15 Agosto 2016
Em 2017, ocorrerá não só o quinto centenário do início da Reforma Protestante: ocorrerão também os 50 anos desde que a Igreja Católica e a Federação Luterana Mundial iniciaram o seu diálogo teológico internacional.
A nota é do sítio do Mosteiro de Bose, 11-08-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A esse aniversário, foi dedicado, de 4 a 11 julho passado, o seminário de verão do Instituto de Estudos Ecumênicos de Estrasburgo. Entre os oradores, inúmeros atores do diálogo luterano-católico das últimas décadas, teólogos e bispos, assim como observadores de autoridade desse caminho de reaproximação; incluindo diversos amigos da nossa comunidade de Bose: André Birmelé, Eero Huovinen, Hervé Legrand, Angelo Maffeis, Friederike Nüssel, Elisabeth Parmentier, Wolfgang Thönissen, Myriam Wijlens.
O diálogo oficial entre o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos (então ainda Secretariado) e a Federação Luterana Mundial começou dois anos depois do fim do Concílio, em 1967. Tratava-se da primeira comissão bilateral de diálogo, na qual a Igreja de Roma se envolvia oficialmente.
Depois de algumas décadas, esse também se revelaria como um dos diálogos mais intensos e fecundos. O primeiro mandato dado aos representantes das duas Igrejas era de discutir "O Evangelho e a Igreja". Saiu daí um documento em 1972 (Relatório de Malta, disponível aqui, em italiano) que abrange muitos assuntos. Nele, a comissão observa "uma progressiva superação das controvérsias doutrinais", apesar da persistência de "problemas estruturais" responsáveis pela divisão entre as duas Igrejas.
Em particular, o documento deseja um reconhecimento mútuo do ministério ordenado e invoca ações oficiais tornando possível "atos ocasionais de intercomunhão".
Uma segunda fase de diálogo retoma tais questões. O documento sobre "A Ceia do Senhor" (1980) reconhece que, na teologia eucarística, as divergências entre as duas Igrejas não são mais separatórias, mas não se chega ao acordo proposto sobre a "recíproca admissão à Eucaristia".
Abordando o ministério (1981), os especialistas luteranos e católicos concordaram sobre a função constitutiva para a Igreja do ministério ordenado. No entanto, as divergências sobre a compreensão da ordenação não permitem o reconhecimento recíproco dos ministros.
Dois documentos, depois, se concentram na possibilidade de um processo no qual as duas Igrejas, como tais, se reconheçam mutuamente, descrevendo a meta ecumênica a ser buscada e levantando hipóteses sobre passos concretos para alcançá-lo: "Caminhos para a comunhão" (1980) e "A unidade diante de nós" (1984).
Uma terceira série de diálogos internacionais se estendeu de 1986 a 1993. Produzindo o mais longo documento desse diálogo (145 páginas): "Igreja e Justificação" (1993). Nele, estuda-se o amplo consenso entre as duas Igrejas sobre a questão da justificação, analisando as suas implicações para a eclesiologia. Apesar de um grande acordo, várias divergências de detalhe – mas não insignificantes – são identificadas: os teólogos da comissão adotam, então, uma nova metodologia, chegando a um "acordo diferenciado" em que se expressa um consenso de fundo sobre o essencial, apesar da presença de diferenças, mas que não invalidam o acordo alcançado e que não causam mais divisão na Igreja.
Esses relatórios, no entanto, continuam sendo documentos de teólogos, embora delegados oficialmente pelas duas Igrejas, mas não tinham sido recebidos oficialmente pelas autoridades eclesiais.
Em 1993, a Federação Luterana Mundial e a Igreja Católica decidiram, portanto, aprovar formalmente os resultados dos diálogos entre elas sobre a justificação e se declarar em comunhão sobre esse ponto: uma "Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação" é, então, redigida, retomando os resultados dos diálogos em forma breve, afirmando um "consenso sobre as verdades básicas da doutrina da justificação" e declarando que as condenações de cada Igreja contra a outra não se aplicam mais à sua compreensão atual da justificação.
Essa declaração, então, foi ratificada pelas instâncias romanas e pelos sínodos luteranos, assinada, depois, solenemente pelas mais altas autoridades das duas Igrejas no dia 31 de outubro de 1999, em Augsburgo. Longos anos de diálogo, assim, produziram o seu fruto: um acordo de comunhão foi oficialmente sancionado entre as duas Igrejas.
Mas outros pontos ainda devem ser esclarecidos, para progredir rumo à plena comunhão entre as duas Igrejas. Depois de um texto sobre a "Apostolicidade da Igreja" (2006), a comissão de diálogo se ocupou, depois, das comemorações de 2017, produzindo um documento que relê com um olhar comum os eventos do século XVI que levaram à separação eclesial.
Tal releitura compartilhada da história abre caminho para a primeira comemoração conjunta da Reforma: "Luteranos e católicos foram capazes de reinterpretar as suas tradições e práticas teológicas, reconhecendo as influências que tiveram uns sobre os outros. Precisamente por isso, desejam comemorar juntos o ano de 2017", lê-se no documento "Do conflito à comunhão" (2013).
O texto conclui com este imperativo ecumênico: "Os primórdios da Reforma serão recordados de maneira adequada e justa quando luteranos e católicos escutarem juntos o Evangelho de Jesus Cristo e se deixarem novamente chamar para fazer comunidade junto com o Senhor".
O diálogo internacional entre as Igrejas católica e luterana, assim, se revelou como um dos mais profícuos entre os diálogos iniciados sob o impulso do Concílio Vaticano II.
A Comunidade de Bose teve a alegria de acolher a comissão para a sua reunião plenária em duas ocasiões: no ano 2000, logo depois da histórica assinatura da Declaração Conjunta sobre a Justificação, e no verão de 2014, na retomada dos trabalhos da comissão para uma nova fase depois da publicação do documento "Do conflito à comunhão".
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Cinquenta anos de diálogo católico-luterano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU