20 Agosto 2020
Qualquer um que tenha se dedicado ao estudo dos Evangelhos ou das cartas de Paulo acabou se deparando com o monumental Dicionário Teológico do Novo Testamento, fundado e dirigido na década de 1930 por Gerhard Kittel: cada termo do grego do Novo Testamento é estudado em sua evolução semântica, a partir das palavras correspondentes contidas no Antigo Testamento hebraico e nas traduções gregas.
O comentário é de Marco Rizzi, professor de literatura cristã antiga da Università Cattolica del Sacro Cuore, de Milão, publicado por Corriere della Sera, 19-08-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Causa surpresa que Kittel, uma vida dedicada a estudar o judaísmo da época de Jesus, fosse um dos principais expoentes da seção dedicada à "questão judaica" do "Instituto do Reich para a História da Nova Alemanha" fundado em 1935 sob os auspícios de Alfred Rosenberg, o ideólogo do nazismo. Na realidade, o antissemitismo da exegese bíblica alemã tem suas raízes no Iluminismo que, em busca de uma religião "superior" e universal, eliminava do cristianismo toda ascendência étnica e particularista.
Na reconstrução de Anders Gerdmar (Bíblia e antissemitismo teológico) bem poucos teólogos protestantes se salvam, nem mesmo personagens do calibre de Rudolf Bultmann ou Martin Dibelius. A pergunta é inevitável: o que fazer de "monumentos" como o Dicionário? Expurgá-lo das bibliotecas? Foram justamente os inspiradores de Kittel, porém, que se arrogaram o poder de escolher o que deveria estar nas prateleiras e o que, em vez disso, acabaria na fogueira.
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A exegese bíblica dos teólogos nazistas. O volume de Anders Gerdmar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU