19 Janeiro 2018
"Só surubinha de leve com essas filhas da puta, taca a bebida, depois taca a pica e abandona na rua", canta MC Diguinho no funk "Surubinha de Leve", uma das faixas mais ouvidas no Brasil nas plataformas de streaming. Um clipe da música, lançada há quatro meses, está previsto para ser divulgado na quarta-feira 17.
A reportagem é de Tory Oliveira, publicada por CartaCapital, 17-01-2018.
A polêmica em torno da temática da canção, interpretada como uma apologia ao crime de estupro (além de machista), gerou críticas, paródias e denúncias de usuários ao longo do dia. Na letra em questão de Diguinho, fala-se claramente sobre uma relação não-consensual com uma mulher bêbada, com o agravante do "depois abandona na rua".
"Sua música ajuda para que as raízes da cultura do estupro se estendam. Sua música aumenta a misoginia. Sua música aumenta os dados de feminicídio. Sua música machuca um ser humano. Sua música gera um trauma. Sua música gera a próxima desculpa. Sua música tira mais uma. Sua música é baixa ao ponto de me tornar um objeto despejado na rua", reagiu Yasmin Formiga.
O que era um desabafo pessoal tornou-se uma das "respostas" mais reproduzidas pelos críticos de "Surubinha", com mais de 127 mil compartilhamentos.
"Essa música é um total desrespeito contra as mulheres! E essa é a nossa resposta pra ela", fez coro à crítica a dupla Carol e Vitória, responsáveis por publicar no Youtube uma paródia com letras feministas para a música:
"Abusar de mulher é crime, estupro é violência, tira as mãos de cima dela e coloca na consciência. Só um recadinho de leve para quem fala o que quer: não calo a minha voz pra defender uma mulher".
No início da tarde, por meio de uma nota, o Spotify anunciou a retirada a música da plataforma pela distribuidora. Já a produtora responsável pela carreira de Diguinho, informou que dará uma resposta "nas redes".
A viralização de "Surubinha de Leve" trouxe à tona, novamente, as questões da objetificação da mulher e da normalização da cultura do estupro que permeia a sociedade brasileira. Não é, por exemplo, a primeira vez que a violência contra a mulher é utilizada levianamente em uma letra de funk. Em 2016, na esteira do estupro coletivo de uma adolescente no Rio de Janeiro, rapidamente emergiram músicas ao estilo "proibidão" que insultavam e descreditavam a vítima. Já "Covardia", de MC Livinho, tem entre os seus versos "Vou abusar bem dessa mina, toma, toma pica tranquilinha".
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Mulheres respondem a funk com apologia ao estupro: "É crime" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU