hoje eu gostaria de levar adiante esse discurso em nossas prisões. Infelizmente, o lockdown interrompeu o projeto; no entanto, algo está se movendo em colaboração com Eduradio e outros profissionais que atuam com as prisões da região da Emília também no tema da justiça restaurativa. Espero que em breve possa ser inaugurado um curso de ioga em uma dessas prisões.
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O presente de uma segunda vida - Instituto Humanitas Unisinos - IHU