18 Novembro 2016
Em 15 de julho de 2015, a sonda New Horizons fez história ao sobrevoar Plutão mais perto do que nunca. Suas imagens mostraram pela primeira vez a superfície desse planeta anão, situado nos confins do Sistema Solar, coberta de vulcões de gelo e com uma grande região em forma de coração. Agora, dois estudos analisaram o lóbulo esquerdo dessa área e apontam que sob ela existe um grande oceano de água líquida.
A reportagem é de Nuño Domínguez, publicada por El País, 17-11-2016.
Há bilhões de anos, Plutão colidiu com um cometa de cerca de 200 quilômetros, 20 vezes maior que o asteroide que acabou com os dinossauros. O impacto formou uma enorme cratera que foi preenchida com gelo. Sua acumulação, juntamente com o efeito gravitacional de Caronte, a maior lua de Plutão, acabou deslocando todo o planeta sobre seu eixo de rotação.
A depressão criada pela colisão, conhecida como Sputnik Planitia, “estava a cerca de 1.200 quilômetros de sua posição atual”, explica James Keane, astrônomo da Universidade do Arizona e coautor de um estudo publicado nesta quarta-feira na revista Nature que detalha esse fenômeno. A bacia foi sendo preenchida com gelo de nitrogênio, metano e dióxido de carbono durante milhões de anos até que acabou reorientando Plutão em relação a sua lua, com a qual está ancorado, e ambos sempre mostram a mesma face.
A grande questão é de onde pode sair tanto gelo para mover um planeta inteiro, mesmo sendo anão. “A maneira mais óbvia” é que “existe uma grande massa de água sob o gelo da Sputnik Planitia”, diz Francis Nimmo, da Universidade da Califórnia, em Santa Cruz. “No núcleo rochoso do planeta existe radioatividade suficiente para derreter uma camada de gelo de cerca de 100 quilômetros de espessura”, destaca. Depois do impacto, a água fluiu para fora, preenchendo parte da cratera e deslocando todo o planeta, argumenta a equipe de Nimmo em um segundo estudo publicado pela Nature.
O oceano de Plutão “é composto principalmente de água, mas provavelmente também contém amoníaco, que atua como anticongelante”, razão pela qual “provavelmente” continua existindo hoje, diz Nimmo. “Teria um volume quase equivalente ao dos oceanos da Terra” e é “potencialmente habitável”, afirma.
É possível que haja vida nesse oceano, mas não será fácil provar. A massa de água estaria sob um sarcófago de gelo de cerca de 150 quilômetros de espessura, muito mais do que nas luas Europa e Encélado, que também possuem oceanos habitáveis, ou nas calotas polares do Ártico e da Antártida. “Se enviássemos uma missão orbital, o que pode levar bastante tempo, poderíamos confirmar a existência do oceano buscando excessos de massa na Sputnik Planitia ou com um radar que atravesse a crosta de gelo”, explica.
A equipe de Keane baseou seu estudo nos grandes cânions de gelo que se observam em Plutão. Concorda que “uma das maneiras mais fáceis” de criar essas enormes rachaduras é o empuxo do oceano que existe abaixo ao congelar e aumentar de volume, embora possa haver outras explicações. Em setembro, outra equipe de astrônomos sugeriu a existência desse oceano baseando-se nos acidentes geográficos fotografados pela sonda New Horizons e num modelo térmico do interior do planeta.
A sonda da NASA deixou Plutão para trás e está entrando agora no cinturão de Kuiper, composto por uma miríade de pequenos mundos gelados. “Provavelmente outros objetos de tamanho semelhante ao de Plutão no cinturão de Kuiper tenham esses oceanos subterrâneos”, aponta Nimmo. Espera-se que a New Horizons chegue ao primeiro desses corpos em 2019.
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Oceano habitável em Plutão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU