04 Outubro 2016
No dia seguinte à realização das eleições municipais em todo o país, um grupo de intelectuais, entre eles, o antropólogo Luiz Eduardo Soares, divulgou a "Carta aberta aos membros da Rede", em que anuncia sua desfiliação da Rede Sustentabilidade, partido formalizado em 2015 e liderado pela ex-senadora Marina Silva com promessas de renovação da política.
Foto: Wilson Dias. Fonte: Agência Brasil
A reportagem é publicada por Uol, 03-10-2016.
Para o grupo, do qual também fazem parte Miriam Krenzinger, Marcos Rolim, Liszt Vieira, Tite Borges, Carla Rodrigues Duarte e Sonia Bernardes, "a Rede tem se estruturado sobre um vazio de posicionamentos políticos". Eles dizem ter creditado inicialmente essas ausências à possível inexperiência ou falta de estrutura partidária, mas que a experiência que tiveram foi demonstrando que o "deserto de definições a respeito de temas centrais nas disputas políticas contemporâneas não era um subproduto". "[É] o produto de uma postura determinada que evita as definições, porque percebe que cada uma delas pressupõe um custo político-eleitoral", acusam.
Sobre Marina Silva, os intelectuais dizem que ela "é uma liderança política com virtudes excepcionais", mas, ao mesmo tempo, possui "limites relevantes e não lidera a Rede para que o partido assuma definições políticas consistentes, parecendo preferir navegar em meio a uma sucessão de ambiguidades".
Por causa da "reduzida definição política", pontua o grupo, "a Rede tem se construído como uma legião de pessoas de boa vontade e nenhum rumo". Por isso também, na análise dos intelectuais, "permitiu que muitos oportunistas e políticos de direita identificassem na Rede um espaço fértil para seus projetos particulares". Daí a conclusão: "O que ocorreu em todo o país, então, foi um mergulho da Rede em direção ao passado e às tradições políticas que pretendíamos superar".
Os intelectuais condenam nominalmente a posição favorável de Marina e de parte do partido ao impeachment de Dilma Rousseff (PT). "O partido aliou-se ao movimento que entregou o poder ao PMDB e a um grupo político envolvido nas investigações da Lava Jato e comprometido em aplicar políticas radicalmente contrárias ao que sempre supomos fossem os valores e os objetivos da Rede", denunciam. Para eles, no apoio ao impeachment, "o que estava em curso, verdadeiramente, era um deslocamento político da Rede em direção ao bloco hegemônico".
Os intelectuais também atacam a falta de posição diante das propostas do governo de Michel Temer (PMDB) para áreas cruciais, como a Previdência e a legislação trabalhista: "O que disse a Rede sobre a economia brasileira e as reformas propostas pelo PMDB e seus aliados: a previdenciária, a trabalhista e a fiscal? E sobre o teto para gastos governamentais? Que reforma política o partido propõe? Que políticas a Rede defende para a educação e a saúde? Qual modelo de desenvolvimento sustentável propõe para o país, objetivamente? Qual sua posição sobre política de drogas, aborto, reforma da segurança, desmilitarização e o casamento homoafetivo? A sociedade brasileira não sabe o que pensa a Rede, nem consegue situá-la no espectro político-ideológico".
O grupo encerra a carta dizendo que, baseado na avaliação feita, a presença deles no partido "não faz mais sentido". "Permanecer, especialmente em um quadro onde o debate interno substantivo é uma ficção, seria apenas legitimar um processo que, rapidamente, repete a doença senil dos partidos."
Na primeira eleição que disputa, a Rede Sustentabilidade fez cinco prefeitos no primeiro turno, em cinco pequenos municípios: três da Bahia (Seabra, Livramento de Nossa Senhora e Brejões), um do Rio de Janeiro (Cabo Frio) e um de São Paulo (Lençóis Paulista). Nas capitais, o candidato da Rede, Clécio, foi ao segundo turno, contra Gilvam Borges (PMDB), na disputa pela Prefeitura de Macapá.
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Intelectuais apontam indefinição política, deixam Rede e criticam Marina - Instituto Humanitas Unisinos - IHU