15 Novembro 2016
"A pastoral com as pessoas e as famílias com filhos LGBT não pode mais ser considerada extraordinária ou de fronteira, mas, ao contrário, deve se tornar ordinária, para evitar os inúteis sofrimentos causados por uma verdade sem misericórdia."
Publicamos aqui o documento final do IV Fórum dos Cristãos LGBT Italianos, realizado em Albano Laziale, entre os dias 15 e 17 de abril de 2016. O texto foi disponibilizado pelo sítio Gionata, 06-11-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
No ano jubilar da Misericórdia, 50 anos depois da conclusão do Concílio Vaticano II e a poucos meses do encerramento do Sínodo da Família, mais de 150 pessoas cristãs lésbicas, gays, bissexuais e transexuais (LGBT), com os seus pais e os agentes de pastoral (leigos, sacerdotes e religiosos), vindos de toda a Itália, encontraram-se por ocasião do IV Fórum dos Cristãos LGBT Italianos (Albano Laziale, 15-17 de abril de 2016) [1] para se perguntarem:
O que podemos fazer para favorecer a integração das pessoas LGBT na comunidade cristã? Que carismas podemos empregar? Como podemos fazer isso juntos?
Durante três dias, debatemos e nos escutamos reciprocamente. Este é o fruto do nosso encontro, que queremos oferecer à reflexão das nossas comunidades de fé.
Como cristãos LGBT, compreendemos que todos nós queremos ser uma parte viva de uma comunidade cristã que reflete, reza e se põe a serviço; uma parte que quer escutar e ser escutada.
Por isso, convidamos todos os cristãos LGBT a serem visíveis com o testemunho da sua vida concreta; os seus pais, a finalmente levaram a sua experiência às comunidades cristãs; e os agentes de pastoral, a serem cada vez mais nossos companheiros de caminho na fé.
Como cristãos, compreendemos que é hora de bater nas portas das nossas igrejas para construir pontes, abrir portas e demolir muros; chegou a hora de colocar à disposição das nossas comunidades de fé os nossos talentos, de sermos testemunhas com coerência, coragem e entusiasmo do amor responsável com o qual nos amamos, na fidelidade recíproca e no dom altruísta de si.
Estamos conscientes de que estamos no povo de Deus e de que somos chamados a favorecer uma mudança de perspectiva, na qual não seja só a Igreja que cuide de nós, mas que nós também a ajudemos a ser mais acolhedora com as pessoas homossexuais, bissexuais e transexuais e os seus familiares. Por isso, é importante que saibamos tecer uma rede de diálogo, atualização, testemunho, escuta e apoio mútuo, porque a solidão não pertence ao nosso Deus.
Nós, pais cristãos com filhos LGBT, compartilhamos como é fundamental para nós nos colocarmos sempre em uma atitude de escuta e de acolhida, para descobrir o desígnio de amor traçado por Deus para os filhos que nos foram confiados.
Como pais, devemos nos deixar interrogar pelo Senhor que fala ao nosso coração, também através da "saída do armário" dos nossos filhos e filhas; esse evento irrompe muitas vezes com dor nas famílias cristãs, mas, ao mesmo tempo, nos oferece a possibilidade de nos tornarmos pais duas vezes, acolhendo com olhos novos os filhos no seu mistério de amor.
Para nós, pais, é fundamental nos encontrarmos para podermos falar, nos apoiar e nos acolher reciprocamente no nosso caminho de consciência e, além disso, colaborar com os agentes de pastoral no apoio às outras famílias com filhos homossexuais, bissexuais e transexuais. Chegou a hora para nós, pais, de "sair do armário" por amor aos filhos.
Nós, agentes de pastoral (leigos, sacerdotes e religiosos), testemunhamos ao IV Fórum o nosso compromisso com a inclusão, para superar toda exclusão, e com a promoção da dignidade de todas as pessoas. A partir do nosso debate, surgiu a convicção de que a pastoral para as pessoas homossexuais, bissexuais e transexuais cristãs tem o dever de ajudá-las a "conservar a esperança" [2] em Deus, na Igreja, na Comunidade.
Na sua visita de saudação aos participantes do IV Fórum, Dom Marcello Semeraro, bispo de Albano, recordou-nos que, também para as pessoas LGBT, "não se trata de dentro ou fora da Igreja, mas de acompanhar e integrar as pessoas a partir da condição de cada um" [3].
Por isso, acreditamos que a pastoral com as pessoas e as famílias com filhos LGBT não pode mais ser considerada extraordinária ou de fronteira, mas, ao contrário, deve se tornar ordinária, para evitar os inúteis sofrimentos causados por uma verdade sem misericórdia. Por isso, desejamos uma pastoral que, na comunhão, saiba promover as diferenças como "manifestação particular do Espírito pelo bem comum" (1Coríntios 12, 7).
Todos nós oferecemos com alegria às nossas comunidades de fé estas reflexões que surgiram do nosso encontro no IV Fórum dos Cristãos LGBT, certos de que "as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias das pessoas de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração" (Gaudium et spes 1).
As perspectivas que surgiram no Fórum podem ser assim resumidas:
1. O Fórum dos Cristãos LGBT é uma rede informal que reúne, desde novembro de 2009, indivíduos, grupos e várias realidades locais e nacionais dos cristãos homossexuais, bissexuais e transexuais italianos, para ajudá-los a facilitar a comunicação entre si, favorecendo a realização de iniciativas comuns e promovendo a acolhida concreta nas várias comunidades e nas Igrejas cristãs italianas.
2. Evangelii gaudium: Exortação Apostólica sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual, 2013, n.109.
3. Luciano Moia. Chiesa e cristiani LGBT. Le domande dei cristiani omosessuali. Avvenire, 07 de maio de 2016.
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Construir pontes, abrir portas, demolir muros: a mensagem do IV Fórum dos Cristãos LGBT Italianos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU