15 Julho 2019
Alzheimer, ebola, candida auris... Já estamos vendo isso, algumas doenças estão surgindo e outras estão provocando cada vez mais danos. Na origem dessa ameaça estão vários fatores, como o aquecimento global, a resistência a antibióticos ou a comida lixo. Devemos temer pela saúde global? Fazemos um balanço com o epidemiologista Roger Salamon.
A reportagem é de Pauline Capmas-Delarue, publicada por Medisite, 09-07-2019. A tradução é de André Langer.
O aquecimento global, o aumento da resistência antimicrobiana, a alimentação moderna, o envelhecimento da população... todos esses fatores têm um impacto considerável na saúde global e podem favorecer o surgimento de determinadas doenças potencialmente graves.
Nós conversamos com o professor Roger Salamon, epidemiologista e professor de saúde pública da Universidade de Bordeaux, para tentar saber mais sobre o assunto. Salamon foi presidente do Conselho Superior de Saúde Pública de 2006 a 2015 e fundou o Instituto de Saúde Pública, Epidemiologia e Desenvolvimento (ISPED). Segundo ele, vão se opor: uma evolução espontânea e natural das patologias; um provável progresso terapêutico.
Muitos fatores entram em jogo para explicar uma tendência adversa à saúde da população até 2050. Podemos identificar quatro fatores principais:
— A resistência aos antibióticos;
— A mudança climática;
— O envelhecimento da população;
— Os riscos ambientais.
Setecentas mil pessoas morrem todos os anos de uma doença resistente a antibióticos. Nos próximos trinta anos, esse número pode subir para 10 milhões por ano. Estas são as conclusões do Grupo Especial de Coordenação Interinstitucional sobre a Resistência Antimicrobiana, que entregou seu relatório ao secretário-geral da ONU em abril de 2019.
Para o professor, as superbactérias deveriam realmente nos preocupar. “Nós constatamos uma crescente resistência aos antibióticos e isso é preocupante, porque essas bactérias são muito perigosas. Este é um grande problema, infelizmente um pouco subestimado”.
Algumas dessas doenças são bastante comuns, como a tuberculose (doença reemergente) ou a pneumonia. “Essas são patologias que antes eram tratadas, mas agora não respondem mais aos tratamentos. Como nenhum antibiótico pode curá-las, elas levam diretamente à morte”.
No ambiente hospitalar, os germes multirresistentes estão particularmente presentes e podem apresentar problemas terapêuticos, contaminando pacientes já enfraquecidos. É o caso dos estafilococos ou da candida auris, para citar alguns. Alguns germes também são encontrados fora dos hospitais, como a shigella, a salmonela ou o gonococo. Estes são responsáveis pela gonorreia, uma infecção sexualmente transmissível.
O especialista acrescenta que as patologias resistentes a antibióticos são muito contagiosas, o que torna a ausência de tratamento particularmente alarmante. Um problema ainda mais grave no caso de uma epidemia.
A Organização Mundial da Saúde define as doenças crônicas como “afecções de longa duração que, via de regra, evoluem lentamente”. Entre elas podemos mencionar a diabetes, a artrite, o câncer, as doenças cardíacas ou ainda a doença de Alzheimer. Acredita-se que elas sejam responsáveis por 63% de todas as mortes em todo o mundo, tornando-se a principal causa de mortalidade.
Segundo o INSEE (Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos), as pessoas com 65 anos ou mais representavam 19,2% da população em 2017, número que aumentou 3,9 pontos em 20 anos. Segundo Roger Salamon, o envelhecimento da população provavelmente levará a um aumento significativo dessas patologias. Por exemplo, a França tinha 900 mil pacientes com Alzheimer em 2015. Hoje, esse número já é de 1,2 milhão, segundo a associação France Alzheimer.
“Muitas doenças crônicas, que se desenvolvem entre os 50 e os 60 anos, tornam-se mais complicadas à medida que se envelhece. Com o tempo, elas se tornam cada vez mais desagradáveis, especialmente para aqueles que vivem até os 80-90 anos. Isso resulta em perda significativa de autonomia”, explica o especialista.
Nesses pacientes, a perda de autonomia pode estar relacionada ao declínio cognitivo (perda de memória, desorientação espacial ou temporal, alteração de juízo...), mas também ser puramente física (problemas motores, dores). Assim, tarefas da vida cotidiana, como vestir-se, fazer compras ou a limpeza, podem agora parecer intransponíveis.
Embora seja essencial encarregar-se da dependência ligada às doenças crônicas, ainda é relativamente caro. Uma reflexão está atualmente em andamento na França para saber como financiá-la. Em 2014, o orçamento destinado à dependência de idosos foi de 30 bilhões de euros na França. Só o subsídio destinado à autonomia personalizada (APA) custou 5,8 bilhões de euros em 2016.
A mudança climática também pode levar a uma evolução no panorama das doenças. “O aumento da temperatura da água e do ar pode causar uma mudança nos germes e nas bactérias”. Assim, alguns agentes patógenos crescerão ou migrarão para regiões ainda saudáveis. Quanto a outras doenças, que supostamente tínhamos dado como desaparecidas, estão reaparecendo.
Doenças de transmissão vetorial, como a malária, zika, dengue e chikungunya estão em pleno apogeu. O mosquito-tigre, que pode transmitir muitas dessas doenças, já começou a colonizar a França: ele é encontrado em 51 departamentos. Muito recentemente, 18 casos de dengue foram confirmados em Provence-Alpes-Côte-d'Azur e um caso em Lot-et-Garonne.
