26 Mai 2017
O Papa Francisco o conheceu pessoalmente em fevereiro deste ano quando, junto com o outro bispo laosiano Tito Bachong, Louis-Marie Ling contou a Francisco como foi o período que passou na prisão, na época em que Laos, pequeno país do sudeste asiático, estava em poder dos comunistas do Pathet Lao. Bergoglio ficou surpreso com sua história e pela forma serena e mansa com que a contou. Sobretudo porque Ling reconheceu a mão de Deus em seus sofrimentos: “A prisão foi um período de privação material, mas não espiritual: eu não podia celebrar a missa, mas eu mesmo era um sacrifício vivo que agradava a Deus. O que todo batizado é chamado a ser na vida”, disse o bispo laosiano em uma entrevista ao Vatican Insider.
A reportagem é de Paolo Affatato, publicada por Vatican Insider, 25-05-2017. A tradução é de André Langer.
Louis-Marie Ling Mangkhanekhoun, vigário apostólico de Paksé e administrador apostólico da capital Vientiane, foi eleito pelo Papa Francisco para ser o primeiro cardeal do Laos. Um acontecimento histórico para a pequena Igreja local (com cerca de 45 mil pessoas, menos de 1% da população de 7 milhões de habitantes), formada por pequenas comunidades espalhadas pelas aldeias rurais, na floresta tropical ou nas montanhas. Comunidades tribais compostas inclusive por poucas famílias, muito diferentes entre si segundo a etnia, usos e costumes: são os grupos indígenas hmong, khmou, akha, além dos mon, khmer, tibeto-birmanos e outros.
A um destes grupos, os khmou (presentes no norte de Laos e no sul da China) pertence o bispo Ling, de 73 anos, que atualmente dirige o vicariato de Paksé, território no qual vivem quase um milhão e meio de pessoas, mas há apenas 15 mil católicos. Esta zona conta com 7 sacerdotes, 9 religiosos e 16 religiosas. Único filho homem de sua família, com cinco irmãs, o pequeno Louis-Marie foi batizado em 1952 por sua mãe, que se converteu ao catolicismo depois da chegada dos missionários à sua aldeia. A família aceitou com honra, mas também com muito esforço, seu desejo de estudar no seminário. Ao descobrir sua vocação ao sacerdócio, Ling foi ao Canadá para estudar filosofia e teologia. Ali, entrou no Instituto Voluntas Dei.
Ao retornar para o Laos, encontrou um país em plena luta com as guerrilhas, desencadeada pelos militares comunistas que tomaram o poder em 1975. Sua ordenação sacerdotal foi feita às pressas, em 1972, em um campo para refugiados no qual o jovem padre viveu anos a fio esperando e com medo, além de um período na prisão (de 1984 a 1987) com outro padre, Tito Bachong.
Quando foi libertado, Ling pôde voltar à sua província natal, Paksé, primeiro como sacerdote e depois como vigário apostólico. Ling dirige, há 17 anos, a comunidade local por um caminho que a viu crescer pouco a pouco no testemunho evangélico, oferecido com um espírito de mansidão e benevolência em um contexto às vezes hostil. Alguns funcionários públicos locais, efetivamente, são intérpretes rigorosos de uma legislação sobre a liberdade religiosa que, apesar de ser constitucional (a Constituição é de 1991), ainda sofre do viés comunista do passado.
Nos últimos anos, a condição dos católicos laosianos melhorou sensivelmente: os bispos têm uma Conferência Episcopal única com os pares cambojanos, têm liberdade para se locomoverem, participam das atividades organizadas pela Santa Sé (como os Sínodos ou as visitas ad limina) e desenvolveram boas relações com as autoridades civis.
O bispo Ling fica feliz quando pensa que há somente alguns anos sua comunidade viveu um acontecimento histórico: a celebração pública da beatificação dos mártires laosianos, uma festa com mais de 7 mil fiéis é que foi, segundo suas palavras, “um verdadeiro milagre para nós”. Uma celebração impensável até pouco tempo atrás, que marca o começo de uma nova era para a Igreja local. Na liturgia de 11 de dezembro de 2016, na catedral de Vientiane, foram beatificados 17 mártires missionários e leigos laosianos. Entre eles estava o padre Joseph Thao Tien, o primeiro padre laosiano, assassinado em 1954, e cinco catequistas indígenas.
Em 2017, o bispo Ling poderá ordenar um novo sacerdote e, em seu vicariato, serão oito ao todo, todos laosianos. Também este é um passo importante: as atividades pastorais se desenrolam com serenidade, com visitas às famílias católicas, celebrações dos sacramentos, cursos de catecismo. “Tudo é obra de Deus. Nós apenas seguimos a inspiração do Espírito Santo”, afirmou o bispo.
Ling é um homem de esperança e, ao viver sua experiência de fé, vê com muito entusiasmo o futuro da sua pátria e da Igreja laosiana: com a abertura econômica e política de Laos e com sua entrada na Asean (Associação dos Países do Sudeste Asiático), tudo ficou mais fácil. A ajuda pastoral de sacerdotes e religiosas da Tailândia, Vietnã e Camboja poderá chegar à Igreja local, uma vez que os cidadãos dos países da Asean não necessitam de visto para entrar no Laos.
A história de Ling lembra a do arcebispo vietnamita Nguyen Van Thuan, que há algumas semanas foi proclamado venerável pela Santa Sé. O fato de ele ser elevado a cardeal é um sinal de estímulo para a comunidade dos batizados em Laos, a quem Ling chama de “minha Igreja menina”, a qual encomenda “às mãos amorosas da Mãe Maria”.
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O laosiano Ling, da prisão à púrpura - Instituto Humanitas Unisinos - IHU