14 Abril 2016
Faremos luz sobre todos os casos de pedofilia recentes e passados. É a promessa da igreja católica francesa, empantanada numa série de escândalos que emergem repetidamente nos últimos meses, envolvendo em particular a diocese de Lion e uma figura de ponta com o cardeal Philippe Barbarin, acusado de haver acobertado padres pedófilos.
A reportagem é de Luana De Micco, publicada por Fatto Quotidiano, 13-04-2016. A tradução é de Benno Dischinger.
“Entendemos que o ferimento sofrido é profundo e que nem sempre gerimos as situações no melhor dos modos”, observou ontem o arcebispo de Marselha Georges Pontiers, presidente da Conferência dos bispos da França (CEF). “É nosso dever escutar as vítimas e colaborar com a justiça”. No termo de uma jornada de trabalho os bispos anunciaram uma bateria de medidas para lutar contra a pedofilia nas dioceses. Passar, em suma, do simples exame de consciência a atos concretos para liberar-se da capa de suspeitas que pesam sobre a igreja da França e evitar novos escândalos.
Primeiro ponto: a criação de uma comissão nacional independente presidida por uma personalidade laica “qualificada” e composta por peritos, médicos, magistrados, psicólogos, mas também progenitores. Cuja missão será aconselhar e ajudar os bispos a avaliar os casos particulares de comportamentos suspeitos de padres. Em caso de suspeitas fundadas, os bispos deverão “tomar as medidas necessárias, até a decisão da justiça e o resultado do procedimento canônico”.
Segundo ponto: a criação de “células de escuta” para as vítimas, em todas as dioceses, pelo modelo daquela aberta em Orléans no ano passado, antes dos recentes escândalos, e que compreende um enfermeiro e um psicólogo. Desde ontem chegou também um e-mail pelo qual as jovens vítimas já podem escrever.
O anúncio era esperado de um momento ao outro após o dilúvio de polêmicas que se desencadeou sobre o cardeal Barbarin, no centro de duas inquisições, em particular por haver “coberto” o padre Bernard Preynat, acusado de atos de pedofilia sobre um grupo de ex-escoteiros, cometidos há mais de 25 anos. Os fatos ocorreram quando o atual arcebispo de Lyon ainda não estava na condução da diocese. Mas, lhe é censurado não ter feito nada para remover os responsáveis dos atos molestos.
“Talvez tenhamos contribuído para um choque de consciências, mas a impressão é que até agora jamais tinha sido feito nada”, reagiu Bertrand Virieux, uma das vítimas de Lion e fundador da associação La Parole Liberée, a Palavra Liberada, na origem das denúncias. Ele e os outros ex-meninos molestados solicitam agora “que seja realmente atuada aquela ‘tolerância zero’ invocada pelo Papa”.
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Igreja francesa: “Tolerância zero” para pedófilos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU