18 Julho 2018
De remota esperança à estrela política em ascensão, Alexandria Ocasio-Cortez teve algumas semanas duras. Mas, tem sua visão fixa no futuro, convencida de que a política estadunidense está pronta para “avançar 10 anos” nas eleições de novembro, devido à onda progressista para a qual ela contribuiu.
A reportagem é de Mythili Sampathkumar, publicada por Página/12, 17-07-2018. A tradução é do Cepat.
Ocasio-Cortez venceu o veterano democrata Joe Crowley no dia 26 de junho, em uma surpreendente vitória nas eleições primárias em Nova York. E embora até ela própria tenha ficado surpresa com o resultado, não está surpresa com o início de uma “conversão nacional” sobre a direção tanto dos democratas como dos republicanos, lhe disse ao jornal The Independent.
Há um brilho nos olhos de Ocasio-Cortez quando diz que seu objetivo principal agora é assegurar que sua vitória e o “turbilhão” de atenção “não sejam só um lampejo passageiro”. Acredita que o presidente Donald Trump pode não chegar a 2020 e às próximas eleições presidenciais, dada a quantidade de problemas que enfrenta, inclusive a investigação sobre a ingerência de Moscou nas últimas eleições e qualquer possível enfrentamento entre os integrantes da campanha de Trump e a Rússia.
“Veremos se ele sobrevive até 2020 politicamente. Há muito em jogo neste momento”, disse.
Contudo, o problema maior é seu próprio partido. A dirigente sustentou que o Partido Democrata, inclusive dentro de 10 anos, não pode se definir simplesmente como que está contra os republicanos. Disse que deseja que “inspire realmente” as pessoas, começando em novembro.
“Acredito que agora mesmo, em 2018, estamos em um momento político muito especial, no qual podemos avançar 10 anos em nossa política nas eleições de metade do ano”, disse.
Ocasio-Cortez afirmou que o país está “muito mais próximo dessa mudança do que pensamos, mas a questão é se vamos mobilizar” os eleitores em 2018. “Minha vitória nas primárias ainda está fresca, acabamos de vencer. Contudo, agora estamos começando a retomar o foco em voltar a trabalhar e nos organizar em nossa comunidade”, disse.
A democrata socialista de 28 anos segue comprometida com a abolição da agência de Imigração e Controle de Aduanas (ICE) e apoia um sistema de saúde universal e a educação superior gratuita para todos.
Contudo, seu foco não está apenas em sua carreira em Nova York. Ela pensa em todo o país, algo incomum entre os candidatos a deputados e que provavelmente tenha aumentado sua popularidade. Disse que ela é apenas um “apoio” para uma onda progressista dentro do Partido Democrata, uma onda que espera que a faça, “nunca como antes, mais conectada com suas comunidades”.
Sua campanha e sua plataforma, centradas em eliminar a influência corporativa da política, o perdão de empréstimos estudantis e a ação contra a mudança climática através de um plano econômico, contribuem para mitigar algumas das conotações negativas que cercam o termo “socialista” nos Estados Unidos.
Ocasio-Cortez disse que espera que a nova onda de progressistas faça do partido um “forte contra-ataque à administração Trump, mas não só em termos adversários. Destacou seu próprio distrito, que representa a maioria dos bairros de minorias, imigrantes e classe operária do Bronx e Queens na cidade de Nova York, que sentiu medo pelas políticas de linha dura de Trump. Para além das lutas políticas em Washington, as comunidades como as de Ocasio-Cortez necessitam estar protegidas.
A respeito de sua vitória nas primárias, Ocasio-Cortez explicou como sua equipe “ampliou o eleitorado em 68%, durante o último ano”. Isso significou que “mobilizaram pessoas que nunca tinham votado antes ou que normalmente não votam em uma eleição como esta, e isso requer muito trabalho e muita presença física sobre o terreno”.
Sua nova fama não parece ter subido à cabeça. É muito consciente do que significa para ela e outros se postular a um cargo público e parece ter a mesma paixão, se não mais, do que quando The Independent falou com ela antes das primárias.
Ocasio-Cortez promove muitos outros candidatos democratas progressistas, como o aspirante a governador de Michigan, Abdul El-Sayed, que pode se tornar o primeiro muçulmano estadunidense a dirigir um estado; Ayanna Pressley aspirante ao Congresso em Massachusetts, no antigo assento de John F. Kennedy, a enfermeira Cori Bush que compete para derrotar o titular republicano Roy Blunt, para representar Missouri, e vários outros. O objetivo não é apenas construir um grupo de defensores de ideias afins, mas também se assegurar de que recebam atenção.
“As pessoas me disseram que eu precisaria me apresentar três vezes nas primárias antes de vencer”, disse, uma atitude que antes chamava “derrotismo triunfalista” como parte de uma tendência preocupante na política. Ela deseja livrar as pessoas dessa ideia e animar os socialistas como ela a mudar o governo a partir de dentro.
O que contribuiu para esse otimismo visível, em parte, foi sua equipe de campanha e voluntários, muitos dos quais são estadunidenses de primeira geração e eleitores novatos. Sua campanha evitou todos os anúncios televisivos por “um desejo intencional de inovação”.
Ao mesmo tempo, Ocasio-Cortez disse que está muito consciente de que o Partido Democrata possui muito trabalho a fazer. Ainda que relute em “medi-lo em anos”, pois “às vezes a mudança ocorre muito rápido”, sua campanha é prova disso. Houve perguntas sobre se a ala do establishment do Partido Democrata realmente se unirá à ala mais socialista e progressista, mas Ocasio-Cortez acredita que os eleitores são o mais importante.
“Não se trata do que o establishment irá aceitar ou não, trata-se de como os eleitores vão fazer que aconteça”, disse.
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Estados Unidos. Alexandria Ocasio-Cortez, de remota esperança à estrela política em ascensão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU