21 Junho 2016
Após reuniões com mais de 50 povos indígenas brasileiros, em março deste ano, a relatora especial das Nações Unidas sobre direitos das populações indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, alertou o governo sobre um "risco potencial de efeitos etnocidas (sobre indígenas) que não pode ser desconsiderado nem subestimado".
"Considero extremamente alarmante que uma série desses ataques, que envolveram tiroteios e feriram populações indígenas em comunidades do Mato Grosso do Sul, tenham ocorrido após minhas visitas a essas áreas", disse a especialista após a viagem de 11 dias pelo país.
A reportagem é de Ricardo Senra, publicada por BBC Brasil, 20-06-2016.
Na época, ela convocou o "governo a pôr um fim a essas violações de direitos humanos, bem como investigar e submeter os mandantes e autores desses atos à Justiça".
Na última semana, quase três meses depois da visita oficial da relatora, um ataque violento a comunidades indígenas na mesma reunião de Dourados deixou um morto e pelo menos cinco feridos - incluindo uma criança de 12 anos, baleada com um tiro na barriga.
Segundo a BBC Brasil apurou, a criança e outros três feridos por tiros continuam internados em um hospital público da região.
A reportagem procurou a relatora da ONU, que voltou a comentar o assunto.
"A crise política que se seguiu à minha visita acabou tornando os proprietários rurais mais poderosos", disse Tauli-Corpuz no último sábado. "Eu previa que eles seriam mais ousados na realização dos despejos contra povos indígenas. Mas esperava que o fato de os povos indígenas terem avançado nos processos necessários para ter estas terras reconhecidas pelo governo detivesse os fazendeiros", afirmou.
"Os despejos violentos que aconteceram são extremamente lamentáveis. Condeno estas ações", prosseguiu a filipina, convocando novamente o governo brasileiro a "investigar o ocorrido e trazer seus responsáveis à Justiça".
Enviados pelo governo do Mato Grosso do Sul, policiais da Força Nacional atuam na região desde a última quinta-feira. As investigações sobre o tiroteio estão sendo conduzidas pela Polícia Federal.
"O objetivo é estabelecer a segurança e a tranquilidade na realização dos trabalhos periciais naquele local de conflito e, dessa forma, prosseguir nos demais atos investigatórios, primordiais na apuração das autorias e materialidades delitivas", afirmou a PF, em nota.
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Tragédia anunciada: ONU "previu" mortes indígenas em MS há três meses - Instituto Humanitas Unisinos - IHU