Por: Wagner Fernandes de Azevedo | 05 Setembro 2018
A economia argentina sofre uma das maiores crises da história. Na última semana, o peso argentino chegou a desvalorização acumulada de 43,5%, em 2018. Em resposta, o Banco Central subiu a taxa de juros de 40% para 60% ao ano. Na segunda-feira, 03-09-2018, o presidente Mauricio Macri apresentou novas medidas que aprofundam o ajuste fiscal. Na terça-feira, Nicolas Dujovne, ministro da Fazenda, embarcou para Washington buscar apoio do Fundo Monetário Internacional . Por outro lado, há saques aos supermercados, razão pela qual um adolescente de 13 anos foi morto.
O caos econômico na Argentina deixa o país em alerta. Um pronunciamento de 25 minutos em rede nacional, ao meio-dia de segunda-feira, Mauricio Macri anunciou a redução de ministérios e o aumento de impostos para equilibrar a balança fiscal. Os gastos somente com os juros da dívida pública argentina ultrapassaram o custo da folha salarial do governo e somam em 2018 cinco vezes mais que os recursos destinados às universidades.
O governo Macri assumiu os traços das grandes crises da história argentina. A exemplo, a crise no final da década de 1990 cujas políticas liberais de privatização de empresas e a dolarização do peso argentino não foram sustentáveis. Em dezembro de 2001, o conjunto de medidas resultou em enormes protestos, causando a renúncia do presidente Fernando de la Rúa e uma instabilidade com outros quatro sucessores em quinze dias. Durante os protestos, 39 pessoas morreram, e a pobreza e mortalidade infantil causada pela fome se escancararam no país.
O pronunciamento de Macri atestou a falta de segurança com a condução política do país. Por diversas vezes afirmou que a situação atual era causada pela corrupção de governos anteriores, bem como as reformas estruturais necessárias não saíram do papel por conta da oposição kirchnerista. Desse modo, fez o apelo à população para compreensão das novas medidas para que o país “nunca mais entre em uma crise econômica”.
Macri apelou à população para que compreenda os diferentes momentos em que o país passou no seu governo, que por 14 meses seguiu o caminho da retomada do crescimento. Porém, “quando parecia que dispensamos todas as dúvidas sobre nossas capacidades de atravessar o outro lado do rio, ocorreram coisas que voltaram a semear dúvidas”, apontou o presidente. Segundo o mandatário argentino, a crise turca, a crise brasileira e as recentes denúncias dos “cadernos de propina” do governo de Cristina Kirchner “que em curto prazo afeta a imagem do país e gera mais dúvidas sobre a capacidade de conduzi-lo com seriedade”.
Ao tempo em que o presidente falava com a população, o ministro da Fazenda, Nicolas Dujovne, concedia uma coletiva de imprensa explicando os cortes na economia e sua viagem para o FMI. Apesar da especulação de ter posto o cargo à disposição, Dujovne se afirmou como o economista da gestão macrista. No cargo desde janeiro de 2017, substituiu Alfonso Prat-Gay – que estava cotado para voltar ao governo como chanceler, mas recusou –, conduziu o crescimento do país por 14 meses e firmou o acordo internacional, que na visão do presidente “foi um apoio inédito na história do Fundo [Monetário Internacional]”.
Os dados apresentados pelo ministro apontam para um corte radical do investimento do estado em serviços públicos, de 0,7% do Produto Interno Bruto. Para isso, haverá o corte no subsídio federal para transporte e eletricidade. O corte em pastas do executivo também é significativo. Depois de aumentar o número de ministérios de 17, do governo de Cristina, para 23, anunciou agora uma redução para 10.
Dujovne ficou encarregado dos anúncios técnicos e impopulares. Macri de tentar afagar a população: “aumentará a pobreza”, mas é preciso “resolver pela raiz” para que “essa não seja uma crise mais, mas a última da história”.
Na tarde de segunda-feira, os sindicatos se manifestaram. Uma greve geral, de 36 horas, nos dias 24 e 25 de setembro, está sendo articulada.
Como consequência dos cortes, do avanço da pobreza e da inflação, por diversas partes do país ocorrem saques no comércio. Grupos organizados invadem os estabelecimentos e recolhem produtos e dinheiro, como um arrastão.
Na noite dessa segunda-feira, Israel Ramírez, de 13 anos, foi morto com um tiro no tórax em um saque organizado pelo WhatsApp, na cidade de Sáenz Peña, província de Chaco. Além do adolescente, outro menor foi baleado e está hospitalizado. Segundo os relatos da população local, eram mais de 100 pessoas no arrastão. O secretário de segurança da província divulgou que 19 pessoas foram presas no ato, e 9 policiais ficaram feridos.
Lamentablemente , saqueos en Comodoro Rivadavia pic.twitter.com/81JLnwc9IL
— Molina Hugo (@hgcma) 31 de agosto de 2018
Saqueo en Guaymallen, Mendoza, en el supermercado ÁTOMO. pic.twitter.com/EFYQr7BSaE
— El Destape (@eldestapeweb) 31 de agosto de 2018
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Argentina. Em meio ao caos, governo Macri anuncia aprofundamento do ajuste fiscal e menino de 13 anos é assassinado pela polícia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU