23 Novembro 2016
Ao tempo em que demite mais uma leva de jornalistas, alguns dos quais antigos colaboradores do jornal líder da direita econômica brasileira, o Globo abre suas páginas a uma estranha personagem chamada Eurico Borba para achincalhar a hierarquia da CNBB, que emitira uma nota de repúdio à PEC-55/241. Está aí uma coisa que o velho Roberto Marinho não faria. Ele respeitava a Igreja, tinha relações muito fortes com o Cardeal Dom Eugênio Salles e, principalmente, não dispensava leitores, mesmo que fossem de esquerda.
O comentário é de J. Carlos de Assis, publicado por Jornal GGN, 23-11-2016.
Essa irmandade Globo/Borba mostra a extrema decadência do jornal e a emergência de figuras turvas fabricadas pelas contradições da política brasileira. O Globo dos três Marinhos, assim como Borba, está em tremenda confusão. Sabidamente em crise, recorre ao remédio tradicional dos empresários idiotas: corta no produto. É fato que o jornal não tem muito a oferecer a sua clientela, exceto aqueles que ele próprio deformou ao longo do tempo. As novas gerações não suportam Globo. Sua salvação tem sido pendurar-se na televisão.
Vejamos o Borba. O fato de destaque em sua biografia é ter sido presidente do IBGE em 1992/93. Tem um livro escrito, “Reflexões sobre a crise global”, do qual li três linhas da síntese: “Trata da questão do trabalho com reflexões sobre a propriedade, historicamente adquirida, da propriedade dos postos de trabalho por parte dos trabalhadores que nele operam e realizam suas vidas, proporcionando condições para que o capitalista concretizem seus intentos.” É claro que o texto está truncado. Mas não tão truncado quanto a cabeça do autor.
Nivelar propriedade privada dos meios de produção com “propriedade” dos postos de trabalho é uma aberração conceitual. Os postos de trabalho, no capitalismo, não são do trabalhador; são dos capitalistas. É por ser dono do posto de trabalho que o capitalista se apropria do trabalho produzido pelo trabalhador. Do contrário, o trabalhador jamais proporcionaria “condições para que o capitalista concretiz(asse) seus intentos”. Precisa de ler mais? Ora, é esse teólogo de botequim que resolveu dar lições de comportamento político à CNBB, que nada faz além de cumprir sua responsabilidade política.
Os franceses costumam dizer: a quelque chose malheur est bon! Em tradução livre, para alguma coisa serve a estupidez! Esse artigo de Borba, que sustenta que a nota da CNBB sobre a PEC confunde católicos, chega no momento certo para que se destaque a importância do documento sobre a mais nefasta iniciativa de lei em décadas.
Chamada de PEC da Morte, ou de AI-5 da economia política brasileira, se aprovada ela liquidaria com o setor público e a economia por 20 anos, caso não explodisse antes uma guerra civil.
Não sou católico praticante, mas acredito na sinceridade dos que creem na intervenção do Espírito Santo em ações humanas. Se de fato acontece, uma prova foi a nota da CNBB sobre a PEC da Morte. Com extrema serenidade, sem os arroubos autoritários e arrogantes de Borba, os três principais dirigentes da CNBB expuseram com clareza as ameaças contidas na proposta de emenda, em especial para as áreas sociais de saúde, educação e previdência.
Mas a CNBB não se restringe à retórica. Com sua autorização, a Comissão de Justiça e Paz está coordenando, junto com o Movimento Brasil Agora, o que pretende ser uma mega-manifestação contra a PEC no próximo 9 de dezembro (4 dias antes da votação da matéria no segundo turno no Senado), em Brasília, Rio de Janeiro, Curitiba e Recife, e eventualmente em outras capitais. Será um ato cívico-religioso para convencer os senadores a barrar a PEC. A ideia é expressar, juntando religiosos e leigos, em manifestação pacífica, o repúdio da opinião pública, em seu mais alto grau, a este AI-5 da economia política brasileira, ou PEC da Morte.
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Ataque à CNBB por causa de seu senso de responsabilidade política - Instituto Humanitas Unisinos - IHU