08 Novembro 2019
“Hoje, algumas pessoas gostariam que a Igreja se centrasse exclusivamente no exercício da misericórdia, no trabalho de reduzir ou inclusive erradicar a pobreza, na acolhida de migrantes, na acolhida e acompanhamentos dos ‘feridos da vida’”. “Certamente é necessário investir na solução dos problemas sociais – prosseguiu –, porém também é necessário, e talvez inclusive mais que nada, trabalhar contra a corrente para evitar que tantos homens e mulheres fiquem feridos em seus corpos, suas almas, sua inteligência, sua afetividade, etc. Não é a educação a melhor prevenção? Se trata do exercício da justiça e da misericórdia”, afirmou o cardeal Robert Sarah, prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, em evento na Espanha
A reportagem é publicada por Vida Nueva, 07-11-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O cardeal Robert Sarah entra no auditório da Universidade CEU San Pablo. Aplausos. Antonio María Rouco Varela e Antonio Cañizares o aguardam na primeira fila. O cardeal arcebispo de Madrid, Carlos Osoro, ao contrário de Cañizares, se ausentou, por estar na reunião do Comitê Executivo da Conferência Episcopal Espanhola.
Alfonso Bullón de Mendoza, presidente da Associação Católica de Propagandistas (ACdP), começa a apresentação do 21º Congresso Católicos e Vida Pública colocando o foco na onda de inscrições para assistir à palestra sobe educação do prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.
Um total de 600 pessoas confirmaram presença no evento de apresentação do congresso, que será na mesma universidade de 15 a 17 de novembro. O êxito é tal, que se habilitou outra sala para retransmissão em streaming. E é porque, como indicou Gullón de Mendoza, “toda sua obra é uma chamada de esperança para os católicos”.
Francisco Serrano, jornalista e professor da Universidade, foi o encarregado de apresentar o cardeal Sarah, sobre o qual, segundo suas palavras, “pesam demasiados estereótipos”. “Seu amor pela verdade, o faz ser autenticamente livre”, indicou com admiração. Assim mesmo, recordou que Sarah é um “humilde servo” da vinha do Senhor.
Sarah começou sua palestra, intitulada “A importância da educação na missão da Igreja hoje”, jogando o olhar para o passado. Sua primeira citação foi em alusão ao papa Pio XI. Depois, pôs o foco em que “a crise antropológica e moral sem precedentes que atravessa o nosso tempo exige que a Igreja assuma uma maior responsabilidade e compromisso para propor seu ensinamento doutrinar e moral de modo claro, preciso e firme”.
E continuou: “Hoje, algumas pessoas gostariam que a Igreja se centrasse exclusivamente no exercício da misericórdia, no trabalho de reduzir ou inclusive erradicar a pobreza, na acolhida de migrantes, na acolhida e acompanhamentos dos ‘feridos da vida’”. “Certamente é necessário investir na solução dos problemas sociais – prosseguiu –, porém também é necessário, e talvez inclusive mais que nada, trabalhar contra a corrente para evitar que tantos homens e mulheres fiquem feridos em seus corpos, suas almas, sua inteligência, sua afetividade, etc. Não é a educação a melhor prevenção? Se trata do exercício da justiça e da misericórdia”.
Em alusão à “maioria de estudantes”, o purpurado considerou que atualmente estão em um “clima infectado pela ideologia de gênero, a ideologia prometeica do trans-humanismo, com a pretensão do homem de ocupar o lugar de Deus, devemos ser capazes de medir a gravidade da crise”.
Durante sua apresentação, o cardeal curial somente citou o Papa em uma ocasião para fazer referência à ideologia de gênero e não aludiu em nenhum momento a aposta educadora de Francisco: o pacto global pela educação.
Durante sua alocução denunciou também “a legitimação social da homossexualidade”. De fato, “se a sexualidade já não se percebe à luz do dom da vida, como se pode considerar a homossexualidade como uma perversão, uma desordem objetiva e grave? ”, se perguntou. Nesse momento, o padre Ángel, presidente e fundador dos Mensageiros da Paz, presente no auditório se levantou e se foi.
O prefeito de Culto Divino continuou e insistiu que “a Igreja e a universidade atravessam uma crise muito profunda, a de uma sociedade laical, secularizada, sem Deus”. Do mesmo modo, recordou que essa crise provém do “constante” questionamento dos valores fundamentais que durante milhares de anos apoiaram, ensinaram, educaram e estruturam o homem internamente”.
O cardeal apontou que devemos ser capazes de medir a gravidade da crise, “dada a atmosfera ateia ou de indiferença para as questões religiosas ou morais nas quais se encontram impregnadas a educação e as estruturas escolares”. Nesse mesmo sentido, Sarah destacou a necessidade de entender que “o núcleo do ato educativo é que a pessoa educada adquira as virtudes que a permitam implementar e estruturar sua humanidade e sua personalidade de acordo com a verdade que lhes é intrínseca”.
Para isso, além da escola e da universidade, “a família é a primeira célula que pode proporcionar essa fantástica carga emocional, em meio à confusão de ideias, de ideologias, de desordem de informação e impressões que assaltam por todos os lados muitos jovens”. No entanto, apontou que “por desgraça, – a família – está desestruturada, demolida, desmantelada; e com frequência, em nossos dias, pede por ser substituída pela escola”.
Sarah denunciou que no Ocidente pós-moderno, nas últimas décadas, “alguns na Igreja abandonaram o campo da educação, influenciados ou impressionados pela crise de transmissão e pela revolução cultural que conhecemos em muitos de nossos países”.
Também aproveitou sua exposição para falar sobre ecologia. “A preocupação ecológica atual pelo meio-ambiente, no qual o homem vive, é legítima, porém não deve concernir somente ao meio natural. Deve se levar em conta também o ambiente social e cultuar no qual os filhos são educados”, demarcou. Sonoro aplauso.
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O cardeal Sarah, na Espanha: “É necessário que a Igreja trabalhe mais na contracorrente que se centrar na misericórdia” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU