Cardeal Pell admite que sabia sobre queixas de abuso sexual e que falhou ao não agir

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06 Março 2016

O Cardeal George Pell concluiu o seu depoimento a uma comissão investigadora australiana sobre casos de pedofilia clerical na Austrália admitindo que fora informado sobre uma queixa de abuso, e que nada fez.

Na década de 1970, o cardeal disse que um aluno veio até ele falar sobre Edward Dowlan, membro da comunidade católica Christian Brother, quem mais tarde fora condenado por abusar de, pelo menos, vinte meninos. O cardeal falou: “Ele apenas mencionou o assunto casualmente numa conversa; jamais me pediu que fizesse alguma coisa”.

A reportagem é de Christopher Lamb, publicada por The Tablet, 03-03-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

Após ser perguntado por uma advogada que auxilia a comissão investigadora sobre o porquê ele não levou adiante a queixa, Pell respondeu: “Naquela época, as pessoas tinham uma atitude diferente. Não havia detalhes sobre a atividade, nem se sabia a seriedade com que fora praticado. Além disso, o menino não estava me pedindo para fazer alguma coisa. Ele só estava lamentando e o mencionou em nossa conversa”.

O cardeal, prefeito da Secretaria para a Economia da Santa Sé, esteve depondo à Comissão Real da Austrália esta semana via videoconferência direto do hotel Albergo Quirinale, em Roma.

Durante o último – e cansativo – dia de depoimento, que viu o cardeal ser interpelado pelos advogados das vítimas, o eclesiástico de 74 anos também disse que enfrentou uma oposição em Roma para remover o padre pedófilo Peter Searson de uma paróquia quando era arcebispo de Melbourne.

“Eu era bem claro em minhas obrigações junto à comunidade, então tenho de dizer que simplesmente ignorei algumas decisões vindas de Roma”, disse ele.

Mas a Comissão, que está analisando as respostas institucionais dadas a casos de abuso sexual cometido pelo clero na Austrália, também ouviu que, na qualidade de bispo auxiliar de Melbourne, Pell recebeu queixas acerca de Searson, mas preferiu deixar o assunto para a Secretaria Diocesana para a Educação Católica. Searson morreu antes que pudesse ser processado por molestar meninas no confessionário e por abusar sexualmente de meninos.

Durante os quatro dias de interrogatório, perguntaram a Pell sobre o que ele sabia dos abusos cometidos nas décadas de 1970 e 1980, em particular em sua diocese natal de Ballarat, que teve um número grande de padres abusadores.

Um deles era Gerald Ridsdale, condenado por abusar de 54 crianças.

O cardeal irritou as vítimas na terça-feira ao dizer que ele não “se interessava muito” no caso Ridsdale, tendo dito, no dia seguinte, que se arrependeu na escolha das palavras.

Ele igualmente negou a afirmação de que teria tentado silenciar David Ridsdale, que foi abusado por seu tio Gerald. David alega que contou a Pell, em um telefonema dado em 1993, sobre o abuso cometido por seu tio. David diz que, durante o telefonema, o cardeal lhe perguntou sobre o que poderia ser feito para que ele “ficasse quieto”.

David Ridsdale está entre as vítimas de abuso sexual que viajaram a Roma para presenciar a audiência de Pell. Estas pessoas, no entanto, criticaram o depoimento do religioso descrevendo-o como uma “performance”. Em uma breve coletiva de imprensa na quarta-feira à noite, o cardeal australiano disse esperar que a sua presença diante da Comissão Real – que foi voluntária – traga alguma cura.

Na quinta-feira, dia 3 de março, Pell se encontrou em Roma com uma dúzia de sobreviventes vindos de Ballarat naquilo que depois descreveu como um “encontro difícil, honesto e ocasionalmente emotivo”. Ele acrescentou: “Conheço muitas das famílias destas pessoas e sei da bondade de muitas delas em Ballarat”.

Na sequência do encontro, o cardeal comprometeu-se em tentar apoiar as vítimas, especialmente buscando evitar o suicídio de quem sofreu abuso sexual. Afirmou querer ajudar a tornar Ballarat um lugar de cura e paz, e que espera que a cidade se transforme em um centro de ajuda prática aos às vítimas e aos sobreviventes.

Um dos sobreviventes, Phil Nagle, descreveu o encontro em termos positivos, dizendo que ele se focou no futuro, e não no passado. “Acho que o cardeal compreende”, declarou Nagle.

As vítimas, que deixam Roma nesta sexta-feira, 04-03-2016, têm também a esperança de se encontrarem com o Papa Francisco.

O cardeal disse que se certificou de que Francisco e a Secretaria de Estado do Vaticano estão informados dos desdobramentos na Comissão Real.