11 Novembro 2017
Depois que a Universidade de Georgetown reconheceu publicamente, no ano passado, que havia se beneficiado da venda de 272 mulheres, homens e crianças escravizados em 1.800, um professor do ensino médio de uma escola jesuíta em Washington convidou o historiador da instituição, que havia pesquisado o evento, para falar aos estudantes na aula de História.
A reportagem é de Rhina Guidos, publicada por Catholic News Service. A tradução é de Luísa Flores Somavilla, 08-11-2017.
Alguns alunos perguntaram a Adam Rothman, historiador e professor da Universidade de Georgetown, se sua escola, Gonzaga College High School, também poderia ter se beneficiado com a escravidão. Por um tempo, os jesuítas da Universidade lideravam o seminário de Washington, que mais tarde se transformou na escola.
O professor disse que não sabia, mas desafiou os alunos a descobrirem, relatou o professor de História da escola, Ed Donnellan, que convidou Rothman para falar com suas turmas.
Seis estudantes, juntamente com Ed Donnellan, aceitaram o desafio e apresentaram suas descobertas no dia 5 de novembro, no evento Ignatian Family Teach-in for Justice. O evento anual, que conta com a presença de aproximadamente 2.000 alunos de colégios e universidades jesuítas nos Estados Unidos, concentra-se em questões de justiça social.
Os estudantes tiveram acesso a uma variedade de registros nos arquivos da Universidade de Georgetown, como livros de contabilidade, históricos escritos, inscrições e outros documentos do que era, na época, o seminário de Washington.
Daniel Podratsky, aluno do primeiro ano da escola, disse que ele e os outros alunos participantes ficaram "muito surpresos" com o que encontraram nos registros.
"É uma história lamentável", disse.
Nos documentos, eles encontraram referências do que podem ter sido duas transações, e talvez outras mais, relativas a escravos. Um pode ter sido do pagamento do transporte de uma pessoa escravizada para uma plantação jesuíta no sul de Maryland, e o outro pode documentar o pagamento de uma "remoção de ervas daninhas no jardim" do seminário a uma pessoa chamada Gabriel, sem identificação de sobrenome, possivelmente escravo de um seminarista.
Também há outras transações, pistas que os estudantes continuarão pesquisando para entender o máximo que puderem sobre as ligações da escola com a escravidão.
"Estamos no início", disse Donnellan, que também pensa em levar os alunos para visitar o que sobrou das plantações escravas dos jesuítas em Maryland. Donnellan disse que as informações da escola, bem como da Universidade de Georgetown, "ficaram lá paradas por anos e ninguém falava sobre isso".
Os estudantes passaram duas semanas em Georgetown durante as férias de verão, olhando os registros por cerca de cinco horas por dia, e acham que há mais para ser descoberto.
O estudante do primeiro ano Hameed Nelson disse que a lição que tirou da experiência foi que "ela mostra o que pode se encontrar quando se faz as perguntas certas".
Não acho que nós, enquanto país, tenhamos enfrentado isso.
Os alunos disseram que suas descobertas foram recebidas com diferentes reações por outros estudantes. Alguns disseram, "precisamos fazer alguma coisa", disse Joe Boland, que participou da pesquisa com seu irmão Jack, bem como os estudantes Jack Brown e Matthew Johnson.
Outros alunos ficaram gratos pelo trabalho realizado. Outros diziam: "O que isto tem a ver comigo?"
À luz das conclusões dos alunos, o padre jesuíta Stephen Planning, diretor da escola, emitiu uma declaração dizendo que "ainda que seja necessário continuar trabalhando para descobrir os detalhes do passado da escola, fica claro que o Seminário de Washington tinha conexões com a escravidão em seus primeiros anos de existência. Este é um fato sobre o nosso passado que não podemos negar e que temos de enfrentar com sincera humildade".
O padre elogiou os estudantes e seus professores pelo trabalho, para o qual não receberam nenhum apoio financeiro, dizendo que não precisavam.
"Por que é importante saber se o Seminário de Washington tinha ligações com a escravidão há quase 190 anos?", perguntou o padre. "Porque para ser fiel a quem somos como comunidade de Gonzaga, precisamos ficar diante de Deus e não apenas celebrar nossos louros e realizações, mas reconhecer nossos pecados e falhas".
"Nosso passado pecador importa para nós, tanto como indivíduos quanto como instituição", continuou. "Por mais que não gostemos de admitir, nosso passado pecador exerce influência sobre quem somos hoje. Apenas quando aceitamos toda a nossa história, a parte boa e a parte ruim, é que a misericórdia de Deus pode tocar nossos corações para alcançarmos maior compreensão, compaixão e humildade".
Donnellan, o professor de História, disse que a escola também está pensando em criar um grupo de trabalho, estruturado nos moldes do grupo formado na Universidade de Georgetown, para analisar como, se isto for possível, a escola pode corrigir os erros. Pode-se honrar os escravos permanentemente na escola, principalmente Gabriel, quem eles acreditam que mais tarde foi emancipado, e considerá-lo "um irmão Gonzaga", disse Donnellan.
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Estudantes do ensino médio descobrem possíveis ligações com escravidão em escola jesuíta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU