18 Abril 2017
Nesse domingo foi Páscoa, a Ressurreição. No domingo anterior, recebemos o ramo de oliveira: o sinal da paz. Há poucos dias – apenas para lembrar o último ato da mais sangrenta temporada bélica que cruza a dramática temporada da migração secular – Donald Trump ordenou o lançamento da bomba não atômica mais devastadora, a MOAB. E Marine Le Pen ordenou que o papa não “se intrometa”, não abra a boca sobre o tema da imigração.
A reportagem é de Antonello Caporale, publicada por Il Fatto Quotidiano, 15-04-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Ainda há religião? A irrelevância social da fé nos países com os mais altos padrões de vida é também uma questão civil? Assim responde Vito Mancuso, teólogo: “Esta tarde [na Sexta-Feira Santa], às três horas, comemora-se a morte de Cristo. Antigamente, tocavam-se os sinos, despiam-se os altares. É o dia do jejum. Hoje, você sente uma mudança na vida cotidiana? Tudo é como sempre”.
Não há mais religião, é isso que você quer dizer?
A religio tem raiz lexical profunda. Significa ligação. Religio como grande ligação social. Rômulo funda Roma, mas é Numa Pompilio, graças à religião, que constrói a sua identidade. Perder a fé significa fazer com que vacile a identidade e, portanto, pôr em crise a natureza da própria civilização. A religião nos permite identificar um bem superior, um bem comum que supera o dos indivíduos. Ela nos mantém dentro desse marco geral. Mas hoje estamos assim.
O catolicismo torna-se burocracia; a oração, rito; a palavra do papa, pura consolação.
Sim, já foi uma ilusão de João Paulo II imaginar que o fato de ter peso dentro dos movimentos poderia significar mudar as relações de força. Corremos o risco de ser uma religião sem povo.
No entanto, Francisco é amado, ouve os últimos, continua pronunciando mensagens revolucionárias.
Um grande general precisa de um grande exército. Em vez disso, o papa está sozinho. O que é a Cúria? Onde está?
A Igreja Católica está irremediavelmente desfigurada por uma classe dominante, chamemo-la assim, que não está à altura?
Veja: onde os padres estão no altar, eles conseguem mover as comunidades. Em Bolonha, o novo bispo, um bergogliano, está revolucionando a relação da cidade com a sua Igreja. Em vez disso, em outros lugares, é tudo um rito cansado.
É responsabilidade do papa o fato de não ter conseguido mudar o rosto da sua Cúria e a sua reputação?
Claro que sim. Como ele pode pedir que o mundo mude se ele não enfrenta a crise de confiança que existe dentro do seu pequeníssimo Estado? Agora, já se passaram quatro anos desde a sua eleição. O papa tem o poder de fazer aquilo que ainda não faz.
Por que não o faz?
Porque ele não quer, porque talvez ele tema ir muito além. Mas, desse modo, a fé perde aquela capacidade de atrair. Antes, você me falava de Trump e da sua superbomba. Quando eu soube da notícia, eu não tive um sobressalto de espanto. Infelizmente, eu esperava isso. Mas como evitar o confronto entre essas personalidades tão enormemente perigosas se o Ocidente se apresenta perdido? E como a sociedade acha que vai superar a crise que a está abalando se não há um símbolo, um modelo ao qual se referir? Os jovens, como diz o título do belo livro de Michele Serra, continuam deitados no sofá. Eles não têm nada em que acreditar e nada para se assemelhar. Ausentes, simplesmente assim.
O Papa Francisco é acusado de tomar atitudes populistas. Uma exibição de pobreza, um grande teatro.
João Paulo II também foi acusado de populismo. Mas indicar uma ideia a uma massa enorme de pessoas com uma mensagem breve é uma obra gigantesca. São populares, sem dúvida!
Mas o exército, isto é, a Cúria...
É aquilo que é.
A atrofia da Igreja produzirá também desequilíbrios geopolíticos?
O declínio de uma religião é marcado pelo declínio demográfico daqueles que a professam. Os sinais estão todos aí. E a força interior de uma civilização, a sua capacidade de construir estilos de vida compartilhados também produz a força da resistência. Quando você perde a identidade perde também a sua civilização.
Você está dizendo que o Islã vencerá.
A história ensina. Deixemos de lado os fanatismos e os desvios que ele produz e digamos a verdade: o Islã está ganhando o jogo.
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O Ocidente, já sem religião, gera bombas. Entrevista com Vito Mancuso - Instituto Humanitas Unisinos - IHU