Os mosquitos não são os únicos a migrar para países que estão se aquecendo. Os carrapatos parecem fazer o mesmo. Estes últimos são os principais responsáveis pela transmissão da Doença de Lyme. O número de casos na França está crescendo, tendo aumentado de 45 mil para 67 mil ocorrências entre 2017 e 2018.
As mudanças climáticas também podem aumentar a morbidade relacionada à desnutrição e à falta de água potável, ou a ocorrência de eventos climáticos extremos, como enchentes e ondas de calor – como a recente onda de calor, que causou pelo menos quatro mortes na França.
Salamon ressalta, no entanto, que nem todos os reaparecimentos de doenças estão relacionados ao clima. “Assim, o ebola ou a AIDS estão progredindo, mas isso não tem nada a ver com o aquecimento global”. A intensificação dos transportes facilita a disseminação dessas patologias.
Pesticidas, desreguladores endócrinos, produtos tóxicos... as consequências do nosso meio ambiente sobre a saúde não são desprezíveis. Uma revisão da literatura científica dos últimos trinta anos permitiu ao Inserm (Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica) estabelecer uma associação positiva entre a exposição profissional aos pesticidas e certas patologias entre adultos, como o Mal de Parkinson e alguns tipos de câncer – especialmente o câncer de próstata e do cérebro.
A exposição pré-natal e durante a primeira infância também parece representar um risco para o desenvolvimento. Além disso, a exposição permanente, mesmo de baixo nível, da população às misturas de pesticidas poderia ter um impacto na saúde a longo prazo, embora os cientistas sejam incapazes de tirar conclusões sobre este ponto neste momento.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, “mais de três milhões de crianças menores de cinco anos morrem todos os anos por causas e doenças ligadas ao meio ambiente”. É, portanto, uma das principais causas de mortalidade infantil e também tem um “tremendo impacto na saúde e bem-estar das mães”.
As doenças pulmonares provocadas pela poluição também estão em ascensão. Um relatório na revista médica The Lancet mostra que a poluição do ar é responsável por 6,5 milhões de mortes anuais, a maioria das quais devido a doenças cardiovasculares ou pulmonares. Também estamos cada vez mais conscientes dos riscos associados à poluição dos ambientes internos: pouca ventilação, solventes presentes em tintas e móveis, produtos de limpeza e cosméticos tóxicos... No entanto, a prevenção neste ponto permanece aquém do desejável.
O ambiente nuclear também pode representar riscos para a saúde. Recentemente, uma contaminação radioativa anormalmente alta foi medida no Loire e no Vienne. Em questão, a descarga de trítio em grandes quantidades nesses rios por usinas nucleares. Um fenômeno perturbador desde que este elemento radioativo foi encontrado na água das torneiras nas regiões implicadas.
Além disso, as consequências da poluição ambiental podem ter efeitos retardados cuja magnitude ainda não somos capazes de medir. Já vimos isso com o aparecimento de certos tipos de câncer, por exemplo, após a exposição prolongada ao amianto. Se esta substância é agora um cancerígeno reconhecido, e proibida na França, tem sido utilizada durante muito tempo na construção, uma vez que ainda não se conhecia os seus efeitos a longo prazo.
Se a explosão dessas doenças é motivo para se preocupar, isso pode, no entanto, ser contrabalançado por avanços na medicina. Alguns progressos vão surgir na área dos diagnósticos, com a possibilidade de fazer exames específicos para detectar mais cedo determinadas doenças – e sabemos que quanto mais cedo o diagnóstico é feito, melhores são as chances de cura.
Paralelamente, é provável que haja progressos terapêuticos com o desenvolvimento de novos medicamentos – embora saibamos que a luta contra a resistência antimicrobiana será difícil de ganhar. A evolução da medicina pode dar a esperança de que todo esse aumento de doenças seja contido.
De tempos em tempos, esses avanços podem, no entanto, ter efeitos deletérios. Podemos citar o exemplo dos bebês muito prematuros, que conseguimos manter vivos cada vez mais cedo. “Pouco a pouco, começamos a perceber que essas crianças nascidas bem antes da hora estão mais sujeitas a determinadas patologias”, explica o professor.
Alguns excessos terapêuticos também podem ser considerados, como já acontece com a crise dos opioides. A prescrição excessiva desses analgésicos, associada aos efeitos aditivos que eles acarretam, já causou dezenas de milhares de mortes. Podemos imaginar que a maconha terapêutica também possa estar sujeita a alguns excessos. No entanto, os “desvios” relacionados aos avanços médicos provavelmente permanecerão muito marginais.
Além disso, progressos também são possíveis na prevenção, embora o epidemiologista permaneça um pouco preocupado com esse último ponto. “A prevenção é sempre o primo pobre”, diz ele. Atualmente, ainda é limitada, e há falta de organização. Os lobbies também complicam o seu desenvolvimento. No entanto, ela evitaria várias patologias, ao encorajar mudanças comportamentais (melhor alimentação, prática de uma atividade física, parar de fumar...) ou mudanças no ambiente (menos pesticidas, melhoria nas estradas...).
É claro que se espera que esses progressos sejam suficientes para conter os riscos acima mencionados, mas não é certo. Para o professor, no entanto, podemos afirmar com certeza que os progressos superarão os riscos para alguns países ou populações ricas. Por outro lado, nos países menos desenvolvidos, ou entre populações desfavorecidas (em determinados bairros, por exemplo), a evolução será bastante desfavorável. “Há motivos para recear que haverá um aumento crescente das desigualdades sociais em saúde”.
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Doenças que podem se tornar crônicas até 2050 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU