A Boston de “Spotlight"

Mais Lidos

  • “A América Latina é a região que está promovendo a agenda de gênero da maneira mais sofisticada”. Entrevista com Bibiana Aído, diretora-geral da ONU Mulheres

    LER MAIS
  • A COP30 confirmou o que já sabíamos: só os pobres querem e podem salvar o planeta. Artigo de Jelson Oliveira

    LER MAIS
  • A formação seminarística forma bons padres? Artigo de Elcio A. Cordeiro

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

21 Janeiro 2016

“O melhor de 'Spotlight' é que a investigação é o filme. Assim como pouco vemos vida pessoal dos investigadores, não vemos nenhum flashback com cenas de sedução de menores. Não há vilões na trama. O que vemos são as vítimas, as consequências. O filme não precisa de monstros — a grande monstruosidade é o acobertamento. E o maior escândalo mostrado pelo filme vem no fim, nas legendas que mostram o desdobramento das revelações publicadas, e pelas quais ficamos sabendo que o cardeal banido de Boston pela sua inação diante dos crimes foi para um alto cargo no Vaticano”, comenta Luís Fernando Verissimo, escritor, na crônica publicada por Zero Hora, 21-01-2016.

Eis a crônica.

Fica-se sabendo pouco sobre a vida privada dos repórteres que investigam os casos de pedofilia acobertados pela Igreja Católica, no filme “Spotlight”. Talvez para não desviar nossa atenção do que interessa, as idas e vindas, magnificamente filmadas, da investigação em si. A mesma preocupação em fixar-se na trama deve explicar a ausência de maiores detalhes sobre o que significava, em termos de audácia jornalística e pura coragem, enfrentar o assunto — que começou municipal antes de se tornar internacional — em Boston, o epicentro de uma certa cadeia de cumplicidades (tradicional corrupção política abençoada por uma igreja conservadora e poderosa, tudo quase absolvido pela simpatia irlandesa), de cuja força só se tem pequenos vislumbres, no filme.

Foi em Boston que começou a dinastia dos Kennedy, com o patriarca Joseph, notoriamente ligado ao crime organizado e que, dizem, comprou o cargo de embaixador americano em Londres para si e, depois, a Presidência dos Estados Unidos para o filho John. Seu filho mais moço, Edward, acabou sendo um representante de outra tradição política da Nova Inglaterra, onde fica Boston: a do engajamento social. Edward deixou um respeitável currículo de esquerda, como senador. Mas Joseph Kennedy personificou como ninguém a aristocracia bostoniana, devota e criminosa, que o filme, de certa forma, poupa.

O melhor de “Spotlight” é que a investigação é o filme. Assim como pouco vemos vida pessoal dos investigadores, não vemos nenhum flashback com cenas de sedução de menores. Não há vilões na trama. O que vemos são as vítimas, as consequências. O filme não precisa de monstros — a grande monstruosidade é o acobertamento. E o maior escândalo mostrado pelo filme vem no fim, nas legendas que mostram o desdobramento das revelações publicadas, e pelas quais ficamos sabendo que o cardeal banido de Boston pela sua inação diante dos crimes foi para um alto cargo no Vaticano.