01 Agosto 2016
Na primeira das três conferências proferidas no Centro Cultural San Fedele, em Milão, em novembro e dezembro de 2002, o cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, aborda os conflitos e as harmonias na interpretação bíblica. Examina a relação entre Escritura e Tradição, o papel do(s) autor(es) e do(s) leitor(es) e como tanto a Palavra quanto a Tradição revestem, ambas, a estrutura típica da encarnação, incorporando em si, de modo compacto, a dimensão humana e a transcendente. Esse fato torna indispensável a interpretação, para chegar a compreender a Palavra "que permanece eternamente".
A reportagem é de Roberto Mela, publicada no sítio Settimana News, 27-07-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Três exemplos de conflitos são representados pela copresença de diversas tradições dentro da Bíblia, pela relação a ser estabelecida corretamente entre ciência e fé e, por fim, pelo rosto violento e vingativo que pareceria emergir de muitas páginas do texto bíblico, salmos imprecatórios em primeiro lugar.
A segunda conferência é dedicada aos novos métodos da interpretação bíblica. A busca por uma interpretação correta não pode evitar a sensação de violência que está presente na Bíblia. A sensação de violência deve ser compreendida à luz do fato de que Deus está presente também nos lados escuros da humanidade e acompanha pedagogicamente o caminho do ser humano, educando, mas também respeitando a sua liberdade.
A linguagem bíblica deve ser bem conhecida e decodificada para poder relacioná-la com a época contemporânea. Um caso típico, por exemplo, é o antropomorfismo que está presente de modo transversal em todos os livros bíblicos, incluindo o Novo Testamento.
Ravasi apresenta brevemente os métodos exegéticos mais importantes: histórico-crítico, retórico, semiótico, canônico e tradicional, sociológico e psicológico, "liberacionista" e "feminista". Mais do que de métodos, para os últimos, fala-se mais, hoje, de "abordagens" (cf. documento A interpretação da Bíblia na Igreja, da Pontifícia Comissão Bíblica, de 1993).
A última conferência esboça a interpretação bíblica na vida da Igreja. A leitura teológica correta inclui a leitura literal, a espiritual e a que busca o sensus plenior, o sentido pretendido por Deus desde o início, mas não explicitado senão com a plenitude do cumprimento da revelação divina.
Para compreender corretamente a interpretação bíblica na Igreja é preciso ter em mente a figura do "Espírito da verdade" prometido por Jesus no Evangelho de João. Ele age na comunidade toda – especialmente na liturgia – e não só no ensino ou nos teólogos.
Pode-se discernir como e onde o Espírito exerce a Sua função de "recordar" as coisas ditas por Jesus: Ravasi lembra como Ele opera na liturgia, na lectio divina, na catequese, na homilia e na Escritura situada no debate ecumênico.
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Interpretar a Bíblia, segundo o cardeal Ravasi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU