França: jovens lefebvrianos interrompem encontro inter-religioso. Bispo lamenta

Imagem: Pixabay

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03 Novembro 2019

“É muito importante se engajar no diálogo inter-religioso, mas não devemos esquecer também o diálogo dentro da Igreja.”

A comemoração, no dia dia 27 de outubro, do 800º aniversário do encontro entre São Francisco de Assis e o sultão de Créteil, nos arredores de Paris, foi interrompida quase no fim por um grupo de jovens da Fraternidade São Pio X.

A reportagem é de Guillemette de Préval, publicada em La Croix International, 01-11-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Dom Michel Santier, de Créteil, reage a esse episódio e insiste que o diálogo inter-religioso e intercatólico continuará.

Eis a entrevista.

O que ocorreu exatamente?

Às 17 horas, estávamos todos reunidos para um momento de meditação animado pelos franciscanos. Eu fiz a saudação inicial, e depois escutamos um coral muçulmano e música gospel, para enfatizar que a mistura de culturas está sempre presente em Créteil. Então, de repente, um grupo de jovens lefebvrianos, que se dividiram em vários pequenos grupos na catedral, começaram a gritar contra nós, chamando-nos de blasfemadores.

Eu me levantei, porque era o responsável pelo lugar, pedi que eles saíssem e depois comecei a cantar uma Salve Regina, e a multidão rapidamente me acompanhou. É uma música que fala aos muçulmanos, porque eles têm uma afeição especial por Maria. Os manifestantes continuaram gritando, enquanto jogavam panfletos. A polícia rapidamente interveio, e eles finalmente foram embora, enquanto continuávamos cantando Ave-Marias.

Como podemos entender essa atitude?

Essa não é a primeira vez que me deparo com essas ações políticas por parte de jovens lefebvrianos, porque, de acordo com os folhetos que eles jogaram ao entrar na igreja, eles pertenciam à Fraternidade São Pio X. Eu vivi episódios semelhantes quando era bispo em Vendée [na região de Pays-de-la-Loire, no centro da França ]. Outro evento ocorreu no ano passado em Montmartre [uma região no coração de Paris]. O problema com essas pessoas é que elas pensam que possuem a verdade. Mas quão religiosa essa ação poderia ser? Eles sequer respeitam a sacralidade da catedral. Como somos acolhedores, tornamo-nos, aos olhos deles, blasfemadores. Isso não é verdade. Foi um dia de intercâmbios e de encontros, e terminou com um momento de meditação comum, que deve ser distinguido de uma oração. Foi um momento fraterno.

Que lições vocês aprenderam com isso?

O que eu aprendi com esse pequeno incidente – porque foi algo menor em comparação com a riqueza do dia que desfrutamos – é que devemos continuar nos engajando no diálogo com os católicos mais tradicionalistas. É muito importante se engajar no diálogo inter-religioso, mas não devemos esquecer também o diálogo dentro da Igreja. As nossas relações são boas, e às vezes eu celebro a missa com eles no rito de Paulo VI. Agora, o grupo com o qual estávamos lidando aqui é diferente. Eles não querem conversar. Eles estão lutando contra o próprio trabalho que queremos fazer. Isso não me incomodou, no entanto, nem perturbou o dia inteiro: todo mundo saiu feliz! Isso nos leva a continuar o trabalho de encontro com a comunidade muçulmana, como o papa Francisco nos convida a fazer.

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