20 Outubro 2018
"Um fator determinante do fundamentalismo é a insegurança. As pessoas querem se sentir seguras", escreve José Maria Castillo, teólogo, em artigo publicado por Religión Digital, 18-10-2018. A tradução é de Graziela Wolfart.
Segundo o teólogo, "Se o “fundamentalismo” é “tradição encurralada”, como atesta Anthony Giddens, não podemos esquecer que encurralado se vê o que se sente “preso e sem escapatória”. Por que agora mesmo, na Igreja, no Vaticano, há pessoas importantes que não suportam o papa Francisco? Por que os que não o suportam são os fundamentalistas, os mais fiéis a sua tradição, os que sustentam suas crenças como defendiam as suas os fariseus que enfrentaram Jesus?".
O conhecido sociólogo Anthony Giddens, diretor da London School of Economics, publicou em 1999 um pequeno livro de divulgação (“Mundo em Descontrole”), no qual analisa algumas questões da atualidade. E um dos assuntos que estuda é o do “fundamentalismo”.
Um tema da atualidade. Porque o integralismo de direitas está ganhando força na sociedade, na política, na religião e em outros âmbitos da vida. Basta pensar o que está acontecendo na Itália, Hungria, Polônia, Áustria, Suécia, EUA, Brasil, etc.
Por que surgem situações ou momentos, na história, em que o fundamentalismo dá as caras com especial vigor e encontra mais acolhida em amplos setores da sociedade? Sem dúvida alguma, um fator determinante do fundamentalismo é a “insegurança”. As pessoas querem se sentir seguras. Mas acontece que, agora mesmo, neste mundo, quase tudo está mudando tanto e com tanta velocidade, que a cada dia e por motivos muito diversos, são muitas as pessoas e os grupos humanos que se sentem inseguros e com medo, sobretudo quando olham para o futuro.
Como é de se esperar, nestas situações, aumentam os medos, e, com os medos, cresce também a insegurança. Produzem-se, assim, as condições ideais para que, aqueles que podem oferecer razões de segurança às pessoas, tirem proveito e fiquem “à vontade”. Por isso, de tempos em tempos, aparecem ditadores ou governantes que dominam os povos e as pessoas, que se submetem a eles com um entusiasmo que não é fácil entender.
Um exemplo eloquente, nesse sentido, pode ser o que aconteceu na Alemanha da segunda guerra mundial. Um país no qual existiu um cristianismo que permitiu Auschwitz, ou ao menos não o impediu. Não houve um protesto, uma resistência geral dos cristãos na Alemanha quando Auschwitz se fez visível, nem quando se conheceu mais e mais o que ali acontecia. A maioria daqueles alemães e inclusive vários daqueles facínoras haviam recebido, durante anos, aulas de religião cristã, assistiam com frequência ao culto divino e escutavam sermões e instruções morais (Thomas Ruster). E ninguém deu nenhum pio. Ou poucos foram os que se atreveram a protestar. É evidente que o medo à insegurança fechava as bocas. É um exemplo entre tantos outros, alguns dos quais temos aqui, entre nós.
Então, como ficamos? O que é e em que consiste o “fundamentalismo”? Guiddens encontrou uma fórmula acertada: fundamentalismo é “tradição encurralada”. E o explica: o fundamentalismo “não tem nada a ver com o âmbito das crenças, religiosas ou de outra classe. O que importa é como se defende ou sustenta a verdade das crenças”. Sejam elas crenças políticas, religiosas, sociais…
Se o “fundamentalismo” é “tradição encurralada”, não podemos esquecer que encurralado se vê o que se sente “preso e sem escapatória”. Por que agora mesmo, na Igreja, no Vaticano, há pessoas importantes que não suportam o papa Francisco? Por que os que não o suportam são os fundamentalistas, os mais fiéis a sua tradição, os que sustentam suas crenças como defendiam as suas os fariseus que enfrentaram Jesus?
É evidente que tanto a direita como a esquerda se sentem mais seguras na fidelidade às tradições do passado do que aceitando as mudanças que o “mundo em descontrole” em que vivemos mais precisa. Mudanças que nos exigem sermos “cidadãos do mundo” antes que fundamentalistas agarrados a tradições que já perderam sua razão de ser.
A situação é clara. Nestas condições, o fundamentalismo da direita cresce com força entre as pessoas que hoje se sentem mais inseguras. Porque as mudanças, que nos são impostas, deixam o fundamentalismo mais nervoso. No final das contas, é o fundamentalismo o que se sente mais inseguro.
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"O integralismo de direita está ganhando força na política e na religião". Artigo de José María Castillo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU