31 Julho 2018
Eles dizem que os credit default swaps prestam um serviço para a economia real.
A informação é publicada por La Croix International, 30-07-2018. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
O presidente da Commodity Futures Trading Commission, Christopher Giancarlo, e o economista Bruce Tuckman escreveram uma carta respondendo às críticas do Vaticano em relação ao mercado financeiro internacional. Mais especificamente, eles defendem os derivados e credit default swaps.
Em meio, a Congregação para a Doutrina da Fé e o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (criado pelo Papa Francisco) publicaram o texto "Oeconomicae et pecuniariae quaestiones: Considerações para um discernimento ético sobre alguns aspectos do atual sistema econômico-financeiro”.
O documento avalia criticamente o funcionamento e os instrumentos do sistema financeiro.
No documento, dividido em quatro seções, os autores criticam derivativos e, mais especificamente, os credit default swaps (CDS), pois "podem causar enormes danos a países inteiros e a milhões de famílias".
São produtos derivativos que funcionam como contratos de seguro contra os riscos de falência de uma empresa ou um país, e do não pagamento da dívida.
Na carta, publicada em 23 de julho, a agência reguladora dos derivativos Commodity Futures Trading Commission reagiu às críticas do Vaticano.
"Nos sentimos obrigados a responder e defender os derivativos, e, em particular, os credit default swaps", escreveram dois diretores da agência.
Na carta, Christopher Giancarlo, que diz que é "católico praticante", e Bruce Tuckman defenderam a "utilidade social" destes produtos.
Com eles, por exemplo, um agricultor pode fixar antecipadamente o preço pelo qual vai vender o milho após a colheita, ou uma empresa de aviação pode pagar os custos de combustível ao longo de vários anos.
Giancarlo e Tuckman enfatizam que não se trata de atividade especulativa, mas um serviço prestado para a economia real.
No entanto, os CDS tiveram um papel importante na crise financeira de 2007-08, bem como na crise financeira grega desde 2009, a ponto de terem se tornado alvo de controle regulamentar.
Os “CDS são como uma apólice de seguro", disse Gunther Capelle-Blancard, especialista em finanças da Universidade de Paris 1. "Mas, no caso de seguro, o risco torna-se mútuo e acaba sendo pago com as contribuições de todos os segurados."
Então, quando há problemas, as perdas indenizáveis são limitadas.
Em relação aos CDS antes de 2008, o problema surgiu do fato de que todos poderiam comprar, inclusive para fins de proteção de um risco que ainda não corriam.
Esta situação levou as pessoas a especular sobre a eventualidade de um desastre para receber o dinheiro. Ou seja, era como se você comprasse um seguro contra incêndio para a casa do vizinho na esperança de que pegasse fogo — ao ponto de atear fogo ao próprio corpo.
"A propagação deste tipo de contrato sem limites adequados tem incentivado o crescimento de finanças de risco e da aposta no fracasso dos outros, o que é inaceitável do ponto de vista ético", enfatiza o Vaticano.
Notoriamente, foi o que aconteceu na Grécia. No auge da crise, os especuladores começaram a comprar CDS, jogando com a falência do país para receber algum dinheiro. Esta especulação contribuiu para a disparada dos impostos sobre o rendimento exigida pelo governo grego, agravando a situação econômica.
Logo depois dessa crise, entrou em vigor uma regulamentação "que proibida a venda de CDS sem motivos concretos", disse Capelle-Blancard.
Segundo ele, esta proibição "não se aplica aos grandes bancos, que continuam a emitir e trocar CDS sem nenhum controle".
Alertou, ainda, que o risco, portanto, "não desapareceu completamente, dados o tamanho e o poder destes bancos".
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Investidores dos EUA respondem às críticas do Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU