28 Novembro 2016
A queda da renda entre os 10% mais pobres, verificada na Pnad, aumentou a pobreza no país em quase 20%, segundo o economista Marcelo Neri,53, pesquisador e diretor do FGV Social.
A entrevista é de Mariana Carneiro, publicada por Portal Uol, 26-11-2016.
Nos anos dourados do crescimento, Neri criou a expressão "nova classe média", para ilustrar a ascensão da renda dos mais pobres. Agora, lamenta "erros", que segundo ele foram cometidos no último ano da gestão de Dilma Rousseff, que afetaram justamente a base da pirâmide.
Eis a entrevista.
Como avalia os dados da Pnad?
Revelam que 2015 foi um ano duplamente ruim. A renda familiar per capita caiu 7,04%. De 2004 a 2014, ela crescia em média 4,5%. A pobreza também aumentou muito: 19,33%. De 2004 a 2014, ela havia caído em média 10,44% ao ano.
Por que a pobreza aumentou?
Uma parte importante é explicada pelo congelamento do Bolsa Família com a inflação em dois dígitos. Nenhum outro benefício foi congelado assim. E ele vai de fato para os 10% mais pobres. E aí há uma quebra da série da história: é a primeira alta da pobreza desde a recessão de 2003.
O que os números de 2016 sugerem que vá aparecer nas estatísticas?
A partir da Pnad Contínua [pesquisa mensal sobre emprego], é possível notar que a renda do trabalho continua a cair de maneira forte e a desigualdade [entre as pessoas ocupadas] aumentou.
Em 2015, a série de rendimento tem um baque, e a série de desigualdade surpreendentemente, não.
Ou seja, essa estabilidade da desigualdade não vai ficar, vamos perdê-la em 2016.
Vamos perder tudo de bom das grandes tendências que tivemos desde o fim da última recessão, no governo Lula, até 2014.
Surpreende o fato de a desigualdade ter caído em 2015, apesar da recessão?
É notável o fato de ela não ter aumentado. Em parte é um excelente resultado, porque normalmente as recessões afetam os mais pobres. Mas na verdade houve uma perda generalizada.
Por que o piso da distribuição, os 10% mais pobres, foi mais afetado?
Houve um tratamento diferenciado, no mau sentido, dado aos mais pobres em 2015. O salário mínimo, a Previdência, o seguro-desemprego, todos aumentaram em 2015, e o Bolsa Família ficou parado.
Foi uma iniciativa totalmente sem sentido o aumento do salário mínimo. Não só ele gerou um impacto muito forte nas contas públicas como ajudou a aumentar o desemprego e a desocupação.
Erramos ao não reajustar o Bolsa Família. Fez com que colhêssemos esse resultado na pobreza visto na Pnad.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Congelar o programa Bolsa Família foi erro, diz economista do FGV Social - Instituto Humanitas Unisinos - IHU