17 Outubro 2020
"A tortura é o pior crime contra os Direitos Humanos. Os torturadores são perversos, sádicos e revelam um grau de maldade inimaginável. São monstros, verdadeiros demônios. Ora, quando pensamos ter chegado no limite máximo possível dessa maldade humana, deparamos com aqueles que - como Jair Bolsonaro, Hamilton Mourão e outros - enaltecem e exaltam, com arrogância e sarcasmo, os torturadores", escreve Marcos Sassatelli, Frade dominicano, doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP) e professor aposentado de Filosofia da UFG.
Na Nota pública “Em repúdio à manifestação de Mourão exaltando Ustra”, do dia 9 deste mês de outubro, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns (Comissão Arns) “manifesta seu mais veemente repúdio à declaração do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, em entrevista para a rede alemã Deutsche Welle, de que o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra (reparem o descaramento e o cinismo!) foi ‘um homem de honra, que respeitou os Direitos Humanos dos seus subordinados’. As palavras do vice-presidente, que é um general reformado do Exército, não apenas desonram as Forças Armadas, como agridem a dignidade dos que padeceram nas mãos desse torturador já condenado pela Justiça”.
Trata-se de uma declaração que, para qualquer pessoa com um mínimo de sensibilidade humana, dá nojo. Hamilton Mourão deve estar pensando que os brasileiros e brasileiras são todos e todas idiotas.
A tortura é o pior crime contra os Direitos Humanos. Os torturadores são perversos, sádicos e revelam um grau de maldade inimaginável. São monstros, verdadeiros demônios. Ora, quando pensamos ter chegado no limite máximo possível dessa maldade humana, deparamos com aqueles que - como Jair Bolsonaro, Hamilton Mourão e outros - enaltecem e exaltam, com arrogância e sarcasmo, os torturadores. Com certeza esses seres humanos (se é que merecem serem chamados de seres humanos) são duplamente demônios. São demônios exaltando demônios.
“Não é de hoje - diz a Nota - que autoridades do atual governo exaltam a figura macabra do ex-chefe do DOI-Codi do 2º Exército, em São Paulo, de cujos porões emergiram inesquecíveis relatos de terror e sadismo contra cidadãos brasileiros. Para se ter ideia da barbárie autorizada como política de Estado, entre 1970 e 1974, a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, liderada por Dom Paulo Evaristo Arns, patrono da Comissão Arns, reuniu mais de 500 denúncias de tortura no DOI-Codi comandado por Ustra”.
E relata: “Passaram-se mais de 30 anos para que, finalmente em 2008, Ustra fosse reconhecido como autor de sequestro e tortura, em ação declaratória movida pela família Telles, cujos membros puderam sobreviver para testemunhar as crueldades perpetradas por esse militar e seus ‘subordinados’, nos porões da ditadura”: verdadeiras sucursais do inferno.
Por fim, declara: “Hoje e sempre, serão inaceitáveis homenagens a esse violador da Carta Constitucional de 1967/9, do Código Penal Militar de 1969 e das Convenções de Genebra de 1949, como documentado no Relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV)”.
Termina, pois, com uma denúncia profética: “Ao proferir tais elogios, Hamilton Mourão conspurca, de saída, a honra dos militares brasileiros. Ao fazê-lo na condição de vice-presidente, constrange a Nação e desrespeita a memória dos que tombaram sob Ustra. E, ao insistir
em reverenciar o carrasco, fere mais uma vez o decoro do cargo em que foi investido sob juramento de respeitar a Constituição. É ela que nos ensina: ‘Tortura é crime inafiançável, insuscetível de graça ou anistia’”.
Seguem as assinaturas dos membros da Comissão Arns.
Muitas Entidades - como a “Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil" - manifestaram total apoio à Comissão Arns e irrestrita solidariedade às famílias das vítimas dos horrores da ditadura.
Jair Bolsonaro - que já tinha feito a apologia da ditadura militar - “chamou de ‘herói nacional’ o coronel do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, apontado pela Comissão da Verdade como responsável por 47 sequestros e homicídios, além de ter atuado pessoalmente (com choques elétricos e rindo) em sessões de tortura durante o regime. "Um herói nacional que evitou que o Brasil caísse naquilo que a esquerda hoje em dia quer", disse Bolsonaro (cf. Brasil247). Que sadismo!
Perguntamo-nos: Como é possível que - em pleno século 21 - o Brasil seja governado por políticos dessa laia? Façamos uma análise e interpretação crítica da situação. Que Deus nos livre dessa “pandemia política” e nos dê a força para lutar por um novo Brasil.
Aproveitemos as eleições municipais para iniciar um verdadeiro processo de mudanças! Chega de tanta barbárie! Chega de demônios na política!
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Demônios exaltando demônios - Instituto Humanitas Unisinos - IHU