12 Outubro 2018
"Podemos chegar a um sistema autoritário, se não mostrarmos a tantos que apoiam os candidatos da bala, o que há de anti-humano e antissocial em propostas como essas atribuídas a um juiz violento que corre o risco de virar governador", escreve Luiz Alberto Gomez de Souza, sociólogo.
Há um trabalho importante com um setor da população que está sendo cúmplice inconsciente de um projeto tendencialmente violento e desumano. Como aqueles que, à ligeira, saudaram o nazismo incipiente nas ruas alemãs.
Memórias históricas ajudam a refletir. Quando, na Universidade de Salamanca, o general Millán-Astray lançou o grito: "Mueran los intelectuales, viva la muerte", o reitor Miguel Unamuno, com contida emoção, como sumo-sacerdote do saber, denunciou o apelo à morte de um general para ele física e mentalmente doente e fez uma maravilhosa defesa da vida e da liberdade. "Venceréis, porque tenéis la fuerza bruta, pero no convenceréis". Para ele, faltavam razão e direito. Quase foi preso, num clima de intensa exaltação da ultra-direita falangista e logo destituído por Franco da reitoria. Encerrou-se em casa e, dois meses depois morreu, muito à espanhola, "de pena". Vieram logo décadas de franquismo antidemocrático. Muitos não acordaram a tempo diante do que estava por vir.
Podemos chegar a um sistema autoritário, se não mostrarmos a tantos que apoiam os candidatos da bala, o que há de anti-humano e antissocial em propostas como essas atribuídas a um juiz violento que corre o risco de virar governador. Ele pregaria o abate sem mais de presuntos criminosos, militarização da educação, apoio financeiro à rede privada da saúde que acaba com os SUS, entrega da UERJ à iniciativa privada, privatização dos presídios, etc. Há que deixar que destilem projetos absurdos, para talvez fazer repensar certa classe média ingênua e levar a que descubra - oxalá não tarde demais -, que está chocando, sem saber, o ovo da serpente (1). Como muitas mulheres que marcharam em 1964 e, não se dando conta, prepararam os vinte anos de ditadura.
É preciso reavivar a memória dos tempos sombrios sem vida democrática, para que não voltem nunca mais.
Nota do autor:
1.- O notável filme de Ingmar Bergman, O ovo da serpente, através de dois personagens judeus, mostra a emergência do nazismo em meio à inconsciência de tantos alemães.
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Por uma pedagogia que desoculte os sistemas autoritários e antidemocráticos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU