07 Dezembro 2015
Uma visão extrema: o capitalismo perderá a dominância e dará lugar à economia colaborativa, compartilhada, em meados do século XXI.
O raciocínio é desenvolvido em "Sociedade com Custo Marginal Zero", do economista norte-americano Jeremy Rifkin, que ensina executivos a tornar suas empresas sustentáveis na escola de negócios Wharton (da Universidade da Pensilvânia, nos EUA).
A reportagem é de Amon Borges, publicada por Folha de S. Paulo, 05-12-2015.
Para ele, o dinamismo e a eficiência produtiva do sistema, somados à evolução das máquinas, serão os responsáveis por seu colapso.
Rifkin aponta que o grande e constante avanço tecnológico possibilita um ritmo de produção cada vez mais acelerado, tornando o custo marginal –preço para produzir uma unidade a mais de determinado produto– muito próximo de zero. Assim, o acesso a tudo se torna mais fácil.
Com essa perspectiva, relata que lucros das corporações começam a diminuir, a ideia de propriedade vai se enfraquecendo e uma economia baseada em escassez é substituída por uma cena de abundância. As pessoas passam a compartilhar bens, desfrutam de produtos ou serviços, sem necessariamente comprá-los.
Para Rifkin, uma sociedade com essa característica torna-se um cenário ideal para promover o bem-estar geral, representando o triunfo do capitalismo e, ao mesmo tempo, a sua inevitável saída do palco mundial.
De acordo com o autor, "enquanto o mercado capitalista baseia-se no interesse próprio e é guiado pelo ganho material, os bens comuns sociais são motivados por interesses colaborativos e guiados por um profundo desejo de se conectar com os outros e de compartilhar".
Posse X Acesso
Rifkin diz que, se a propriedade privada é a característica definidora de um sistema capitalista, então o automóvel particular é seu símbolo de status. Comparando novas gerações com a sua, o autor vê um decréscimo no número de jovens que dão extrema importância aos automóveis.
Ele destaca empresas como a Zipcar ou a City Car Share, nos EUA, cujo objetivo é disponibilizar veículos e estimular a ideia de acesso –não mais a posse.
A tendência de compartilhar tudo deve aumentar e, no futuro, chegar aos carros autônomos, sem motorista –por exemplo, os desenvolvidos pelo Google.
Além de veículos, casas, roupas e outros itens passam a ter evidência no compartilhamento e já têm impacto na economia, aponta o autor.
"A busca do interesse próprio está sendo moderada pela pressão de interesses colaborativos, e o tradicional sonho de enriquecimento financeiro está sendo suplantado pelo sonho de uma qualidade de vida sustentável", escreve o autor.
Trabalho
A tecnologia, que faz alcançarmos baixos custos na produção marginal, também afeta o mercado de trabalho.
Internet das coisas (objetos interconectados que geram benefícios para o cotidiano), big data (coleta e análise de muitos dados), algoritmos, inteligência artificial e robótica ajudam na substituição da mão de obra humana nos setores mais variados, aponta Rifkin.
A perspectiva levantada por ele é de centenas de milhões de pessoas sem emprego na primeira metade do século XXI. Mas a substituição de pessoas por máquinas não é exatamente motivo para pânico, de acordo com o autor.
Rifkin enxerga oportunidades para empreendedores sociais e empregos em organizações sem fins lucrativos.
Há outras chances em um meio conectado com a internet das coisas, que o autor considera a alma gêmea do modelo emergente de bens comuns.
Com auxílio de impressoras 3D, por exemplo, as pessoas passam a ser "prosumidores", ou seja, produtores e consumidores ao mesmo tempo –de uma simples caneta a um móvel.
Jeremy Rifkin assume ter uma posição ambígua em relação ao capitalismo. Para ele, o sistema foi o mecanismo mais ágil e eficiente para organizar a economia no passado. Mas ele não lamenta o fim do regime.
SOCIEDADE COM CUSTO MARGINAL ZERO
AUTOR Jeremy Rifkin
EDITORA M.Books
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Obra prevê fim do capitalismo para dar lugar a economia colaborativa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU