16 Dezembro 2019
Pense bem antes da próxima vez que for cortar um galho ou arrancar uma folha, porque um novo estudo apontou que plantas não são seres vivos tão silenciosos e impassíveis quanto se imagina.
A reportagem é de Rafael Barifouse, publicada por BBC News Brasil, 13-12-2019.
O cientista Itzhak Khait e seus colegas da Universidade de Tel Aviv, em Israel, identificaram que pés de tabaco e tomateiros emitem uma sequência de "gritos" ultrassônicos quando estão sob estresse.
No entanto, os sons produzidos por estas plantas têm uma frequência muito alta para serem ouvidos por seres humanos.
"Essas descobertas podem mudar a forma como pensamos sobre o reino vegetal, que foi considerado quase silencioso até agora", escrevem os autores do estudo.
Os cientistas dizem que pesquisas anteriores haviam demonstrado que a cor, formato e odor das plantas mudam em resposta ao estresse, mas afirmam que a produção de sons em situações deste tipo não tinha sido amplamente investigada.
Os pesquisadores colocaram as plantas em câmaras acústicas e em estufas, e posicionaram microfones que captam frequências ultrassônicas (entre 20 e 150 kHz).
Então, deixaram um grupo de plantas sem água ou cortaram seus galhos, enquanto outro grupo foi mantido em condições normais.
As plantas que não foram submetidas a estresse emitiram menos de um sinal sonoro por hora, mas isso ocorreu com muito mais frequência sob condições de estresse.
Os tomateiros produziram em média 25 sinais ultrassônicos por hora quando seu caule foi cortado e até 35 sinais quando ficaram sem água. Os pés de tabaco emitiram 15 sinais por hora quando aparados e 11 ao não serem regados.
Em estudos anteriores, pesquisadores usaram aparelhos de gravação diretamente nas plantas para ouvir sons emitidos dentro de seus caules.
Foi identificado que, em plantas desidratadas, bolhas de ar se formam, estalam e provocam vibrações que normalmente levam água pelos caules.
A partir disso, os pesquisadores queriam saber se algum som produzido por plantas poderia viajar pelo ar.
O cientistas concluíram que os sinais ultrassônicos, em uma faixa de 20 a 100 kHz, podem ser detectados por insetos e muitos mamíferos a distâncias entre 3 e 5 metros.
Também apontaram que os sons emitidos quando uma planta é cortada ou fica sem água são diferentes e conseguiram identificá-los com 70% de precisão, por meio de um programa de computador que aprendeu os padrões sônicos produzidos pelas plantas.
Os autores do estudo afirmam a partir disso que outros organismos podem ter evoluído para serem capazes de classificar os sons emitidos pelas plantas e reagir a eles.
"Nossos resultados sugerem que animais e possivelmente até outras plantas poderiam usar estes sons para obter informações sobre a condição de uma planta", escrevem os cientistas.
"Muitas traças são capazes de ouvir e reagir a sinais ultrassônicos nas frequências e intensidades que registramos, e algumas delas usam tomateiros e pés de tabaco com hospedeiros para suas larvas. Elas podem se beneficiar disso ao evitar colocar ovos em uma planta que emite estes sons."
Os pesquisadores cogitam ainda que alguns predadores podem usar estas informações a seu favor. "Se plantas emitem sons quando estão sob ataque de lagartas, morcegos podem usá-los para detectar quais são estas plantas e comer estas lagartas", dizem eles no estudo.
As descobertas podem ser úteis para monitorar o grau de hidratação de plantações, segundo os cientistas. "Técnicas mais precisas de irrigação podem reduzir o uso de água em até 50% e aumentar a produção", afirmam.
"Num momento em que mais e mais áreas sofrem com secas devido às mudanças climáticas e a população e consumo humanos continuam aumentando, o uso eficiente da água se torna mais crítico, tanto para a segurança alimentar quanto para a ecologia."
O estudo, que ainda não foi revisado por outros cientistas, aponta que, em testes preliminares, sinais sonoros foram detectados em outros tipos de plantas.
"Por isso, acreditamos que muitas plantas podem ter a habilidade de emitir sons, mas ainda é necessário identificar as exatas características destes sons e as semelhanças entre eles", dizem os cientistas.
Eles também afirmam que novos estudos podem explorar os sons emitidos por plantas sob outras condições de estresse, como doenças, frio, ataques de pragas ou radiação solar extrema.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Plantas ‘gritam’ quando estão sob estresse, aponta estudo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU