10 Junho 2016
Querer "isto ou nada" não é católico, é "herético". Essa é a advertência de Francisco na missa matinal na Casa Santa Marta, totalmente centrada no "realismo sadio" que o Senhor ensinou aos seus discípulos.
A reportagem é de Alessandro Gisotti, publicada no sítio da Radio Vaticana, 09-06-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O papa enfatizou o mal que causam no povo de Deus os homens da Igreja que fazem o contrário daquilo que dizem. Por isso, exortou a se libertar de um idealismo rígido que não permite que nos reconciliemos entre nós.
"A tua justiça deve superar a dos escribas e fariseus." O Papa Francisco inspirou-se nessa exortação de Jesus, no Evangelho dessa quinta-feira, para se deter sobre a importância do realismo cristão. O povo, afirmou o pontífice, estava "um pouco perdido", porque "aqueles que ensinavam a lei não eram coerentes" no seu "testemunho de vida".
Então, Jesus pede que se supere isso, que se "vá para cima". Assim, toma como exemplo o primeiro mandamento: "Amar a Deus e amar o próximo". E ressalta que qualquer pessoa que se encolerizar contra o seu irmão deverá ser submetida a juízo.
Insultar o irmão é como dar um tapa na sua alma
"É bom ouvir isso – disse o papa – neste tempo em que estamos tão acostumados aos qualificativos e temos um vocabulário tão criativo para insultar os outros." Isso, retomou, "é pecado", é "matar, porque é dar um tapa na alma do irmão", na sua "dignidade". E, com amarga ironia, acrescentou que, muitas vezes, dizemos tantos palavrões "com muita caridade, mas os dizemos aos outros".
Referindo-se à presença de crianças na missa, o papa também exortou a ficar "tranquilos", "porque a pregação de uma criança na igreja é mais bonita do que a do padre, do bispo e do papa". Deixem-na estar, foi o seu convite, "porque ela é a voz da inocência que faz bem para todos nós".
Causa escândalo um homem da Igreja que faz o contrário daquilo que diz
Jesus, afirmou o papa, a "esse povo desorientado", pede que olhe "para cima" e vá "em frente". Mas não deixa de salientar como faz mal ao povo o contratestemunho dos cristãos:
"Quantas vezes nós, na Igreja, ouvimos estas coisas, quantas vezes: 'Mas, aquele padre, aquele homem, aquela mulher da Ação Católica, aquele bispo, aquele papa nos dizem: Vocês devem fazer isto!, e ele faz o contrário'. Esse é o escândalo que fere o povo e não deixa que o povo de Deus cresça, vá em frente. Não liberta. Esse povo também tinha visto a rigidez daqueles escribas e fariseus, e, quando vinha um profeta que lhes dava um pouco de alegria, perseguiam-no e até o matavam: não havia espaço para os profetas lá. E Jesus lhes diz, aos fariseus: 'Você mataram os profetas, perseguiram os profetas: aqueles que traziam ar fresco'."
Seguir o realismo sadio da Igreja, não a idealismos e rigidez
"A generosidade, a santidade", que Jesus nos pede, "é sair, mas sempre, sempre para cima. Sair para cima." Essa, disse Francisco, é a "libertação" da "rigidez da lei e também dos idealismos que não nos fazem bem". Jesus, comentou depois, "nos conhece", "conhece a nossa natureza". Portanto, ele pede para que nos coloquemos de acordo quando temos um contraste com o outro.
"Jesus – disse o papa – também nos ensina um realismo sadio." "Muitas vezes – acrescentou – não é possível chegar à perfeição, mas, ao menos, façam aquilo que vocês podem, ponham-se de acordo":
"Esse é o realismo sadio da Igreja Católica: a Igreja Católica nunca ensina 'ou isto ou isto'. Isso não é católico. A Igreja diz: 'Isto e isto'. 'Faça a perfeição: reconcilie-se com o seu irmão. Não o insulte. Ame-o. Mas, se houver qualquer problema, ao menos, ponha-se de acordo para que a guerra não exploda'. Esse é o realismo sadio do catolicismo. Não é católico 'ou isto ou nada': isso não é católico. Isso é herético. Jesus sempre sabe caminhar conosco, nos dá o ideal, nos acompanha rumo ao ideal, nos liberta desse enjaulamento da rigidez da lei e nos diz: 'Faça até o ponto que você pode fazer'. E ele nos entende bem. Esse é o nosso Senhor, é isso o que Ele nos ensina."
Reconciliar-se entre nós é a "santidade pequenina" da negociação
O Senhor, disse ainda, nos pede para não sermos hipócritas: não ir louvar a Deus com a mesma língua com que se insulta o irmão. "Façam aquilo que vocês podem", acrescentou, "é a exortação de Jesus", "ao menos, evitem a guerra entre vocês, ponham-se de acordo":
"E eu me permito lhes dizer esta palavra que parece um pouco estranha: é a santidade pequenina da negociação. 'Mas eu não posso tudo, mas quero fazer tudo, mas me ponho de acordo com você, ao menos não nos insultemos, não façamos a guerra e vivamos todos em paz'. Jesus é grande! Ele nos liberta de todas as nossas misérias. Também daquele idealismo que não é católico. Peçamos ao Senhor que ele nos ensine, em primeiro lugar, a sair de toda rigidez, mas sair para cima, para poder adorar e louvar a Deus; que ele nos ensine a nos reconciliarmos entre nós; e também, que nos ensine a nos pôr de acordo até o ponto em que o possamos fazê-lo."
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Papa Francisco: é herético dizer "é isto ou nada", Jesus nos ensina o realismo sadio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU